Nos dias de hoje, já toda a gente sabe o que é um empreendedor e nunca se ouviu falar tanto em empreendedorismo como agora. Há quase uma moda de se querer ser empreendedor. Empreender é, segundo a Priberam, levar a efeito, dar princípio a (uma empresa).

Eu vou na minha segunda empresa e segunda associação sem fins lucrativos. Quatro inícios, quatro caminhos e (para já) apenas um fecho. Posso, por isso, afirmar com certeza, e por experiência, que começar é, de todas, a parte mais fácil da história. No entanto e mesmo assim, nem todos somos empreendedores. Eu acho que temos cá dentro uma centelha que faz de nós “empreendedores”. É aquela faísca que nos faz trocar o certo pelo o incerto, a segurança pelo desafio, a zona de conforto pelo desconhecido. É a vontade de dar o salto no vazio e construir o paraquedas no caminho! Vá, confesso que acho que partilhamos todos de uma certa dose de loucura, mas partilhamos também algo muito mais interessante, a crença de que podemos fazer algo mais, algo melhor, acreditamos mesmo que podemos mudar o Mundo.

Invariavelmente um empreendedor tem (ou partilha) uma ideia ou uma visão de algo que pode ser melhor. E aí começa o caminho… da ideia à solução todos imaginamos uma reta, uma autoestrada, 4 vias livres e desimpedidas para o nosso caminho e em direção ao nosso objetivo. Raramente é assim… por muito planeamento, estudo, preparação prévia, o mundo e o mercado têm uma infinita capacidade de nos surpreender a cada passo do caminho. Seja pela equipa (ou falta dela), pela definição do problema, do público-alvo ou até mesmo pela solução que encontrámos, o caminho raramente é uma reta, mas sim um percurso todo o terreno, cheio de barreiras, obstáculos e curvas em gancho que tens de percorrer em alta velocidade e sem mapa, nem GPS.

Este caminho é difícil pois não há horários, nem férias, não há um início, nem um fim das “tarefas” e nem mesmo uma garantia de recompensa no final, e ainda, para ajudar, este caminho está também em constante mudança e adaptação.

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É ainda mais difícil quando por algum motivo não encaixamos nos parâmetros da norma. Não temos uma determinada idade, um determinado género, uma determinada formação de origem… enfim! Quando em cima de tudo o que já temos de ultrapassar ainda temos de, por algum motivo, provar que somos feitos da fibra certa, temos a garra necessária e a capacidade para fazer, criar e construir! É duro! Não queiras ser empreendedor!

Mas se és… o que eu gostava de partilhar é aquilo que, para mim, faz toda a diferença. Aquilo que realmente separa os projetos bem sucedidos dos muitos que tropeçam e caem no vale da morte. É a rede de apoio, a luz guia, a sinalização da estrada ao nosso redor. Hoje sei a importância que tem rodearmo-nos das melhores pessoas, de criarmos a nossa própria rede de segurança, de termos, à distância de um contacto, a pessoa que nos vai dar a mão e nos vai ajudar. Seja por estar numa área em que não estamos tão confortáveis, seja por uma porta que nos vai abrir ou seja mesmo apenas porque, nos momentos mais complicados, vai estar lá, connosco, para voltar a dar espaço à tal centelha para iluminar os próximos passos. Não é propriamente porque nos vai levar pela mão no caminho certo (até porque não há um caminho certo) mas porque nos vai ajudar na ação de caminhar e avançar.

E como o fazer? Como criar esta rede? Como saber que vais ter quem te estenda a mão quando precisares? Ajuda primeiro! Ajuda sempre que possas ajudar. Pelo caminho, ajuda desinteressadamente e acredita que, mesmo que aquela pessoa, no futuro, não venha a ter impacto no teu caminho, só o simples facto de a teres ajudado e saberes que tu tiveste impacto no seu caminho, dar-te-á a energia que precisas para saberes que tu tens o que é preciso! Portanto… quem é que vais ajudar hoje?

*Tendo feito todo o seu percurso académico e profissional na área da saúde, enquanto farmacêutica, a vida levou-a para a área da tecnologia e Cláudia Morgado é hoje CEO/Founder da AuroraTechAI, empresa especializada na aplicação de sistemas de conversação na conciliação da vida/família/trabalho. Entre outras causas que a movem, ressalta o especial gosto pela área do empreendedorismo social sustentável e a aplicação de inteligência artificial na saúde. 

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.