Regressado o Cónego Jeremias das termas, encontrei-o bastante aborrecido porque este mês, que os fanáticos das alterações climáticas prometiam soalheiro, foi, afinal, frio e chuvoso.

– Então, Senhor Cónego, que me conta das suas férias?

Já foram, mas o tempo não ajudou nada e, por isso, em vez de passeatas pelo monte, entreguei-me à leitura e, claro, às minhas orações.

– E leu alguma coisa de especial interesse?

Por acaso li uma interessante crónica da Joana Amaral Dias, em O Novo Semanário, no passado dia 16, sobre as alterações climáticas.

– Não me diga! Mas é uma activista da extrema-esquerda …

Eu cá não sou preconceituoso, nem imponho cordões sanitários em relação a ninguém: até já ‘canonizei’ o Louçã e elogiei o Ricardo Araújo Pereira, que é comunista! Não julgo as pessoas, porque isso compete a Deus, e, se quer que lhe diga, prefiro um comunista coerente a um católico incoerente, ou seja, pró-eutanásia ou pró-aborto.

– Sem dúvida: desses tais ‘católicos’, livre-nos Deus! Mas que encontrou de interessante nessa crónica d’O Novo Semanário?

Pois muita informação sobre as supostas alterações climáticas. Por exemplo, citando sempre a referida crónica: “Na primeira cimeira ambiental, em 1972, em Estocolmo, garantia-se que dispúnhamos de apenas dez anos para evitar a catástrofe. Em 1982, a ONU previa a ‘devastação planetária, tão completa e irreversível quanto um holocausto nuclear’, pelo ano 2000. Em 1989, o chefe do programa ambiental da ONU assegurava que teríamos apenas três anos para ‘ganhar ou perder a luta ambiental’”.

– De facto, é impressionante o rotundo fracasso dessas previsões!

Mas há mais: “Em 2009, John Kerry garantia que, em 2013, o Ártico não teria gelo. Lá para 2012, jurava-se que a neve só existiria por mais meia dúzia de anos”.

– Como reagiu a comunidade científica a estes sucessivos falhanços?

– Volto a citar a mesma fonte:“O escândalo do Climategate, em 2009, abalou as convicções de muita gente. Saber que centenas de reputados climatologistas manipularam dados para exacerbar argumentos e suportar a tese da origem humana do aquecimento global foi difícil. Como podia a ClimateResearchUnit da Universidade de EastAnglia, um centro mundialmente reconhecido, embarcar em burlas?

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“Mas as patranhas continuam. Recentemente, Patrick Brown, codiretor da equipa do Clima e Energia no Instituto Breakthrough e membro do Programa de Política Energética e Clima na Universidade John Hopkins, confessou que exagerou sobre o impacto do Aquecimento Global nos Fogos, num estudo do qual é autor, publicado na revista Nature. Brown confessou: ‘Omiti a verdade completa para publicar o artigo’. ‘Mantive-me fiel a uma narrativa que sabia que os editores iriam gostar. Não é assim que a ciência deve funcionar’, acrescentou.”

– No entanto, a comunidade científica já mudou de parecer, não foi?

– Sim, segundo essa crónica, pois “um grupo de quase 2 mil cientistas internacionais assinou uma declaração rejeitando a crise climática e insistindo que o dióxido de carbono é benéfico para a Terra, contrariamente ao discurso alarmista. ‘Não há emergência climática, afirmou o Grupo Global de Inteligência Climática (CLINTEL). Esta ciência deveria ser menos política e as políticas climáticas mais científicas’. Muitos outros especialistas consideram que o nosso conhecimento sobre o sistema climático é deficiente e os modelos atuais não fornecem base científica confiável”.

– E que diz a cronista daquela maldisposta jovem sueca, activista ecológica?

“Em 2018, Greta Thunberg escreveu que ‘em cinco anos as mudanças climáticas eliminarão toda a humanidade, a não ser que paremos de usar combustíveis fósseis’. Cinco anos passaram e a única coisa que foi eliminada foi o respectivo tweet”.

– Coitadinha, como nem sequer vai às aulas, não percebe nada do assunto!

Pois não, mas mesmo assim é recebida pelo Secretário-Geral da ONU e a comunicação social dá-lhe importância. Como alguém dizia, a situação está a melhorar, porque dantes tínhamos um buraco (do ozono) e agora só temos uma Greta (Thunberg)!

– E que faz a Igreja para conseguir a salvação ecológica do planeta?

Porque disse ecológica?! Há, por acaso, outra salvação?!

– Tem razão, desculpe-me a redundância …

Pode crer que as alterações climáticas são uma preocupação prioritária deste pontificado. Até consta que o Papa está a escrever a segunda parte da Laudato sí.

– Talvez seja para dar conta da referida declaração dos dois mil cientistas que rejeitam a crise climática e exigem políticas climáticas menos ideológicas e mais científicas.

Era bom que fosse porque, caso contrário, a Igreja arrisca-se a ficar mal, como no caso Galileu … É o que acontece quando o magistério eclesiástico opina sobre questões científicas, que são da exclusiva competência dos cientistas.

– Mas, no âmbito da acção, não acha que a Igreja podia fazer mais?

Pois olhe que, a esse propósito, tive este verão uma inspiração, que não duvido que seja, não direi celestial, mas astral: vou fundar uma ordem religiosa dedicada a esta causa!

– A sério?! E como se chama?

A Congregação das Irmãzinhas das Alterações Climáticas ou, simplesmente, missionárias climáticas.

– Porquê Irmãzinhas?! É só feminina?!

Não, pois também podem ser admitidos homens, desde que se assumam como mulheres, o que, como sabe, hoje em dia, graças à ideologia de género, não constitui nenhum problema, para grande satisfação do jesuíta James Martin. Portanto, se um brutamontes de 120 kg, campeão de halterofilismo, com um bigode farfalhudo e patilhas à forcado, quiser pertencer à congregação, basta que assuma que é mulher e, assim sendo, já pode professar na ordem com o nome, por exemplo, de Irmã Mariposa, ou Madre Silva. Não acha isto bué inclusivo e ecológico?!

– Sem dúvida! Mas, Irmã Mariposa ou Madre Silva?!

– Como sabe, nas antigas ordens, os candidatos, ao professarem, escolhiam um nome novo: Santo António, por exemplo, era Fernando. Nesta nova ordem, quem professa substitui o seu nome de Baptismo pelo o de um animal ou planta, que São Francisco de Assis chamava irmãos!

– E a que se dedicam as irmãzinhas climáticas?

Anunciar o fim do planeta A e que não há planeta B, tal como dantes os profetas religiosos prognosticavam o fim do mundo. Claro que não farão proselitismo religioso – vade retro, Satanás! – mas só proselitismo ecológico, semeando pelo mundo ecopontos, que serão os verdadeiros templos da nova religião climática!

Fez-se tarde e, por isso, tive de deixar o Cónego Jeremias. Estava tão entusiasmado com a sua nova fundação, que já sonha com um novo Pentecostes: uma multidão de Irmãos Lobo e de Irmãs Malmequer!