O Ministério da Cultura não precisa da ministra, mas os artistas precisam do Ministério da Cultura. Graça Fonseca podia ser cordial e sincera, mas, infelizmente, tem-se se mostrado insegura e fugidia, teme os jornalistas e, pior do que tudo, parece estar sempre enjoada quando representa o Governo. Não é empática e não se lhe conhece qualquer motivação para dialogar com o amplo sector da Cultura. Sendo assim, estamos perante um erro de casting, o que é normal, mas trágico, principalmente, nesta circunstância. A ministra parece gerir o Ministério da Cultura como se vivesse nas nuvens e, quando o Olimpo lhe concede a honra dos manjericos, vem à janela para despejar um balde de água fria.

Ser Ministro da Cultura é um privilégio inigualável. Muitos ocuparam esse lugar, mas poucos se agigantaram. Para a história ficarão Francisco Lucas Pires e Manuel Maria Carrilho. As gaffes não são meras diferenças semânticas, elas revelam falta de preparação, ou síndrome de superioridade, que encaixa bem no perfil. A porta de saída é cada vez mais estreita e já não fecha, nem com ferrolho.

Não se lhe conhece uma única ideia para o sector, os apoios que apresentou durante este período de pandemia, foram nados-mortos, revelando um desconhecimento completo sobre as vidas daqueles que dão o corpo, a alma, suor e sangue pela Cultura. Cada dia que passa, a ministra revela uma crescente fobia social o que a deixa, ainda, mais insegura e, consequentemente, agressiva e desconfortável. O Primeiro-Ministro sabe que tem um problema grave para resolver, mas Graça Fonseca é sua amiga desde os tempos em que foi vereadora da Câmara Municipal de Lisboa, e isso levará António Costa a ponderar o momento adequado para a remodelação. Quanto mais tarde pior, estamos a caminho do Princípio de Peter, mas o trágico é que há pessoas que precisam de comer, que não têm dinheiro para as despesas mínimas: água, eletricidade ou medicamentos.

Todos nos sentimos humilhados e indignados quando a ministra, Graça Fonseca, num tique arrogante, convida os jornalistas para beberem um copo, fugindo à questão essencial: as vidas das pessoas que fazem Cultura. Gostava que isto fosse apenas uma piada urbana. Que saudades de O’Neill: “Ó Portugal, se fosses só três sílabas, / linda vista para o mar …”. Mas esta terra tem gente do Minho ao Algarve, que não quer beber copos, quer “paz, pão, trabalho, saúde, habitação” e respeito. A verdade é que Graça Fonseca não tem mais condições pessoais e políticas para continuar à frente do Ministério da Cultura, escolheu o caminho errado e a sua miopia assume-se na insensibilidade com que nos convida a um “drink”. Portugal é pródigo em histórias pouco edificantes. Lembro a censura do então titular da pasta da Cultura, Vasco Pulido Valente, em 1980, ao ter proibido a peça de teatro Erros meus, má fortuna, amor ardente, encomendada a Natália Correia, pelo Teatro Nacional D. Maria II, no 4.º centenário da morte de Luís de Camões, ou de Sousa Lara ter vetado O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago. A galeria dos titulares da Cultura é um relicário de maus tratos para com os criadores, uma colmeia de vespas que azedam o mel, não respeitando o melhor do que “permanece dentro de nós”, como sublinhou Almada Negreiros.

Um Ministro da Cultura precisa de ter ideias, conhecer o meio, estar disponível para ouvir, dialogar e aprender com humildade. Ao menos, que a senhora Ministra tivesse uma boa ideia para este Verão, como Jack Lang, que, em 1981, como Ministro da Cultura de França, lançou a “Fête de la Musique“.

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