É importante falar-se sobre a vida em família como a primeira escola de aprendizagem das emoções e dos sentimentos. É nas relações familiares, relações de intimidade que as crianças e adolescentes aprendem a gerir os seus sentimentos, e a compreender a reação dos outros aos seus sentimentos. A vida em família é um momento fundamental de experimentação de reações a situações, que envolvem diversas emoções e sentimentos. As crianças vivem situações que as fazem sentir tristes, alegres, zangadas, culpadas, sozinhas, preocupadas, surpresas, nervosas, invejosas, preguiçosas, aborrecidas, conforme as diferentes realidades e situações que vão vivenciando.

Muitas vezes, o espaço necessário para falar e exprimir emoções e sentimentos é ocupado por um dia a dia sem tempo, uma rotina agitada, para os filhos e para os pais. Por vezes, as crianças têm a sensação de que as coisas simplesmente se sucedem, mal vivem uma situação surge logo outra. Outras vezes, sentem-se muito confusas sobre quais são os seus sentimentos e não partilham momentos que poderiam ser significativos. Por isso é bom encontrar um tempo e um espaço da vida em família para partilhar e aprender a gerir as emoções.

Da mesma forma que se desenvolvem outras competências (por exemplo, ler, escrever, contar, desenhar, …) é importante ensinar as crianças a gerir as suas emoções e sentimentos, porque traz benefícios para si e para a sua relação com os outros. Deve-se começar a aprender a lidar com as emoções e sentimentos desde muito cedo, na família, fomentando o hábito das crianças falarem sobre o que sentem, no ambiente íntimo e seguro que é a sua família.

Nomear sentimentos é importante para as crianças lidarem com as suas emoções. Os pais devem promover nos filhos a competência de expressar os seus sentimentos. É também importante desenvolver a capacidade das crianças para reconhecerem os seus próprios sentimentos, como por exemplo, se está triste, feliz, zangada, e de tentar compreender o que está na sua origem, o que causa a  sua tristeza, a sua felicidade, a sua zanga, e a sua  capacidade para identificar as emoções nos outros (por exemplo, o que faz o pai ficar triste, o que faz a mãe ficar zangada), tendo por base os comportamentos que observam e os relatos das emoções que escutam (por exemplo, as expressões faciais e a explicação das mesmas).  Por vezes, não é fácil as crianças falarem sobre os seus sentimentos com outras pessoas, porque não sabem explicar ou exprimir o que estão a sentir. Procurar que as crianças partilhem os seus sentimentos com outros que sejam mais próximos afetivamente, pode ajudá-las a compreendê-los melhor, seja quando os seus sentimentos são bons, seja quando são menos bons.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

É possível exercitar a expressão das emoções e das suas causas. Esta capacidade pode desenvolver-se pedindo, por exemplo, para cada membro da família para escrever quais são as três coisas que o faz ficar triste e escrever o que acha que faz os outros ficarem tristes.

A aprendizagem da gestão das emoções e dos sentimentos, pode realizar-se também através da forma como os pais lidam com os seus próprios sentimentos ou da relação que mantêm entre si, como casal. Quando as famílias vivem num ambiente em que se reprime a expressão das emoções, com é o caso em que pais punem ou ignoram as suas manifestações, os filhos aprendem erradamente a usar dissimulações para evitar situações em que se possam emocionar e vir a criar futuras dificuldades nos relacionamentos afetivos com os pais.  As crianças e jovens não devem ter receio de incomodar ou aborrecer os adultos por falarem com eles sobre os seus sentimentos. Quando os filhos falam dos seus sentimentos e preocupações com alguém que gosta deles, como a mãe ou o pai, sentem-se melhor. Quando partilham os seus sentimentos negativos, deixam de estar sozinhos a lidar com eles. É claro que os sentimentos não desaparecem magicamente só por se falarem sobre eles. Mas, pelo menos, dessa forma as crianças têm alguém com quem partilhar, o que as pode ajudar a encontrar uma solução para se sentirem melhor.

Da mesma forma, quando as crianças estão muito contentes com alguma coisa que lhes aconteceu, também é difícil que guardem esses sentimentos positivos só para si, sentindo-se mais felizes quando os partilham com alguém. Ser capaz de compreender, lidar e expressar o que se sente em família é essencial para a construção da personalidade e de um estilo de vida mais saudável. Aprender a gerir os sentimentos desde a infância, prepara as crianças para encarar as futuras crises e conflitos da adolescência e da vida adulta.

Todos as crianças têm sentimentos e emoções agradáveis e desagradáveis e podemos ensiná-las a falar sobre elas e a geri-las de forma saudável. Por exemplo, é normal sentirem-se zangadas, mas não é bom deixar que este sentimento controle o seu comportamento e que comecem a adotar ações agressivas.

A dificuldade das crianças em expressar os sentimentos por meio de palavras é mais comum do que pensamos. Ela pode ocorrer por diversos motivos, como, por exemplo, a timidez ou o medo de ser rejeitado ou ridicularizado. Por exemplo, o choro é uma forma muito importante de elaboração das emoções das crianças. Às vezes as crianças choram sem sequer saberem o motivo. Isto acontece quando ainda não é possível elaborar o sentimento que lhe dá origem, através do pensamento ou da fala e, por isso, chorar é a única solução possível de aliviar a tensão emocional. Expressões como “não chores!” ou “precisas de ser corajoso!” são muito comuns e usadas pelos adultos com intuito de aliviar o sofrimento e o descontentamento das crianças e mesmo de outros adultos, mas que inibem a exteriorização de um sentimento ou emoção que, ao contrário, deve ser partilhado.

Para melhorar a capacidade de gestão emocional das crianças, devemos fazer com que estejam dispostas a partilhar qualquer tipo de emoção, sem reprimir nenhuma. Se elas ignorarem ou reprimirem os seus sentimentos, estarão a desprezar informações importantes sobre a sua maneira de pensar e de se comportar. A expressão da raiva, da tristeza ou da irritação pelas crianças são respostas naturais que podem ter várias causas, como a incompreensão do que está a suceder ou até a frustração de não ter conseguido o que queriam, ou mesmo uma expressão de cansaço ou fome. O grande problema é que, ao reprimir uma emoção, esta não deixa de existir. Por exemplo, se a criança não chorar, o seu corpo vai procurar uma nova forma de expressar aquilo que está a sentir.  Muitas vezes, a emoção que não se expressou através das lágrimas, pode manifestar-se através de uma dor de garganta, uma dor de estômago e outras tantas somatizações possíveis, mais complexas e dolorosas. A gestão das emoções aprende-se e a vida familiar é um espaço seguro para sua aprendizagem.