Exmo. Senhor

Dei conta, por estes dias, de uma estranha cerimónia que decorreu nos Paços do Concelho em que Va. Excia. distinguiu funcionários municipais por terem cumprido a sua função, quando no sábado 7 de Janeiro o Rio de Vila correu fora do seu leito, provocando uma emergência na Baixa. Na verdade, não foi apenas na Baixa, pois também na Freguesia do Bonfim aconteceu um desastre semelhante e de contornos ainda mais perigosos, mas neste caso sem o bode-expiatório de uma obra da Metro que a autarquia pudesse culpar.

Agradecer a funcionários públicos por cumprirem com zelo as funções para as quais foram contratados pode ser redundante, mas não se pode dizer que esteja mal. Mesmo que na sua maioria fossem funcionários afetos a serviços de polícia, proteção civil e limpeza e, por isso, merecedores dos respetivos subsídios de turno e horas extraordinárias. E mesmo que, felizmente, não tenham sido necessários atos especialmente heroicos que motivassem, em 48 horas, tão apressada e rara distinção.

Mas, agradecer, não se pode nunca dizer que esteja mal. Mas fazê-lo quando ainda todos assistíamos a reportagens sobre casas trespassadas pela água, com moradores a queixarem-se de terem sido abandonados pelo Município, que não os ajudou e nem sequer os confortou, já é muito duvidoso. Onde estava o presidente da Câmara, que não pudesse ao menos gravar uma mensagem, dar uma pequena entrevista, fazer uma curta declaração? Pode haver boas razões para que no pior dia para a cidade em nove anos dos seus três mandatos não tenha sido o senhor capaz, ao menos, de sacar do seu omnipresente telemóvel. Mas se existem, então que nos informe sobre onde estava e o que o impediu de cumprir aquilo para que está mandatado, tal e qual foi exigido ao seu congénere Carlos Moedas, quando semanas antes as enxurradas atingiram Lisboa.

Ver pessoas com casas destruídas, comerciantes com negócios arruinados e perceber que, além do presidente da Junta do Bonfim e da sempre presente vereadora da CDU (sem pelouros e sem poder), ninguém do Município a eles se dirigiu, é um sinal de desprezo preocupante que contrasta com a pressa em criar, no quentinho dos Paços do Concelho, um número mediático.

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Eu bem entendo o que pretendeu o senhor presidente ou quem o envolve neste primário “spin” que há dias apelidei de “palha para burros”. Quer infantilizar o eleitorado, como fez na última campanha eleitoral, achando que, fora da bolha dos salamaleques municipais, a cidade continua tão reverentemente silenciosa como os súbditos que o acompanham nestes desfiles decadentes próprios do poder prolongado e fim de festa. Sim, porque entre quem o rodeia há quem veja, mas é incapaz de lhe dizer que o rei vai nu.

Na verdade, o que o senhor presidente quis não foi agradecer a ninguém, mas apenas autoelogiar-se e, com isso, fingir que a Câmara esteve bem e que o senhor esteve lá. Ainda assim, mesmo que ambos saibamos que tudo não passou de um pouco convincente número para disfarçar erros da política municipal que potenciaram o desastre que aconteceu no sábado, agradecer aos trabalhadores, continua a não estar mal.

O que está mal é não reconhecer, não distinguir, não valorizar. O que está mal é não agradecer, quando é de agradecer, de reconhecer, de distinguir, de considerar. E é por isso que lhe escrevo. Não pelos que distinguiu agora, mas pelos que deixou sem agradecimento e consideração e mesmo sem qualquer respeito, agora e no passado. Agora, por na sua ridícula guerra de passa-culpas, ter deixado de fora os muitos trabalhadores da Metro do Porto, que tanto como os municipais, são empenhados e competentes e também dedicaram a repor a normalidade da cidade, da obra e do desafio que é construir um sistema destes na nossa cidade. Mas também por todos aqueles que, tendo feito tanto ou muito mais, foram por si ignorados e esquecidos no passado, nomeadamente durante a pandemia.

Mas eu avivo-lhe a memória, recuando aos tempos em que na Câmara do Porto trabalhávamos para resolver problemas na cidade e não para abrilhantar, nos Paços do Concelho, botões de punho durante cerimónias extemporâneas e deprimentes que aliviem a sua má consciência.

No início de 2020, eclodiu uma pandemia que durante pelo menos dois anos nos transformou a vida a todos e incomodou a governação de Va. Excia. Nessa altura, era eu chefe do seu gabinete e foi preciso que muita gente realizasse atos nem sempre espetaculares, mas aí sim, heroicos. Não num sábado ou num domingo de intempérie, mas durante muitos meses de verdadeira tempestade, quando a incerteza era total e a coragem era necessária. Refiro-me a agentes da Polícia Municipal; a profissionais dos Bombeiros Sapadores e voluntários das corporações humanitárias da cidade; a funcionários da recolha de resíduos e da limpeza urbana; a motoristas dos transportes públicos; a médicos; a enfermeiros; a auxiliares; a jornalistas… e a tantos outros, que dentro e fora da Câmara nunca pararam, enfrentando o medo e desconhecido.

Foi graças a esses funcionários municipais, privados, púbicos (não interessa), que foi possível montarmos um hospital de campanha; que conseguimos ajudar os estabelecimentos de saúde públicos a acudir às primeiras vagas de doentes; que estivemos desde a primeira hora ao lado das dezenas de lares da cidade, que albergavam milhares de idosos, alvos preferenciais do vírus que hoje nos parece muito mais menos perigoso do que na realidade foi. E ajudamos privados a montar o primeiro centro de testagem drive-thru do país, aliviando os hospitais de uma imensa pressão e facilitando a vida a milhares de cidadãos. Foi também graças a muitas pessoas, com nomes, rostos e muita dignidade, que ajudamos a montar o primeiro espaço para separação de utentes infetados e não infetados na Pousada da Juventude. E mais e mais e mais…

E, assim, graças a eles e também a nós, foi possível preservar durante muitas vidas durante muito tempo no Porto, dar conforto e segurança a pessoas assustadas e, ainda, ajudar outros municípios e outros países, como aconteceu com Cabo Verde.

Sei de autarcas de freguesia que, no Porto, andaram silenciosamente e no anonimato a que as máscaras nos votaram, de porta em porta, diariamente, distribuindo refeições a idosos abandonados, assustados, com fome e sem cuidados. Sei de gente boa e de empresas que se dispuseram a ajudar com dinheiro, com trabalho, com viaturas, com máquinas, com produtos… E sei que nós, a Câmara Municipal – o senhor presidente; alguns vereadores; dois ou três diretores municipais; eu; muitos funcionários – fomos o motor de tudo isso. Umas vezes fazendo mal perante o desconhecido, mas quase sempre fazendo bem a coisa certa. Prevenindo, educando, reivindicando, criando condições, dando instalações, meios e esperança ao nosso povo. E também com comunicação, apelando à inteligência e sensatez das pessoas e não apostando na sua estupidez, impingindo-lhes mentirinhas, como agora se faz. E com tudo isso salvou vidas.

Foi um dos processos mais bonitos em que participei em meio século de vida e foi um período em que me senti particularmente útil a uma sociedade que, por momentos, nos deixava todos muito mais iguais. Se quer que lhe seja sincero, acredito que, se houver intervenções divinas, então eu estava lá para aquilo. Até porque todo o resto do seu projeto político me parece hoje uma deceção. E foram tempos que sublinharam o que de melhor tem o espírito solidário, humanista e altruísta da cidade do Porto.

Estou a pensar em muita gente e muitas empresas, que percebendo o nosso trabalho de coordenação e liderança, de imediato colocaram à disposição da Câmara os seus meios, financiamento, know-how e prestígio, não se preocupando com as habituais disputas, concorrências, dissensos e pequenez. Recebi, de muitas delas, ajudas como a da SuperBock quando se dispôs a pagar dezenas de milhares de euros pelo sistema de oxigénio do nosso hospital de campanha. Ou a do concessionário do Pavilhão Rosa Mota, quando nos disponibilizou, sem contrapartida, o seu espaço para que o transformássemos em lugar de retaguarda aos hospitais da cidade. Ou a do nosso amigo Kali, que nos ajudou na missão quase impossível de montar e pôr a funcionar o projeto em poucos dias. Ou a do Professor António Araújo, que o geriu, angariando, através de voluntariado, médicos, enfermeiros, auxiliares. Estou a pensar numa ex-secretária de estado da saúde, que anonima e sem fazer uma selfie, se apresentou no hospital de campanha para servir voluntariamente.

Ocorre-me recordar também os Pincéis Pardal, empresa de Campanhã que nos ofereceu dezenas de milhares de euros. A RTP, com quem organizámos uma campanha de angariação de fundos que reverteu para os nossos programas de assistência e cobriu todos os consumíveis e custos da operação. Do empresário Jorge Mendes que, através da Fundação Fosun e da Gestifute, nos fez chegar desde Shangai, cinco mil kits de teste PCR, que valiam qualquer coisa como meio milhão de euros e quando o Mundo penava por eles. Lembro-me de milhões de toucas, botas, luvas, fatos hospitalares, refeições, quartos de hotel, tudo oferecido por empresários, sem mais, sem mendigar apoios, sem pedir atenção futura ou visibilidade. Muitas vezes, apesar de verem os seus negócios a cair no abismo.

E também recordo muitos empresários chineses que nos enviaram ajuda material desde Shangai, Shenzhen, Macau, Hong Kong, cidades amigas do Porto e onde tínhamos estado pouco antes. Lembro-me do extraordinário Embaixador de Portugal em Pequim me ligar a informar que enviaria, em nome de investidores locais, preciosos ventiladores, para que os fizéssemos chegar às UCI´s dos nossos hospitais. Lembro-me bem do esforço que os Centros de Saúde do Porto fizeram para ajudar nos nossos processos e iniciativas e da decisiva influência de pessoas como o Professor Fernando Araújo ou o Dr. Manuel de Melo (ambos administradores do Hospital de São João) para dar corpo a um então inédito programa de testagem massiva dos lares na cidade. Lembro-me do incansável e sempre disponível Dr. Eurico Castro Alves e da restante equipa do Hospital de Santo António, empenhados na partilha de conhecimento, de esforço e de meios. E do Professor Altamiro da Costa Pereira, da Faculdade de Medicina, dos cientistas do i3S e de outros institutos, que nos deram o conhecimento científico e os estudos que a DGS não sabia fazer. Lembro-me porque falávamos diariamente cinco, seis, dez vezes uns com os outros, numa inédita partilha entre Município, hospitais e instituições científicas da cidade…

Lembro-me de contributos como os da Missão Continente; da Galp; de empresários têxteis, alimentares, de equipamentos… Lembro-me do Exército nos ceder camas. Lembro-me dos cuidados prestados pela SAOM. E recordo, com especial carinho, um pequeno empresário de Ermesinde que, quando não havia máscaras para usar em blocos operatórios de hospitais do Porto, produziu improvisadamente, mas coordenado com a Câmara do Porto, materiais de proteção individual que nunca na vida tinha visto e muito menos fabricado. Mas que chegaram aos motoristas dos nossos autocarros, aos polícias que garantiam a normalidade, aos bombeiros que nos socorriam e até a blocos operatórios.

Lembro-me de um senhor que, sabendo das nossas relações com a China e que tínhamos conseguido comprar ventiladores em Shenzhen logo em abril (ainda o Estado andava a tentar encomendá-los a um preço três vezes superior), ofereceu os seus meios e conhecimentos de transporte internacional para pô-los em Portugal (e pôs rapidamente, apesar dos aviões em terra, dos navios à deriva e dos comboios escassos). Foi graças a ele e aos nossos amigos em Macau, onde destaco o ex-Secretário Alexis Tam e o seu assessor, Rafael Gama, bem como a um diligente funcionário da contratação da Câmara do Porto, que se ultrapassaram montanhas, às vezes burocráticas e políticas para que conseguimos fazer o impossível e equipar os exemplares hospitais do Porto com equipamentos necessários.

Lembro-me das secretárias do nosso gabinete, que nunca pararam, que nunca me abandonaram e que nunca me deixaram ficar mal. E que sempre agradeceram o que estávamos a fazer. E eu também lhes agradeci pelo que elas estavam a fazer. Lembro-me da competência dos meus colegas da comunicação municipal, do Pedro Lobão ao Jorge Rodrigues, sempre despertos, sempre connosco. Lembro-me do Miguel Nogueira, a quem não escapou uma semiótica ou um olhar captado pela sua câmara, que era um instrumento de motivação de uma cidade. E lembro-me dele me agradecer por o deixar fazer o que estava certo, apesar dos riscos. Porque não está mal, agradecer, mesmo quando o que fazemos é apenas o que sentimos ser a nossa missão.

Lembro-me de tudo e de todos. Embora não saiba o nome de todos. Não os consigo nomear nesta carta. Mas sei que nenhum fez alguma coisa para ser recordado, galardoado, aplaudido, distinguido ou fotografado, apesar de lhes ter garantido a todos que o faríamos. O que fizeram e o que fizemos foi por respeito à vida, conceito maltratado nos dias de hoje. E por confiarem em nós. Na nossa missão e competência. Porque não o fazíamos para a fotografia.

Também me lembro de termos enviado a todos os inquilinos municipais máscaras cirúrgicas para que se protegessem, as primeiras que muitas famílias desprotegidas viram no Porto… mas de decidirmos que não nos gabaríamos disso em comunicados ou cerimónias autoelogiosas. Porque a comunicação necessária era a que nos levasse a bom porto e a que protegesse e sossegasse as pessoas, mostrando que estávamos lá, para as ajudar. Não a panfletária. Porque não se usam pessoas, senhor presidente, sobretudo não se devem usar os mais frágeis em nome de objetivos políticos ou para aliviar a má consciência de quem esteve ausente.

Mas essa lista de pequenos e grandes heróis anónimos, que não cabe nesta carta, existe no seu gabinete. Porque eu lá a deixei quando saí em junho de 2020. Os nomes de todas essas pessoas, empresas, famosos e anónimos, grandes e pequenos contribuidores, grandes ou pequenos heróis, ficaram lá todos quando decidi apresentar-lhe a minha demissão – e posso dizer hoje – em claro desacordo com as políticas que se começaram então a desenhar nos bastidores do nosso “independente” grupo e nas quais não me revejo, como lhe deixei a si e à direção do seu movimento, muito claro e por escrito.

Na lista dos doadores da conta de emergência municipal, que com a ajuda da RTP rapidamente alcançou os 400 mil euros de donativos e ajudou a construir um plano de luta contra o COVID, também está lá o meu modesto e anónimo contributo financeiro, que foi parte dos ordenados cá de casa no mês de março de 2020, dinheiro que assim retornou ao cofre municipal. Perdoe-me se estou errado, mas não me lembro de ter visto lá o seu nome e contributo financeiro.

A mim e aos outros que, como eu contribuíram na luta contra a COVID no Porto, com dinheiro, género, apoio ou trabalho, nunca ninguém agradeceu. E é por isso que lhe escrevo. É que serve tudo isto para recordar Va. Excia. do que então me prometeu relativamente a virmos a agradecer a todas estas pessoas, empresas e instituições e que, em todos os contactos que ia fazendo em seu nome, sempre referia. Que “a Câmara Municipal e o Senhor Presidente saberiam, mais tarde, agradecer e reconhecer publicamente o gesto”. E assim, também a seu pedido, mandei desenhar um galardão municipal destinado a todos os que contribuíram para a luta contra a COVID. À pequena obra de arte deu-lhe o autor, o Professor Eduardo Aires, o título de: “Sangue, Suor e Lágrimas”, depois de a ter produzido “pro-bono”, oferecendo também ele os seus serviços ao Município.

A poucos dias da minha demissão, foi aprovada por unanimidade em reunião de Executivo uma proposta assinada por Va. Excia. para que em 2020 não se distribuíssem as tradicionais medalhas municipais, mas que no seu lugar fosse realizada uma cerimónia de agradecimento a todos os funcionários, agentes, associações, empresas, administradores, doadores, anónimos e voluntários que, de alguma forma, tivessem ajudado a que o desafio das nossas vidas tivesse sido ultrapassado na primeira e desafiante vaga da pandemia, e em que o pequeno galardão fosse oferecido a todos, como sinal de reconhecimento e respeito. A notícia da proposta de Va. Excia. pode ainda ser lida no portal do Município.

Contudo, após a minha saída, esse agradecimento, distinção e honra e a própria deliberação de Câmara por si proposta, foi abandonado sem explicação. E nunca mais Va. Excia. se lembrou ou quis lembrar do assunto e de toda a esta gente que atrás nomeio e de muitos mais que não nomeio. É que foi por essa altura, que a luta contra a doença, a proteção dos mais desfavorecidos e frágeis, o apoio aos comerciantes e empresários foram substituídos pelo brilho da “Champions” no Porto, pela hipermediatização de tudo o que mexia em seu torno, por uma boa dose de negacionismo e pelos acordos políticos de bastidores que eu sempre recusei, como independente, mas a que o senhor presidente se rendeu. Ou seja, o serviço público foi sendo substituído por aquilo a que num estilo mais camiliano poderíamos apelidar de “bazófia”. Sem memória, sem reconhecimento e sem consideração por ninguém, que não fosse a que sempre nutriu pelos seus maiores inimigos, a quem sempre faz os mais impensáveis favores.

Senhor Presidente, permita-me que cometa uma inconfidência. Quando em 2013 ganhámos juntos uma eleição impossível, que espantou o país e o levou a si (com a minha ajuda) à primeira página do New York Times, logo após o seu discurso de vitória na noite eleitoral, comemorávamos em casa de um ex-amigo. Vi-o nostálgico perante a responsabilidade, numa atitude humilde e preocupada, mas sem perder o porte que hoje já não lhe encontro. Conversámos um pouco, sem sabermos ainda se eu faria ou não parte do seu gabinete na Câmara ou que viria a ser, em 2017, o diretor de campanha na sua única maioria absoluta. E pedi-lhe, em segredo, que nunca perdesse a humildade que então lhe vi. Respondeu-me Va. Excia. que o esbofeteasse, caso tal um dia acontecesse.

Em 2020, antes da minha demissão, substituí a bofetada que me pediu em 2013, por vários alertas, por vezes escritos, e que deve guardar consigo na mesma gaveta onde estão os agradecimentos nunca prestados ou o reconhecimento que me prometeu e nunca fez. Também lá deve estar a minha anterior demissão do seu Movimento, de que ambos fomos fundadores, juntamente com o Professor Valente de Oliveira, com o Dr. Miguel Pereira Leite e com o Dr. Francisco Ramos (todos eles afastados atualmente).

Nem esses gritos nem o mau resultado eleitoral que o levou a perder candidamente a maioria absoluta em 2021, o retiraram da estranha bolha onde voluntariamente se prendeu, sem querer a ajuda de nenhum dos poucos amigos que escorraçou, sobretudo daqueles que o ajudaram a chegar onde chegou, e em que me incluía. Repito, por isso, nesta carta, a bofetada que me pediu e prometo ser a última que lhe darei. Porque até os amigos se cansam da decadente imagem de cerimónias como a que, no início desta carta, refiro.

E peço-lhe um favor. Use os seus adversários políticos como entender, nem que seja comprando-os com lugares nas administrações de empresas municipais, cargos de direção, pelouros, promessas e outros “jeitos”, mas não instrumentalize os trabalhadores municipais perante as câmaras fotográficas como acaba de fazer na cerimónia desta semana. E não despreze quem depende de um emprego, tratando mal servidores públicos competentes, prometendo e não cumprindo ou despedindo gente que sempre lhe foi leal através dos jornais, umas vezes por mero delito de opinião outras por coisa nenhuma, mas sempre sem dar a cara. Em vez disso, cumprimente-os quando chegar de manhã ao seu gabinete ou por eles passar nos corredores municipais ou na rua, sorria-lhes quando eles lhe sorriem e agradeça-lhes quando eles lhe segurarem a porta. Porque não é agradecer que está mal.

Cumprimentos