30% dos jovens nascidos em Portugal vivem fora do país. 70% têm menos de 30 anos. Mais de metade dos jovens entre os 25 e os 34 anos vive com os pais. E mais de metade dos jovens portugueses admite emigrar. Quase 10% não trabalha, não estuda, nem frequenta qualquer ação de formação. Os recursos que despendemos a formar os nossos jovens são usufruídos, em grande parte, pelos países que os recebem. E nem sequer a leve recuperação da taxa da natalidade nos leva a esperar que, no futuro, o equilíbrio entre aqueles que nascem e os que morrem seja conseguido. Somos um país que “convive” com a emigração (cerca de 20% da população portuguesa vive fora de Portugal, o que faz de nós o país da União Europeia com mais emigrantes em proporção da população residente..) E um país que usufrui da imigração.

Será esta “tendência” para ir à procura de desafios “fora de portas” exclusiva dos jovens portugueses? Será a conjuntura portuguesa que a determina e a acentua ou, apesar disso, ela será transversal aos jovens Millennials (nascidos após a década de 80, urbanos, que sempre conviveram com grandes avanços tecnológicos, com algum desafogo  material e com grande prevalência do virtual) e à geração Z (nascida depois de 1990, que, para além das características anteriores, viveram as crises de 2008 e a pandemia e se confrontam com a precariedade e os sentimentos de insegurança em relação à economia, ao ambiente, à política e ao futuro)? Será muito mais transversal à geração Z. E a isso não são estranhos os constrangimentos que viveu. Associados a ela, a realidade económica portuguesa torna-a “inadiável”. E cria condições para a emigração de milhares de jovens que vivem Portugal sem esperança de futuro.

A par de tudo isto, um tempo que se globaliza através do digital e da informação faz com que os jovens “comprem” o estrangeiro e sejam levados a aventurar-se para fora do seu país, indo atrás de experiências de vida, de mundo, de progresso, de educação e de cultura. O que se torna mais fácil quando os níveis de escolaridade média dos jovens é, hoje, mais alta e muito mais acessível às mudanças que entendem desejar para si. Portanto, para os mais jovens, crescer é, também, aventurarem-se para “fora de pé”. Em função disso, a mobilidade dos jovens, se bem que os números portugueses sejam alarmantes, não é um fenómeno restrito aos portugueses. Representa uma mobilidade generalizada de jovens à procura do futuro. Mas a ausência de políticas pensadas para a juventude torna o “êxodo” dos jovens uma realidade que, no hoje como no amanhã, trará mudanças profundas a configuração social portuguesa. Se esta mobilidade nos torna, a todos, mais potencialmente emigrantes, “mestiça-nos”, também. O que não é mau. Se bem que com esta mobilidade, se se for consumando neste formato, os países vão-se tornar, cada vez mais, comunidades de muitas nações.

Mas, nestas saídas que se vão dando, não é verdade que os jovens que saem sejam, de entre todos os jovens portugueses, a “fatia” dos mais qualificados. Nem sequer a dos mais ousados. Em muitas circunstâncias, aquilo que os leva a sair são questões conjunturais, de “momento” ou de oportunidade. São jovens educados e escolarizados, sem dúvida. Como todos os jovens, sonham por um reconhecimento “fora de portas” (uma “carreira internacional”). Tanto mais possível quanto mais recursos eles acabam por ter. E, portanto, em função deles, mais oportunidades terão ao seu alcance. Sendo certo que os salários dos jovens portugueses e os preços da habitação, por exemplo, precipitam muito este desejo de mundo, sem que tenha havido, até hoje, quaisquer medidas consequentes que os protejam, quando se trata de passarem duma formação universitária para a “vida activa”. Para mais, também não é verdade que, depois de saírem, a perspectiva do seu regresso tenha quaisquer garantias. O mais provável é que a maioria se fixe nos países que os receberam. Trágico, no meio disto tudo, é que as únicas medidas que promovam a fixação dos jovens portugueses sejam subsídios (ridículos) que apoiem o seu regresso. E nunca políticas pró-activas que tornem sedutor que eles fiquem.

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Mas nem sempre quando se afastam os jovens se autonomizam. Muitas vezes, afastar-mo-nos dos pais e do país é uma forma de irmos, longe das raizes, à procura de uma autonomia que, por vezes não se conquistou em presença das referências com que crescemos. É verdade que, desde sempre, cada geração foi entendendo aquela que vinha a seguir como “menor”. E é verdade que esta sempre foi uma visão vaidosa (e invejosa, até) como, geração a geração, nos relacionamos com os jovens.

Exactamente por causa disso, sinto um desconforto que falemos dos jovens como “jovens”. Não que não o sejam, claro. Mas “jovens” tem uma aragem paternalista, que usamos para aqueles que não sem nem adolescentes nem… adultos. E o que inquieta é que nos assuntos que mobilizam e preocupam os jovens a forma como falamos para eles não lhes “toque”. Não os arrebata para se juntarem à mudança. Nem os devolva à esperança.

Não, os jovens não deixaram de acreditar em Portugal. Somos nós que, desde há muito, não entendemos as questões e os problemas dos adolescentes e dos jovens como devíamos. Somos nós que não  acreditamos neles como parceiros da mudança. E talvez tenha sido por isso que, com tristeza, eles deixaram de acreditar em nós.

E não, não acho que este país não seja para os jovens. Porque também não é um país para as crianças, para os mais velhos ou para todos aqueles que têm as mais diversas limitações. Este país liga pouco às pessoas e liga pouco ao futuro. Como hão-de os adolescentes acreditar em nós se nos preocupamos tão pouco com o seu futuro?… Como não hão-de os adolescentes – em vez de partilharem os seus sonhos daquilo que querem vir a ser – de não ficar presos, primeiro, ao “quero ser muito rico”? E, depois, ao “quero ir para lá para fora”? Estaremos nós atentos ao modo como lhes estamos a inquinar o sonho e a levar a que esperança no futuro fuja para longe?