1 Caro irmão, escuta, queres uma ideia para o futuro?

Então, continua a invadir os campos, descobre o sítio das árvores e constrói um abrigo! Depois faz um esconderijo e prepara o assalto ao castelo! Olha que os velhos contos de fadas duram eternamente e são espantosos. E o herói és tu; tu e a tua Patrulha, encantada, admirável! E porquê o Assalto ao Castelo? Porque o assalto aos castelos são histórias fantásticas vividas por miúdos reais, sãos, íntegros, justos, saudáveis, inteiros!

A atualidade realista-digital-materialista-psicológica que nos querem pôr em cima, produz histórias que morrem num instante. E porquê? Porque o herói não é real, não é humano, vulgar, normal. O centro deixou de estar no centro, e tudo se torna monótono, sem interesse. O tédio, o tédio… o marasmo! Caro irmão, escuta, olha que o medronheiro dá saborosos medronhos porque é uma árvore fascinante, mágica; a água corre imparável no ribeiro porque está enfeitiçada; e a fogueira aquece-nos corpo e alma porque está maravilhada por nós! Queres uma ideia para o futuro? Continua a invadir os campos, descobre o sítio das árvores e constrói um abrigo! Depois faz um esconderijo e prepara o assalto ao castelo; o escutismo agradece!

2Caro irmão, escuta, queres uma ideia para o futuro?

Então, continua a invadir os campos, descobre o sítio das árvores e espanta-te! Coloca o joelho no chão de terra e agradece! O escuta sai, delicia-se demoradamente com o canto do rouxinol, com o esquilo, a abelha ou a borboleta; e o mesmo com a sua patrulha, com os seus irmãos escutas, com as gentes da aldeia! Se não fossem todos os antepassados que, desde os primórdios dos tempos, os antecederam, não poderiam, agora, estar ali com ele. Quer dizer, que o rouxinol e o esquilo, a abelha e a borboleta; quer dizer, que os seus irmãos escutas, as gentes da aldeia, e ele próprio… têm, então, algo que os transcende infinitamente! E transcender não quer dizer que está fora dele, excluído; transcender quer dizer precisamente o contrário: quer dizer que o abrange, inclui, incorpora! O escuta está em campo, olha em volta e percebe, então, que está sustentado, permanecido, suportado por um mundo invisível que o transcende! O escuta concentra-se na sede, e na sede há movimento; o escuta sai e invade os campos. Chega ao sítio das árvores, olha em volta e percebe o mistério que o habita; percebe que teve um começo, mas não terá fim pois a sua escala é outra; a sua escala é a eternidade! O escutismo deve estar no mundo, de uma maneira muito modesta, muito humilde; vamos à reunião de patrulha, e à eucaristia; vamos à reunião de secção e ao acampamento, e vamos cheios de entusiasmo (entusiasmo quer dizer ter Deus dentro). E somos nós assim, sempre demoradamente. E na semana seguinte, e na outra, e outra… será assim, parecido com a primeira. E daqui a um mês, a um ano, também. O escuta está no mundo com esta simplicidade, com esta descrição; pôr a Promessa no vasto mundo! Viver a Promessa escuta não é fácil, não é direto, não é automático; viver a Promessa escuta convida-nos a encontrar uma outra força. Chama-se a isso vida de Comunhão! Chama-se a isso, Escutismo!

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3 Caro irmão, escuta, queres uma ideia para o futuro?

Então, continua a invadir os campos e sai para raide. O escuta sai para raide e põe-se a percorrer trilhos e veredas; o escuta gosta de sair para raide; é especialista! O escuta gosta de andar por caminhos inclinados e revoltos; o escuta sobe ao alto da montanha. O escuta gosta de se continuar por rios e planícies; gosta da abundância das torrentes. O escuta agita-se com os astros, e o céu; é assim o escuta, quando sai para raide. Mas é também, preciso, arriscar a aventura do raide interior; o raide interior não anula o outro, vai para além dele; transcende-o. E transcender quer dizer que inclui, que contém, abarca. O Acampamento nunca está pronto, acabado; está em permanente construção; a Promessa não é devoção decretada, mas a conquista da devoção; o escuta não é ser; é vir a ser. Ainda não somos, seremos! O escutismo não é fim, mas é acesso, rumo e direção; o raide não é distância. O Raide não é meta, é a alegria do caminho!

4Caro irmão, escuta, queres uma ideia para o futuro?

Então, continua a invadir os campos, pega nos teus escutas e conta-lhes tudo! O espaço sagrado da Sede de Agrupamento, o mistério do local de campo, o segredo do Canto de Patrulha. Pega nos teus escutas, leva-os à Sede de Agrupamento e conta-lhes ao detalhe o mistério dos lenços pendurados, a história das primeiras fotos de agrupamento, e os sinais encantados da bandeirola de patrulha. Quando entrares na igreja, olha em volta, e fá-los sentir o espírito daqueles que nos sustentam, daqueles que nos fazem ter mais força do que aquela que verdadeiramente temos, daqueles que nos fazem ter mais alegria, mais entusiasmo, mais fé… do que aquela que verdadeiramente temos! Sim, habitamos locais carregados de história, e de sentidos. E por isso, em tudo o que nos rodeia existe uma realidade que tudo transcende, que vai para além de todas as coisas e de nós próprios. Nós temos uma permanência, uma identidade; nós temos um sentimento contínuo, incessante, temos uma espécie de continuidade miraculosa dentro de nós que nos permite dizer: este escuta, sou eu; este é o meu canto, a minha sede, este é o meu agrupamento! Sim, temos uma alma imortal. Sim, somos escutas imortais.

5Caro irmão, escuta, queres uma ideia para o futuro?

Então “dobra o joelho”, e agradece! Não tenhas um coração ingrato, estéril, mal-agradecido; seria trágico! Já Bento XVI nos dizia que aquilo que recebemos da igreja, do escutismo será sempre incomparavelmente mais do que aquilo que alguma vez podemos dar. Por isso, sejamos gratos! Olha a roupa que vestes, a água que bebes, os legumes frescos na mesa; agradece ao teu Guia de Patrulha que se levanta durante a noite para proteger, da chuva, as botas que deixaste caídas pelo campo; agradece ao teu Chefe que se levantou antes da alvorada para teres pão quente ao pequeno-almoço; agradece ao motorista que não se atrasou, ao funcionário que limpa a tua sala de aula e aos homens que recolhem, à noite, o lixo que fazes durante o dia; agradece ao teu pároco que te leva Jesus à eucaristia, quando estás em campo! Dobrar o joelho é um gesto poderoso de gratidão; e a quem? “Dobra o joelho” a Deus que é o fundamento de toda a gratidão! Fá-lo! Não tenhas preconceitos e raciocínios elaborados; sê simples! Num mundo com tantos e tantos ídolos, tantos deuses, tanto plástico, tantos golos, tantos recordes, tantas obediências e servilismos, tantas cegueiras; “dobra o joelho” e agradece ao Deus que te ama, morreu por ti e, “se quiseres” vai-te dar a vida eterna! Como diz o escritor:  haverá um momento em que vai ter de se reconhecer que a relva é verde e o céu é azul! Diz o que vês, diz o que é! Isso é princípio de saúde, de robustez; não te deixes lesionar, falsificar, manipular; a civilização agradece; o escutismo agradece!

Nota: este artigo resulta de uma iniciativa individual e o seu conteúdo não vincula qualquer posição intitucional do CNE