Há uns tempos, num encontro familiar e de amigos, atiraram-me à cara que não teria grande legitimidade para analisar, de forma crítica, a geração que se seguiu à minha. Não importava que pretexto fosse, sob que aspecto fosse. Afirmavam, qual missionário católico em tempos de inquisição, que se o mundo está como está, a culpa é da sua geração e, como tal, muito minha também. Não estava à espera de ouvir aquilo pois desde que, uma vez, opinaram que o voto de um sexagenário não deveria ter tanto valor como o de um vintenário, não me sentia tão incomodado. É verdade. Engoli em seco. O coração acelerou, ia a responder com raiva. Contive-me. Não é o que eu sei fazer melhor mas, aos poucos, vou indo em direcção à calmaria, a melhorar, (embora a tampa ainda salte com relativa facilidade).

A propósito da Conferência dos Oceanos, ouvi o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, a pedir desculpas «em nome da minha geração» pelo estado em que se encontra o Planeta. Não sou propriamente da geração dele, mas estou lá colado. E a envolvência geracional daquele pedido de desculpas é patética porque errada: é errada pois é anacrónico explicar o mundo de antes com a envolvência da actualidade; patético porque confunde os sujeitos. Acredito que ele se sinta culpado, como todos os governantes da geração dele se deviam sentir.

A geração política que nos tem governado, se calhar, deve pedir desculpas. Agora eu, nós, we the people, vamos pedir desculpa por alma de quem, se não fizemos mais nada senão cumprir os desígnios por eles traçados? Nunca tive consciência de alguma ilicitude das que agora me apontam, arrogantemente e com altivez, com o dedo acusador, a quererem condenar-me e a exigirem que eu peça desculpas. Era o que mais faltava! A forma como apresentam o assunto até parece que nós, we the people, andámos cá a estragar, de propósito!, o Planeta, para que os nossos filhos o fossem encontrar como dizem que realmente está. As negociatas em torno do ambiente continuam. Longe da nossa vista. Os políticos mercadejam o carbono, trocam-no, vendem-no, enriquecem e tornam mais rica a gente mais rica. É à fartazana e… Desculpem, mas… minha culpa?

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