Talvez que a característica principal da passagem pela vida de João Salgueiro tenha sido ter estado sempre presente quando necessário, em momentos de crise ou de transição ao ser sido solicitado a servir o País. Mas não mais do que isso. A vida partidária tem por vezes contornos que o incomodavam, via a actividade política e até a vida profissional como um serviço a Portugal e aos portugueses e ficava apenas o tempo necessário em que pensava isso ser possível. Em Maio de 1985, na Figueira da Foz, perdeu a presidência do PSD para Cavaco Silva por poucos votos, talvez porque se tenha recusado a fazer o suficiente para vencer. Talvez porque a sua ideia de serviço a Portugal fosse diferente. Não existe uma história paralela e assim nunca o saberemos.

Antes tinha sido ministro das Finanças do Governo de Pinto Balsemão, também num momento difícil de transição onde ficou entre 1983 e 1985 . O pensamento de João Salgueiro tinha duas características que sempre me impressionaram e que eram um tema recorrente das nossas conversas: pensar o futuro como uma necessidade permanente da economia – essencial nos dirigentes empresariais e políticos- valorizar o planeamento na governação. Não por acaso, o seu primeiro emprego foi no Banco de Fomento Nacional como director de Planeamento e mais tarde participou no Governo de Marcelo Caetano onde exerceu funções de subsecretário de Estado do Planeamento, participando de uma fase rica de visão económica e de antecipação do futuro, que teve como pontos altos a participação na EFTA, a criação do porto de Sines e a Reforma do Ensino de Veiga Simão. Um período de ouro da economia portuguesa que cresceu 6% ao ano, recordando também Rogério Martins e Xavier Pintado entre outros.

Conheci João Salgueiro na SEDES de que foi fundador e onde se manteve ao longo dos anos e sempre que chamado entre as diferentes equipas directivas. A SEDES constituiu desde sempre a ideia de João Salgueiro de serviço ao País, em que o conhecimento, a cultura e a participação cívica constituíam para ele a base necessária da actividade política.

Já tarde na vida da associação, tenho sido um participante irregular nas actividades da SEDES, em grande parte inspirado na figura tutelar de João Salgueiro e recordo com particular prazer as posições públicas da SEDES, que mantivemos durante alguns anos em momentos julgados importantes, como, por exemplo, nos orçamentos do Estado. Eramos quatro, o João Salgueiro, o Luís Campos e Cunha, o Henrique Medina Carreira e eu próprio. Tratava-se sempre de gerir um parto difícil, entre o meu borrão inicial, as propostas de Campos e Cunha e as certezas pessimistas de Medina Carreira. João Salgueiro era o conciliador que garantia que o trabalho se fizesse. Recordo com saudade o muito do que aprendi e as ideias que consolidei nessas reuniões de trabalho no gabinete universitário do Luís Campos e Cunha. Aproveito aqui para recordar esse outro amigo que já nos deixou, Henrique Medina Carreira, um outro português igualmente devotado a servir Portugal, sem hesitações, com coragem e sem transigências de qualquer espécie.

Nos últimos anos mantive com João Salgueiro uma amizade serena na SEDES e em almoços mais ou menos mensais destinados a rever a matéria dada sobre o futuro de Portugal, a meias com as discordâncias de ambos relativamente à evolução do nosso regime político, cada vez mais carreirista e menos democrático. Foi para mim um bom conselheiro na feitura do meu livro “Uma Estratégia Para Portugal” e acedeu ao meu pedido para escrever o prefácio, o que nunca esquecerei.

A vida continua e todos somos, mais tarde ou mais cedo, dispensáveis, mas João Salgueiro deixa uma marca muito particular no País que ele adorava. Já são três grandes portugueses e amigos que perdi: João Salgueiro, Henrique Medina Carreira e Veiga Simão.

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