As pessoas encantam-nos! Sejam boas ou más, complicadas ou descomplicadas, altas, baixas, gordas ou magras, o comportamento humano enfeitiça-nos. Não é verdade? O fascínio pode partir por admiração, mas também por repudiação. Todavia as mulheres… as mulheres emancipadas e independentes, que sabem o que almejam e sobretudo o que não desejam, são as que mais nos fascinam, sejamos homens ou mulheres. As que são “proprietárias” de si e que não se deixam selecionar ou ser “orientadas”.  São essas mulheres que marcaram e marcam a história do Mundo e que ainda hoje nos inspiram. A minha mãe é uma dessas mulheres. A sua inteligência foi sempre a sua melhor arma de objeção ao sexismo que a rodeava… Umas assinaladas pela História, outras incógnitas, mas todos os dias, são estas mulheres que se destacam na vida e no quotidiano com quem se cruzam. São as que não se calam, só porque as remetem ao silêncio, as que pensam, questionam, mesmo que não consentido e não existem para servir os seus parceiros, mas sim pelos propósitos de toda uma Humanidade.

A Associação dos Profissionais Técnicos Superiores de Educação Social quer deixar um enorme reconhecimento e gratidão a algumas das mulheres da nossa História, que fizeram do lugar da mulher um lugar sem géneros, raças ou religiões ou que morreram vitimas de uma sociedade sexista: Rosa Luxembugo (alemã), Rosa Parks (EUA), Angela Davis (EUA), Valentina Tereshkova(russa), Berta Von Sutter (húngara), Malala Yusafzai (paquistanesa), Marie Currie (polaca), Frida Kahlo (mexicana), Rainha Santa Isabel (portuguesa), Maria II (portuguesa), Adelaide Cabete (portuguesa), Carolina Beatriz Ângelo (portuguesa, a primeira a exercer o seu direito de voto em Portugal), Florbela Espanca (portuguesa), Amália Rodrigues (portuguesa) ou Maria de Lourdes Pintasilgo (primeira-ministra e única, até então, na História de Portugal) e à Daniela Espírito Santo, portuguesa, vítima de maus-tratos, ignorada sete vezes pela policia britânica. No dia em que morreu, Daniela ligou para a polícia duas vezes, estava a ser estrangulada pelo companheiro Paulo Jesus em casa de ambos, em Inglaterra… e tantas outras, tantas outras… um bem-haja a todas estas mulheres e à sua coragem!

Uns apelidam-nas de feministas, outros de indomáveis, irreverentes, rebeldes ou até mesmo recalcadas, mas nós por cá vemo-las como pelejadoras ou uma espécie de justiceiras sociais…

A Associação dos Profissionais Técnicos Superiores de Educação Social (APTSES) lutará eternamente pelos direitos humanos, pelos direitos das minorias e dos menos protegidos, sejam homens ou mulheres… desde o Manuel, ao Gonçalo, à Daniela ou à Patrícia, daremos voz a quem não a tem ou a quem nunca a teve. Mas, o que também não podemos mesmo renunciar-nos é ao silêncio de um sexismo alojado e que se move, subtilmente por entre todos os espaços sociais, profissionais e familiares e que termina em atos bárbaros praticados por pessoas sobre pessoas, que matam e fazem sofrer, mães, pais, filhos e famílias inteiras ao longo de gerações. Por todas as Mulheres que ainda não têm ou não tiveram a oportunidade, a audácia, a coragem ou determinação de se afirmarem, nós somos orgulhosamente mulheres e estamos aqui para apoiar-vos!

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Sim, somos feministas, numa sociedade sexista, porque não? Absolutamente e radicalmente feministas, pelo menos enquanto houver sexismo. Não se confunda sexismo com cavalheirismo (na sua qualidade de cortesia), com afetividade, respeito, cuidado ou afeição. O sexismo mata e mata sobretudo em contextos de intimidade. A APTSES quer apelar à máxima atenção política para este flagelo! O sexismo leva ao machismo que desqualifica a mulher perante o homem e é a principal causa do feminicídio, porque perpetua a crença de que, numa relação, o companheiro é o “dono” da companheira.

Segundo uma notícia do Observador, datada a 2 de março de 2021, só no ano passado a violência doméstica causou 32 mortes. O machismo é uma doença social, comportamental e cultural. É um comportamento expresso por opiniões e atitudes a que um indivíduo recorre para fazer validar a recusa de igualdade de direitos e deveres entre os géneros sexuais, favorecendo e enaltecendo o sexo masculino sobre o feminino. O machismo faz parte dos homens inseguros, instáveis, com a necessidade de se sentirem viris e autossuficientes.

Na APTSES acreditamos que estes tipos de comportamentos podem ser adquiridos e desenvolvidos no seio familiar ou entre pares, mas também pelo prazer de exercer opressão, sentimento de poder e de domínio sobre o outro, onde através da sensação de autoridade e supremacia procuram aumentar a sua autoestima e o seu autoconceito. Em Educação, Paulo Freire denomina-o como a teoria ou a pedagogia da opressão. A opressão pode ser exercida por manipulação, por agressividade, violência psicológica ou física, assédio sexual, assédio moral, destruição de autoestima e do autoconceito de mulheres que confiam, se entregam a um amor idealizado, que amam e sonham ser felizes e completas. Não sonham viver em estados de tirania e violência. Talvez, se não fossemos educadas para aceitar a soberania do género masculino em vários círculos sociais das nossas vidas, tantas de nós não olhássemos de modo tão condescendente para a repressão, violência física e psicológica, para a sujeição, o controlo ou o sentimento de posse e de jugo sobre o feminino. Talvez a Daniela Espírito Santo ainda estivesse viva.

E as mulheres combatem ou anuem ao sexismo? Sentimo-las à nossa volta. Mulheres-mães, que por entre sucessivas gerações incutem às filhas o papel de servidoras, submissas, prestadoras de “serviços”, domadas, sem capacidade de decisão ou opinião. E isso vê-se nos pequenos pormenores, atitudes e comportamentos do nosso quotidiano. Ainda hoje, ouvem-se advertências femininas: “Ouve o que teu pai diz!; faz o que pai manda!; o teu pai é que sabe!; enquanto aqui viveres respeitas as regras do pai!, pergunta ao pai…” Ser-vos-á familiar, não? Observámo-las reservadas à volta da mesa, enquanto o membro patriarcal dita as regras familiares, sem a anuência da mãe e onde a mesma não concordando, se remete ao silêncio. Vemo-las silenciadas em conversas onde é-lhes vedado o acesso a opinar sobre determinados assuntos, os reservados aos homens, e vemo-las privadas de círculos onde só os homens podem “entrar”, porque eles, sim, têm esse direito. As mulheres têm outros: o de ficar em casa a tomar conta dos filhos, que ambos quiserem e procriaram, de assumir o papel de mulheres cuidadoras, sem sonhos ou carreiras… e vemo-las, com muita inquietação a submeterem-se, exclusivamente, ao seu papel de mães com a mesma naturalidade com que ouvem – “tens tanta sorte no companheiro/marido que eu sou, porque eu, até te ajudo, diz lá!”  E em concordância, nós ali ao lado, ouvimos – “(…) é verdade, tenho mesmo! És maravilhoso!”

Quanto aos homens, os que se sentem importunados e constrangidos com as “regras de comportamento social dos movimentos feministas”, temos imenso pesar, estão desatualizados e impregnados por princípios culturais de uma sociedade secular que influência famílias, usa e abusa, de forma ténue do poder cultural, opressor e assassino sobre as mulheres, muitas vezes vulgo objeto de controlo, submissão e de subserviência. São valores e princípios, deixados por gerações na minha casa, na tua, no sistema económico e político universal, nas religiões, nos media, no trabalho, na escola, sim, na escola, e nas próprias mulheres. Sustentado e apadrinhado como um valioso espólio de ascendência patriarcal, a figura masculina patenteia a liderança, a orientação, o saber, a inteligência e a capacidade de decisão na sociedade no seu todo e cada lar, ainda nos dias de hoje.

A APTSES quer ajudar a mudar este padrão. Cabe-nos a nós, à sociedade, associações e profissionais sociais mudarmos mentalidades através de uma educação pelo respeito, impregnada de valores, princípios, respeito pela igualdade de direitos e do pleno exercício de cidadania. Queremos ajudar a reforçar e dotar o opressor e a sociedade civil de novas aprendizagens e competências que lhes permitam reprogramar comportamentos e fazer novas aculturações. Queremos que as vítimas sejam cada vez menos e que todas as mulheres possam assumir-se nos seus diversos papéis sociais, livres, com os mesmos direitos e respeito.

Por isso, pedimos-te, que nós, tu e eu, juntos/as mudemos isso. Hoje, amanhã, na nossa, na tua casa, na minha, com os nossos e com os outros…. Pela Daniela e por outras tantas mulheres dizemos BASTA!

“O lugar da mulher é onde ela quiser” e com quem ela quiser.