A Maria sofria de dores de costas há vários anos. Frequentava o ginásio e, por vezes, fazia algumas sessões de fisioterapia, conseguindo assim controlar adequadamente a sua dor. Nos últimos meses a dor piorou, estendendo-se agora também para a perna direita, onde sentia formigueiros e falta de força. Desta vez, nem a medicação nem a fisioterapia pareciam ajudar. O seu médico de família diagnosticou uma hérnia discal e indicou-a a um cirurgião da coluna que lhe recomendou uma intervenção cirúrgica. Foi operada e teve alta no próprio dia. Ao fim de pouco tempo estava a trabalhar e rapidamente retomou uma vida normal, tendo voltado ao ginásio, de que tanto gostava.

A dor nas costas afeta mais de 80% dos adultos em alguma fase das suas vidas, e é a principal causa de incapacidade no mundo, sendo responsável por mais de 12% dos casos de absentismo laboral.

São muitas as causas de dor de costas, incluindo doenças inflamatórias, infeção, fraturas ou neoplasias. Contudo, na maioria das situações, está relacionada com as alterações naturais de envelhecimento da coluna, denominadas degenerativas, sendo difícil identificar com precisão a origem da dor e, consequentemente, o seu tratamento específico.

A dor afeta pessoas de todas as idades, mas os primeiros sintomas surgem habitualmente por volta dos 30 anos. Má forma física, sedentarismo, obesidade, tabagismo, determinadas profissões que impliquem transporte de cargas pesadas ou vibração, são outros fatores de risco.

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Hábitos de vida saudáveis, exercício, dieta variada e equilibrada, postura correta e adequadas condições de trabalho, podem ajudar a melhorar a saúde da coluna vertebral e prevenir a dor e outros problemas relacionados.

Apesar de ser uma situação frequente e benigna na maioria dos casos, pode necessitar de uma observação pelo médico assistente. São sinais de alerta a dor prolongada que não cede com repouso ou medicação, após traumatismo ou queda, febre ou perda de peso, irradiação para os braços ou pernas, adormecimento, formigueiro, perda de força ou sensibilidade nos membros, incontinência urinária ou fecal e disfunção sexual.

O médico de família está habilitado a fazer o diagnóstico, recorrendo a exames, quando indicado, como radiografia, TAC, ressonância magnética e análises, prescrevendo o tratamento adequado. Dependendo dos resultados destes exames, do diagnóstico e da resposta ao tratamento, poderá ser necessário recomendar um especialista em coluna vertebral.

O tratamento conservador, não cirúrgico, é eficaz na maioria das situações de dor de costas, aguda ou crónica. Poderão ser prescritos diferentes medicamentos, consoante o tipo e a duração da dor, exercício, fisioterapia, alterações comportamentais e modificação de atividade.

Técnicas percutâneas minimamente invasivas, como infiltrações ou radiofrequência, poderão ser eficazes, mas não devem atrasar a consulta de um cirurgião de coluna quando indicado.

A cirurgia está reservada para casos excecionais, resistentes ao tratamento conservador, para lesões traumáticas ou na presença de determinados sinais e sintomas, sobretudo alterações neurológicas. Os avanços das técnicas cirúrgicas, particularmente a cirurgia minimamente invasiva, a utilização de tecnologia como a endoscopia, a neuronavegação ou a robótica, assim como o refinamento das indicações, permitem excelentes resultados clínicos, com internamentos curtos – inclusivamente em ambulatório – e uma rápida recuperação. Presentemente, a cirurgia da coluna é extremamente eficaz e segura. O receio popular de “ficar numa cadeira de rodas”, infelizmente ainda muito enraizado, não passa de um mito, mais relacionado com a doença em si do que com a cirurgia propriamente dita.

Claramente, a prevenção é o melhor remédio e hábitos de vida saudáveis fazem toda a diferença. Contudo, tal como a Maria, não hesite em procurar ajuda quando necessário, confie no especialista e não receie a cirurgia, se esta for indicada.