O governo publicou um inacreditável regulamento disciplinador do acesso ao concurso para guardas florestais. Excluídos ficam, pelo menos, os carecas, os gagos, os tatuados e os que padecem de várias cáries dentárias. É de espantar. Há poucas normas constitucionais que este regulamento não viole. Não as vou enumerar para não maçar os leitores, mas são muitas acreditem.

O responsável, o ministro Cabrita, lá apareceu, penhorado, a emendar a mão da asneira que patrocinou e que se prestou ao gozo público. Afinal parece que só os gagos vão continuar impedidos. Parece que desistiu dos carecas (ainda bem para mim e mais meio milhão de portugueses), dos tatuados e dos cariados pois que, pelo que a estes toca, percebeu certamente que teria de lhes mandar abrir a boca como se fazia aos cavalos nas feiras de gado à procura de vícios redibitórios.

O grave é o que isto tudo revela. O que é que se pretende? Um homem novo escorreito, bonito, higiénico e saudável promovido por uma ideologia baseada na boa aparência e no uso da escova de dentes? O totalitarismo sempre usou e abusou destas considerações. Não me peçam para dar exemplos.

O ministro Cabrita está no bom caminho. Proponho até que envie aos centros de recrutamento de guardas florestais para servir de modelo aos futuros candidatos uma fotografia do próprio de corpo inteiro e sorridente com aquele sorriso, parafraseando Mário Cesariny, de quem sabe e gosta de ter muitos e brancos dentes à mostra. Ficamos todos a ganhar.

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