Em conversas sobre os mais diversos temas tenho-me vindo a aperceber que as pessoas estão cada vez mais polarizadas e intransigentes a emitir opiniões ou a mostrar os seus pontos de vista.

Tal acontece quando temos de defender ideias e causas que nos são particularmente próximas (e das quais temos conhecimento profundo), mas também em temas sobre os quais, por uma razão ou outra, desenvolvemos uma opinião vincada, sem que tenhamos particular conhecimento de causa.

É frequente verificar, em jantares ou grupos de mensagens, que cada vez mais as pessoas demonstram ter uma opinião elaborada sobre os mais variados temas. Por si só, isto deveria ser visto como algo positivo. A democratização do acesso à informação permite que consigamos investigar um determinado tema e estruturar uma opinião sobre o mesmo. Contudo, torna-se prejudicial a existência de uma falsa sensação de conhecimento ou superioridade moral, tornando a pessoa irredutível em ouvir e tentar perceber outros pontos de vista que divergem dos seus.

A meu ver, esta polarização ou fixação quase dogmática é baseada em 3 causas diferentes:

  1. Ausência de conhecimento (efeito Dunning-Kruger);
  2. Intuição;
  3. Esferas de influência.

Aquando da ausência de conhecimento, muitas vezes reparamos que as pessoas menos capacitadas para discutir determinado tema tendem a vincular-se a opiniões fortes demonstrando um elevado grau de confiança. Este efeito, conhecido por Efeito Dunning-Kruger, foi identificado pelos investigadores e psicólogos sociais, Justin Kruger e David Dunning, no final do século XX. Após um conjunto de estudos, estes perceberam que a ignorância gera mais confiança que o conhecimento.

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De acordo com a investigação levada a cabo, as pessoas que pior dominam um determinado tema tendem a sobreavaliar as suas capacidades e, como consequência, têm mais confiança nas suas opiniões. Por outro lado, quem tem um extenso domínio de uma determinada matéria poderá sofrer de inferioridade ilusória e subavaliar o seu conhecimento.Este efeito é regular em discussões nas quais uma das partes se mantém inflexível, considerando que outros que pensem de forma diferente da sua estarão invariavelmente errados.

Se por um lado a falta de conhecimento leva a uma polarização de ideias, há um conjunto de outras razões que nos podem levar a fazê-lo. Jonathan Haidt, no seu livro “The Righteous Mind: Why Good People Are Divided by Politics and Religion” descreve como, por vezes, somos seres humanos mais intuitivos e menos racionais e como esta é uma das razões que nos leva a extremar posições ou a não aceitar pontos de vista contrários ao nosso.

Haidt defende a tese de que a parte intuitiva do nosso cérebro prevalece muitas vezes sobre a parte racional e argumentativa. De acordo com uma metáfora que dá corpo à primeira de três partes do livro: o nosso cérebro pode ser visto como um cavaleiro que guia um elefante. De acordo com Haidt, o elefante (intuição) é quem toma grande parte das decisões, sendo que o cavaleiro (a parte racional) tenta justificar e racionalizar as decisões que o elefante toma.

Transportando esta metáfora para a vida real, quantas vezes não damos por nós a defender uma ideia que intuitivamente nos pareceu mais acertada, para depois iniciarmos toda uma discussão para a justificar? Isto leva-nos não só a entrar numa tentativa de convencer outros, mas também de provar o racional a nós próprios.

Aliado a estes temas do foro psicológico (não serei certamente a pessoa indicada para os comentar), também as redes sociais parecem ter uma influência nestes fenómenos de polarização de opiniões. Num recente documentário dramatizado da Netflix – O Dilema das Redes Sociais – é explorado que estas nos induzem a ver, ouvir e comunicar com pessoas que têm um pensamento semelhante ao nosso. A criação de pequenas bolhas, ou esferas de influência, não nos permite ter contacto recorrente com quem pensa de forma diferente, impedindo-nos de abrir horizontes e, inevitavelmente, cimentando tudo aquilo em que já acreditamos.

Esta separação, que advém do desconhecimento, da intuição, ou simplesmente de uma visão mais enviesada de determinado tema, não seria prejudicial por si só. Contudo, quando se trata de temas que nos são caros, tende a afastar pessoas que, à primeira vista, possam não concordar connosco. No que toca a temas que não dominamos, impedem-nos de ouvir com mais atenção aqueles que têm um elevado grau de conhecimento sobre o tema.

Este não é um fenómeno atual, mas aparenta ser mais visível nos dias de hoje.

Sabendo que as ideias se espalham para além de uma mesa de jantar ou do nosso telemóvel, importa refletir e perceber se a forma como nos tentamos justificar e expor os nossos pontos de vista é efetivamente a que faz mais sentido.

Pedro Líbano Monteiro tem 26 anos e é fundador da Musicasa, Fyre Agency e Importrust, entre outras empresas. Juntou-se aos Global Shapers em 2018.

O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.