Nestes dias vemos uma atenção à Igreja Católica em Portugal como talvez nunca havíamos visto. Portugal recebe o maior evento de sempre no seu território, no qual se estima que mais de um milhão de jovens de todo o mundo estejam a participar. Sem falar em todos os interessados que também acorrem aos eventos da Jornada e a todo o impacto indireto e atenção dada ao Papa Francisco e à Igreja católica mundial.

Depois do escândalo dos abusos, não há como negar que esta é a melhor parte da Igreja. Quem inventou este evento sabia o que estava a fazer. Não há ninguém com mais autenticidade, energia, entusiasmo, atualidade e alegria, que os jovens. São eles o futuro, e não só. Como muito se tem ouvido esta semana, não são apenas o futuro, mas o presente da Igreja. E bem.

Eu também experimentei isto com cerca de 15, 16 anos, em 1997, na JMJ de Paris. Percebo estes jovens, o seu brilho nos olhos. Só quem vive esta experiência, sabe. Esta é uma ocasião única de experimentar a universalidade, o encontro e a alegria. A alegria é uma virtude cristã. Nem sempre falada, fácil, nem sempre presente. Também na Igreja. A alegria (a verdadeira), porque fruto da paz, é talvez o tesouro mais precioso que todos procuramos. Uns procuram-na na religião católica, outros noutras religiões ou credos.

Não há como negar que há algo no ar e que atrai qualquer pessoa neste evento, mesmo que não seja católica. Pelo menos os que querem receber essa luz. E a alegria verdadeira não tem religião, nós sabemos quando existe e atrai e contagia. Foi isso que vivi, essa alegria pura, quando estive na JMJ de Paris. A alegria do encontro com milhares de jovens de todo o mundo, a alegria de descobrir o novo, a alegria da fraternidade, da paz e da esperança. Não há maior entusiasmo do que esperar viver coisas muito boas. Não há pior beco e dor que o desespero. O desespero soterra-nos na falta de passado, presente e futuro. A esperança, mesmo que sem passado, conta com o que está aqui e vai acontecer. E há certezas e razões na esperança. A fé não é só sentimento, com certeza aqui muito presente, mas também é razão. Há razões para os jovens esperarem tanto? Antes de mais, Jesus Cristo. Depois, um mensageiro. Um Papa que inspira, sem dúvida, todos estes jovens. Com a sua vida, autenticidade e palavras. Este Papa é apenas um mensageiro, mas é um mensageiro do mundo de hoje. Se se dizia que a Igreja é do passado, com muitos maus exemplos, estas jornadas e este Papa não o dizem e mostram-nos a melhor Igreja.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Católico” significa “universal”. Esta melhor Igreja não é apenas a Igreja dos abusos, das irresponsabilidades, das burocracias e hierarquias, das regras e mandamentos. É a Igreja da paz, do serviço, da fraternidade, da diversidade, do amor e da alegria. Tudo valores que apelam a qualquer coração humano. E, por vezes, os esquecemos com a nossa “vida mentirosa dos adultos”, como no livro de Elena Ferrante.

Este evento capta bem aquilo que o teólogo e padre checo Tomás Halík dizia sobre a fé. Não é tanto a cabeça que nos leva à fé, mas o coração: “Afirmar que o Cristianismo não tem sobretudo a ver com a fé em Deus, mas com o amor – amor a Deus (e ao próximo) – poderá constituir uma surpresa (…), mas fé, nesse contexto, não significa “acreditar na existência de Deus,” mas “acreditar no amor de Deus”. Uma pessoa não se torna cristã por acreditar que “Deus é”, mas por acreditar que Deus é amor” (Halík, 2015). A nossa vida, o encontro com Cristo, não argumentos e teologias. Com alguma circunstância da nossa vida. É preciso que a Igreja proporcione encontros (positivos) com Cristo e, assim, a partir daí, tudo é possível. As Jornadas podem ser o início (ou a continuação) de toda a caminhada cristã para muitos peregrinos. E que início. Que todos continuem estas jornadas nos seus países, é o que desejo. Obrigado, Papa Francisco. E obrigado a todos os participantes e organizadores pela alegria que trazem ao nosso país.

Referências:

Halík, T. (2015). Quero que tu sejas! Podemos acreditar no Deus do Amor? (trad. Maria do Rosário de Castro Pernas). Paulinas.