Podíamos ser levados a pensar que, no século XXI, depois de todas as conquistas da liberdade, incluindo a sexual, estamos todos a amar mais. Aliado a isto, temos a tecnologia, que nunca em nenhum tempo como o nosso ligou de forma tão abrangente e rápida tantas pessoas. A pergunta que fica é: amamos mais? Estamos mais perto uns dos outros? No que toca às relações, se nunca como antes houve tanta igualdade de sexos, em que não é apenas o homem a tomar a iniciativa em conhecer a outra parte, estamos a relacionarmo-nos mais?

Como é que os jovens e os adultos hoje em dia procuram o amor? Como conhecem outra pessoa? Fazem mais sexo? Não necessariamente, tal como explica este artigo do Expresso, “num estudo publicado no “Archives of Sexual Behaviour”, em 2014, realizado por investigadores da Universidade de San Diego a 26.600 pessoas, os millennials (geração nascida a partir de 1995) fazem seis vezes menos sexo do que os nascidos na década de 30”. E o online dating, veio trazer mais relacionamentos? Com certeza, alargar hipóteses de conhecer pessoas, mas quem usa o Tinder não faz mais sexo, como explica este artigo.

Com que idade casamos? O que valorizamos numa relação? Recentemente estreou nos EUA um documentário muito interessante sobre o espírito dos tempos em relação a este tema: The Dating Project. Uma das constatações com que parte o filme é de que mudou a forma como as pessoas encaram as relações e parece que perderam as competências para o dating. Cinco solteiros falam da sua experiência, num país em que 50% das pessoas são solteiras e impera a “hook up culture” (numa aproximada tradução, “cultura do engate”) nas Universidades e não só. Quem são estes solteiros? Dois universitários, duas mulheres e um homem adultos, uma delas produtora de TV e um ator.

Na universidade que aqueles dois solteiros frequentam – Boston College – a opinião parece ser unânime: a forma romântica com que as pessoas se relacionam é muito baseada em sexo e não se encontram relações duradouras ou sequer uma cultura de namorar em que se convida alguém ou se denuncia, nem que seja um pouco, um interesse por outra pessoa. O que os protagonistas do filme confessam é que se evita muito o tema, a vergonha impera e a simplicidade parece que se perdeu. Muitos deles queixam-se que é difícil encontrar uma pessoa que queira uma relação, muito menos uma a longo prazo. Muitos solteiros ficam involuntária e indefinidamente assim. Basta pensarmos que em Portugal o cenário não é muito diferente. A Pordata diz-nos que quase 50% dos Portugueses são solteiros e 20% dos agregados domésticos familiares privados são de apenas uma pessoa.

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A Dra. Kerry Cronin, professora de filosofia desta Universidade, é de uma inteligência e bom senso raros neste mundo. Há muitos anos dá créditos aos seus alunos que cumpram o seguinte desafio: convidar uma pessoa em quem tenham um interesse romântico para um gelado ou café, mas com três regras:

Regra nº1: o encontro durar 60-90 minutos;

Regra nº2: o encontro não pode envolver álcool ou drogas, nem contacto físico para além de um cumprimento normal;

Regra nº3: quem convida, paga, mas não deve exceder os 10 dólares.

Esta professora diz de forma muito clara e lúcida que a questão não é voltar aos anos 50, mas retirar o que desse tempo nos ajudou e juntá-lo às conquistas do nosso. Eu diria que há várias: as mulheres darem mais contributos às relações e à sociedade, é uma; outra é o bom que os millenials podem trazer à sociedade, ao contrário do que muitos céticos acreditam. Os jovens querem comprometer-se e entregar-se por um amor, mas não como nos anos 50. É a geração mais bem preparada de sempre e, nas relações, como no trabalho, querem-nas com sentido e pondo em prática as suas capacidades e que não seja apenas compromisso por altruísmo.

Este conservadorismo “atualizado” e não congelado no tempo é muito importante, pois combate não só uma visão libertária, mas também outra castradora e pessimista. Estes “milenares” têm, por exemplo, mil interesses que não apenas trabalho e casa, e isso é muito bom numa relação a dois, pois enriquece-a. Então o que lhes falta? A disciplina e paciência para alcançarem o que os seus pais conseguiram.

Outro conselho muito inteligente desta professora é questionar esta ideia de que a primeira impressão (física) de uma pessoa é que interessa. É preciso dar o benefício, pois muito do que será a relação é encontrar no outro alguém que seja um companheiro, alguém que nos compreende e partilha um projeto de vida. Muito boas primeiras impressões não são mais do que insegurança ou carência e acabam na desilusão.

Hoje em dia, os solteiros sentem uma enorme dificuldade em encontrar um romance genuíno. Perdeu-se a arte do dating. Se antigamente o convite era mais formal, havia cartas e bailes, depois caímos no oposto de uma obsessão pelo contacto físico imediato. E, como resultado, temos pessoas a sofrer porque sentem que fazem o que não querem, mas não sabem como fazer diferente. Contudo, estas pessoas são as mesmas de sempre, com o desejo profundo de amar e de ser amadas, rir, desfrutar, partilhar uma vida e interesses. Por outro lado, muitas destas pessoas são filhos de pais divorciados, por outro, continuam a ser pressionados a casar, mesmo que muitas vezes não saibam como o conseguir.

António Pimenta de Brito criou a primeira Pós-Graduação em Portugal em Gestão de Organizações Religiosas, no ISEG-UL e é corresponsável pelo site internacional em língua portuguesa, fundado na Áustria, www.datescatolicos.org