Sou democrata-cristão desde que me conheço e a minha casa política sempre foi o CDS. Servi o partido e as ideias em que acredito em diferentes cargos, sem nunca ter tido qualquer proveito pessoal que não fosse a satisfação do dever cumprido.

Acompanho o Francisco Rodrigues dos Santos desde a sua chegada à política activa. Acreditei que seria o Presidente necessário no momento certo, apoiei-o sem reservas no Congresso de Aveiro que o legitimou democraticamente como Presidente do CDS. Não ignorei em momento algum as dificuldades que esta nova liderança enfrentava. Em Janeiro do ano transacto, o Congresso era o de um partido com uma situação financeira mal explicada e com o enorme fardo do pior resultado da sua história. O Congresso, de forma clara, rejeitou a continuidade dos que tinham deixado o partido neste estado político vegetativo. A coragem do Francisco e o seu amor ao CDS mobilizaram a maioria do partido numa vontade de mudança e de ruptura com os mesmos de sempre. O partido respirou, o partido não tinha donos.

Tinha pouca fé que os donos desapossados da sua coutada compreendessem a vontade da maioria e salvaguardassem os interesses do partido, que mais não é do que a paz e a estabilidade. Infelizmente, confirma-se que não estava enganado, os mesmos de sempre não se conformaram com a vontade da maioria, para estes a democracia é só um conceito de conveniência. Não tardou até que o Francisco e os que escolheu para dirigirem o partido estivessem debaixo de fogo permanente. O grupo parlamentar limitou-se a repetir a receita que tinha posto em prática com Ribeiro e Castro, foram inocentes os inúmeros esforços sinceros do Francisco para ter a paz com o grupo parlamentar, não havia respeito nem tratamento de privilégio que acalmassem o ressabiamento da derrota em Congresso. Na opinião publicada, os mesmos de sempre insistiam entre a desvalorização e a ridicularização de quem tentava seriamente reconstruir o que haviam destruído. Nas redacções, os amigos protegiam os amigos e quanto mais dano fosse feito ao CDS, melhor. É uma história que se repete e os autores da história não são sequer imaginativos.

Surgir um candidato à liderança do CDS a meio do mandato da actual direcção, depois de dois actos eleitorais que correram bem ao partido, num período de confinamento em que a data para a possível realização de um congresso é uma incógnita e a poucos meses das eleições autárquicas, é um desrespeito pela direcção do partido, mas, acima de tudo, um enorme desrespeito pelos militantes, dirigentes locais e distritais que dão a cara e trabalham pelo partido todos os dias, desinteressadamente, em prol do crescimento do partido. O candidato que agora diz querer salvar o partido foi vice-presidente da direcção de Assunção Cristas que deixou o CDS no estado em que se encontra, foi o vice-presidente de Assunção Cristas que abandonou a direcção para ir para administrador da Galp e também todos se recordarão que foi desafiado a avançar com uma candidatura à liderança do CDS no congresso ordinário de Janeiro de 2020 e não se mostrou disponível. No entanto, durante este ano de mandato da actual direcção fez questão de usar a comunicação social para criticar a direcção do Francisco, ao invés de usar esse espaço para dar um contributo para o crescimento do CDS.

Reconheço a Adolfo Mesquita Nunes uma inteligência incontestável, não lhe reconheço qualquer legitimidade política para se apresentar como candidato a meio de um mandato de uma direcção eleita pelos militantes democraticamente. Percebo a preocupação dos mesmos de sempre, que logo surgiram com manifestações de apoio ao Adolfo, falta-lhes o controlo do partido, falta-lhes a garantia dos seus lugares no futuro, falta-lhes o clima de compadrio que tanto prejudicou o CDS, mas é a vida. O CDS não tem donos.

Não vou dizer que fizemos tudo bem, não vou sequer pôr todas as culpas no facto de termos herdado um partido numa situação financeira difícil, uma estrutura separada das elites e o boicote generalizado na imprensa. Podemos sempre e devemos sempre fazer melhor. Aceito de bom grado todas as críticas construtivas. Todos somos poucos para ajudar o CDS. Acredito que o Francisco, com a humildade que o caracteriza, pelo percurso de vida que tem, pela sua personalidade, será o primeiro a saber ouvir e a aproveitar todos os contributos que bem intencionadamente queiram ajudar a fazer o CDS mais forte. Diferente disto é compactuar com a guerrilha, com o ímpeto destruidor e com a arrogância dos que se acham naturalmente donos disto tudo. O CDS não tem donos. O CDS é dos seus militantes e só fará sentido enquanto estiver ao serviço de Portugal.

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