Desde Março que sou Sueco!

Sou um pequeno agricultor, economista de formação e apesar de filho de médico, não percebo nada do assunto, nem tenho pretensões a tal. Um típico conservador do mundo rural!

Claro que passei e passo por grandes dificuldades, mas tenho conseguido honrar todos os meus compromissos, tenho conseguido que nada falte às minhas filhas, mas tenho séria dúvidas de que terei condições para avançar com a próxima campanha agrícola.

Rudolf Vinchow, o médico alemão considerado o “pai” da anatomia patológica, definiu uma epidemia como um fenómeno social que tem algumas questões médicas.

Os médicos dizem que não há economia sem saúde e eu acrescentarei que também não há saúde sem economia.

Como diz o povo, o pior cego é aquele que não quer ver e, passados oito meses, os nossos especialistas, temos um país cheio deles, ainda não se aperceberam (ou fingem que não sabem) que este vírus é imparável e que quase todos nós vamos ser infectados. Felizmente, a maioria nem sabe se esteve ou está infectada.

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Na minha humilde opinião, apenas temos a opção de saber viver com o vírus, deixar a população activa fazer a sua vida (recordo que morreram 100 pessoas com menos de 60 anos) e empenharmos todos os nossos recursos na protecção dos mais vulneráveis.

De uma forma geral, quem são os mais vulneráveis?

  • Os idosos, que temos e teremos que fazer tudo para que não sejam infectados. Saliento que, desde Março, não abraço, beijo e almoço com os meus pais que têm mais de 80 anos.
  • As crianças, que nunca deveriam ter deixado de frequentar as escolas. Mais do que um local de aprendizagem, é um local de convívio, de socialização, ou seja, de brincadeira!

No último jogo de futebol Portugal-Suécia, perguntei à minha filha mais nova, com sete anos, quem é que ela queria que ganhasse. A resposta foi clara e imediata: a Suécia, porque gostaria de viver lá. Porque lá, as escolas não fecharam.

Uma sociedade que não os protege não é digna!

Sou um adepto da estratégica da Agência de Saúde Pública Sueca, do epidemiologista chefe Andreas Tegnell e de um dos seus conselheiros Johan Gieseche. As pessoas inteligentes abordam as questões complexas de uma forma simples.

Na Suécia, as orientações foram definidas para uma maratona e, desde então, pouco ou nada foram alteradas. Foram simples, claras e baseadas no dever cívico e numa política de comunicação assente na verdade. Quando a situação piora, as autoridades apenas relembram à população as regras que devem ser cumpridas. Passo a enumerá-las:

  • Protejam-se;
  • Protejam essencialmente os mais vulneráveis, que foram aconselhados a manterem-se resguardados;
  • Distanciamento físico, que é mais importante do que o uso de máscara (o seu uso tende a substituir o distanciamento);
  • Promoção do teletrabalho;
  • Higiene, nomeadamente lavar as mãos, algo que aprendemos há 150 anos.

Tudo simples, fácil de compreender e amplamente aceite pela população, para que as mesmas fossem cumpridas por um longo período de tempo, retirando o mínimo de direitos e liberdades aos cidadãos.

A imunidade de grupo nunca foi o objectivo, mas, na minha opinião, ela será uma consequência. Sempre disseram que o número de mortes será semelhante em todos os países europeus e que as comparações devem ser realizadas, não agora, mas daqui a um ou dois anos.

No fundo, encararam o problema de frente, foram audazes e a “sorte protege os audazes”.

Claro que nem tudo correu bem. Os primeiros meses foram muito complicados. Muitos suecos regressaram em Janeiro, Fevereiro e Março das estâncias de esqui, de viagens de trabalho e o vírus rapidamente entrou nos lares e na casa dos mais idosos. Após esta fase, assumiram o erro e de imediato e decidiram realizar um inquérito para saber onde tinham falhado (recordo que esse inquérito estava planeado para o final da “história”) e agiram em conformidade para corrigir as falhas.

Os serviços de saúde suecos não descuraram as outras doenças, as escolas não foram encerradas para os alunos até aos 16 anos. Os infectados sem sintomas vão trabalhar e os alunos sem sintomas continuam a ir à escola. Em ambiente hospitalar e na maioria dos actos, os médicos não usam máscara. As pessoas não são perseguidas nem vigiadas pela polícia. Não desvalorizam a perigosidade do vírus, mas não deixam que ele domine as suas vidas!

Por defeito de formação, tendo a analisar as minhas decisões numa análise custo-benefício. Não desejo que ninguém morra, nem da Covid-19, nem de outras doenças, mas sei que morrem em Portugal cerca de 130 mil pessoas por ano. Este ano, e desde Março, a meados de Outubro tinham mais 8700 pessoas do que a média dos últimos cinco anos, dos quais apenas 2500 do vírus VIP. Na Suécia, o acréscimo de mortalidade vai em cerca de seis mil. A história ainda vai meio e já temos cerca de 2700 mortos a mais do que a Suécia.

Em Portugal, nunca nos disseram toda a verdade. Os meios de comunicação social apresentaram o vírus como algo que dizimaria toda a população. Assim, nem foi preciso decretar o confinamento, pois já estava tudo confinado e aterrorizado. Por cá:

  • As escolas fecharam. As crianças ficaram fechadas em casa a olhar para um ecrã de computador ou de um telemóvel. As consequências vão ser devastadoras!
  • Retiraram a liberdade das pessoas de decidiram que riscos elas estavam dispostas a correr.
  • Nem vale a pena enumerar a quantidade de actos médicos cancelados.
  • Os hospitais não tinham ventiladores. Agora já nos dizem que não há médicos nem enfermeiros. Talvez daqui a um mês tenhamos que ir para casa porque faltam lençóis. O que andaram a fazer durante oito meses?
  • Pediram todo o esforço à população como se isto fosse uma corrida de 100 metros. Como faço surf há já 32 anos, aprendi que não se deve remar contra a corrente porque quando ela passar já não teremos força nem ânimo para chegar a terra firme.

Os conteúdos informativos são próprios de ditaduras. Seguem alguns exemplos:

  • Pivôs da televisão a darem-nos conselhos paternalistas para ficarmos em casa quando eles ganham dezenas de milhares de euros, provavelmente têm contas bancárias recheadas e porventura encomendam as refeições pela internet onde o estafeta já podia circular.
  • Criticas ao pai do primeiro-ministro britânico quando disse que até poderia ir a um bar se achasse que o dono deste necessitasse que ele lá fosse.
  • O Dr. Diogo Cabrita, médico cirurgião no Hospital dos Covões afirmou: “Um infectado de coronavírus sem sintomas não é um doente” … “isto não é Medicina”. Que eu saiba, nunca mais apareceu na televisão.
  • A propósito dos dados estatísticos suecos, um jornalista disse que os Suecos “vivem na ignorância”.
  • Um outro pivô insinuou que a estratégia sueca se baseou em deixar morrer os velhos.
  • No final de uma entrevista com uma médica da ala Covid, a jornalista diz: pedia-lhe que falasse agora dos casos mais graves para também termos uma função mais pedagógica.
  • O Prof Dr. Manuel Antunes disse: “75% dos médicos estiveram num período de férias”. Não que eles o desejassem, mas porque as autoridades assim o decidiram. Nunca mais o vi no ecrã da minha casa.

Por cá, só os grandes especialistas têm voz:

  • Um famoso médico, pertencente ao gabinete de crise da Ordem dos Médicos, disse em Junho ou Julho que tinha sido enganado pela OMS, pois, afinal, os assintomáticos transmitem a doença. Fiquei indignado porque, como já o referi, eu não almoço com os meus pais desde Março. O mesmo especialista criticou os suecos porque a economia deles também entrara em recessão e não tinham conseguido atingir a imunidade de grupo. Aconselho-o a não se preocupar com eles.
  • Em Outubro, o bastonário da Ordem dos Médicos disse que anda há três ou quatro meses a alertar para a gravidade do cancelamento dos actos médicos não Covid. Deveria acrescentar um pedido de desculpas por não o ter feito desde o início.
  • Em finais de Setembro, um outro especialista afirmou que o seu estudo indicava que em Outubro as infecções diárias chegariam aos mil casos. Talvez fosse melhor contratar um matemático para não errar tanto.
  • A propósito da lei sobre o uso obrigatório de máscara, no dia 27 de Outubro, o director nacional da PSP afirmou, num tom ameaçador: “Esses cidadãos vão ter que cumprir as regras, queiram ou não queiram.”
  • O movimento cívico “Médicos pela Verdade” não pode expor as suas ideias. Penso que, no essencial, salientam o exagero da importância dada ao coronavírus em detrimento das outras doenças. Penso que também defendem o não uso generalizado de máscaras. Parece-me algo parecido com as recomendações suecas. Como pôde a Ordem dos Médicos instaurar um processo disciplinar a estes profissionais, quando eles defendem medidas parecidas com aquelas que foram adoptadas num dos países mais desenvolvidos do mundo?
  • No Dia Mundial da Saúde Mental, uma directora da pedopsiquiatria de um dos maiores hospitais do país aconselhou que as crianças não vissem as notícias algo exageradas dos noticiários. Eu alteraria algo exageradas para aterrorizadoras.

Realço que Andreas Tegnell afirmou, recentemente, que um milhão de mortos é um valor relativamente baixo. Eu acrescentaria que morrem todos os anos entre 400 a 500 mil crianças por malária e que todo este exagero nas restrições está a provocar a morte diária de milhares de crianças.

Como descendente de Goeses e conhecedor da realidade indiana, acrescentaria também que tenho a plena convicção que por lá morrerão menos de Covid-19 do que de acidentes rodoviários.

Não queria deixar de dar uma palavra de gratidão ao Dr. José Miguel Júdice, que consistentemente tem alertado para o clima de terror que nos tentam impor. Espero que não o consigam silenciar.

Ninguém tem o direito de confinar um pai que não tem dinheiro para alimentar os seus filhos e os Suecos não o fizeram!

Vós, dirigentes que nos governam, estais a criar uma situação explosiva. O sentido de raiva, de ódio, de revolta está a apoderar-se dos cidadãos. O mais provável é que uma conversa entre um funcionário público adepto do confinamento com um trabalhador do sector privado, com uma opinião contrária, termine à pancada! Os extremos crescem.

Assistimos em directo ao desmoronamento das nossas sociedades.

Para terminar, relembro a última aparição pública da Rainha Isabel II, sem máscara e cumprindo todas as regras básicas de distância físico (os cumprimentos não foram feitos com cotoveladas, mas com sorrisos).

Na minha insignificante opinião, Vossa Excelência e todos os outros dirigentes irão ficar no lado errado da História.

Mas, mais vale tarde do que nunca!

  • Substituam os dirigentes da saúde.
  • Enviem para os hospitais, todos esses médicos que nos atormentam.
  • Peçam conselhos aos sociólogos, aos economistas, aos psiquiatras e a muitos mais e, por fim, também aos outros médicos que pensam de uma forma diferente.
  • Requisitem todos os recursos de saúde, quer sejam públicos, sociais ou privados. Façam tendas de campanha, transformem hotéis vazios em hospitais…

E não percam tempo nem recursos em ameaças à população, não coloquem os polícias a perseguirem-nos, esqueçam os rastreios epidemiológicos (que nunca foram suficientemente eficazes) e não nos confinem.

Na linha da frente de toda esta história, não estão os médicos, não estão os agricultores, não estão os estafetas, não estão os funcionários dos hipermercados, não estão os …, mas sim os confinados sem recursos!

Adaptando as palavras de Bernard-Henri Lévy, no seu livro Este vírus que nos enlouquece:

“Esta é a razão da minha fúria.
E é ainda a razão pela qual é preciso resistir a esse vento de loucura que sopra pelo mundo!”

Essa loucura que a rainha Isabel II quis sinalizar.

Essa resistência que me obrigou a escrever esta carta.