O pior que pode acontecer a um partido não é perder uma eleição ou ficar aquém dos objetivos anunciados. Um mau resultado eleitoral é eventualmente reversível, permitindo aos estrategas partidários compreender as razões e promover as alterações necessárias na definição das prioridades políticas, na comunicação ou na escolha dos candidatos. O pior que pode acontecer a um partido é ficar em “terra de ninguém” e, em consequência, ser para o eleitorado um voto inútil, desperdiçado. A Iniciativa Liberal acantonou-se nesse vazio e rapidamente passou de partido desafiador a partido estagnado, pronto a definhar.

Acabar com o bipartidarismo e conquistar as novas gerações. Rui Rocha identificou assertivamente os dois principais desafios de um partido com as características da Iniciativa Liberal, potencialmente apelativo para os descontentes do “centrão” e sedutor para o eleitorado jovem. No entanto, foi o Chega, nas últimas eleições legislativas, que desencadeou o início do fim do bipartidarismo e absorveu o voto das camadas mais jovens, reformulando os dois blocos do nosso sistema político. De sondagens a rondar os 10% e promessas de atingir 15% dos votos no espaço de uma legislatura, a Iniciativa Liberal foi remetida para a periferia parlamentar, sem relevância prática, de onde dificilmente sairá.

Em política, como em tudo na vida, o resultado tende a refletir o percurso. A saída abrupta, prematura e politicamente motivada de Cotrim de Figueiredo da liderança, a instabilidade governativa causada nos Açores ou o saneamento político de Carla Castro ajudam a compreender o desaire. Paralelamente, a falta de seriedade em não esclarecer onde se corta na despesa pública para compensar a perda de receita fiscal, a incapacidade de oferecer soluções imediatas para a crise da habitação e a insistência em reduzir a política fiscal à tributação em sede de IRS evidenciam a fragilidade programática de um projeto que cedo deixou a predominância das ideias e se orientou para algumas pessoas.

Como poderá um partido que não respeita mandatos, desestabiliza governos e despreza alguns dos seus principais ativos por delito de opinião merecer a confiança dos eleitores? E de que forma um partido irresponsável na estimativa do impacto das suas propostas nas contas públicas, socialmente insensível na consumação de um direito constitucionalmente consagrado e desprovido de uma proposta integrada para a política fiscal poderá ser alternativa ao centro?

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A redefinição dos dois blocos parlamentares, promovida pelo Chega, é o maior game changer desde a fundação da “geringonça” . É previsível que, nos próximos ciclos políticos, os moderados do centro-direita, subscritores de diferentes correntes de pensamento, incluindo liberais, concentrem o seu voto no PSD para estancar o crescimento do radicalismo nacionalista. É, de resto, o que farei já nestas eleições, confiando o meu voto à Aliança Democrática, arrojadamente liderada por Sebastião Bugalho.

Filiei-me na Iniciativa Liberal poucos dias antes das Europeias de 2019. Fui dirigente nacional no mandato e meio de Cotrim de Figueiredo, fundador do núcleo e primeiro candidato à Câmara Municipal de Gondomar, conselheiro nacional. Acreditei convictamente no projeto, investi milhares de horas e dei a cara. É com a mesma certeza que agora me desvinculo, esclarecido quanto à sua incapacidade de posicionar as ideias liberais no centro de decisão política e resignado com a prevalência dos piores instintos da natureza humana na gestão do poder.

O liberalismo pode ter-se esgotado na Iniciativa Liberal, mas a sua difusão e implementação não se esgotará nunca, em nenhuma força política. Continuarei, como sempre, a defender uma ideia de sociedade em que a liberdade seja rainha e a dignidade humana um imperativo moral, sem o qual nada se legitima. Fá-lo-ei, por enquanto, no plano da academia e da cidadania ativa. Vou andar por aqui.