Primeiro, o que é SCRUM? É uma metodologia de trabalho que cai dentro duma lógica ágil, mais vasta. O termo SCRUM vem de 1986, da Harvard Business Review, através de um artigo de Takeuchi e Nonaka. Ágil (ou agile) compreende uma série de metodologias, uma das quais SCRUM, que permitem partir um projeto em partes mais pequenas, promovendo a adaptação a pequenas fases que possibilitam, assim, iterações e mudança ao longo do tempo. E muita experimentação.

Em paralelo, o que é uma cadeira/curso e, mais atomicamente, uma aula? É também uma aproximação metodológica que cai dentro de um projeto ou programa, mais vasto. O termo vem desde, pelo menos, a antiguidade grega. Carece de elaboração, planeamento curricular, conteúdo, objetivos, avaliação (ou algum tipo de avaliação) e metodologias de ensino. Tem uma estrutura. Tem um princípio, meio e fim. Como, de resto, um projeto ou programa. A aula é, em si mesma, a divisão em partes de um projeto maior: uma cadeira ou um programa.

Tal como o SCRUM se aplica a projetos ou desenvolvimento de produtos complexos (a ideia vem do rugby e da formação SCRUM – ou melé) a aula é uma unidade atómica de um projeto de clara complexidade. Há uma lógica no SCRUM como há uma lógica numa aula. Ou deve haver.

Do rugby podemos ver o melé ou a formação SCRUM como a formação em que 8 elementos de cada equipa (avançados) se formam em linhas de 3-2-3 ou 3-4-1 (dependendo do tipo de rugby) contra idêntica formação do lado adversário. O objetivo é disputar a bola quando a mesma se introduz na formação SCRUM. Através destas formações e de speed forcings as equipas procuram ultrapassar a bola para que uma das equipas (a mais forte e ágil) a possa retirar da formação e avançar com o jogo e bola em posse. Avançar no terreno com bola é o que permitirá ensaio e marcação de ponto(s).

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Em qualquer formação SCRUM há um SCRUM master. Nas empresas é o facilitador que permite que a equipa esteja ao seu melhor nível e rendimento, protegida de distrações internas e externas.

Na aula, o professor é o facilitador que coloca a bola em jogo e permite que a sua turma, ou a sua equipa, esteja ao seu melhor nível e dê o seu máximo rendimento. Aqui também se procura que a turma esteja protegida de distrações internas e externas para que consiga performance máxima. A mesma ideia da turma se pode passar a sub-grupos ou grupos de trabalho dentro da turma. Ao constituí-los o professor deve nomear o SCRUM master ou deixar que o grupo chegue, por “disputas” de liderança, à nomeação natural do SCRUM master. Esse elemento é fundamental no desempenho do grupo. O professor, em trabalhos de grupo, torna-se um árbitro e um (macro) SCRUM master de todos os grupos.

No rugby o SCRUM half da equipa que não cometeu a infração introduz a bola na formação. Quem a retira será o SCRUM half de um dos lados ou equipas que vão sendo, igualmente, SCRUM masters na orientação das formações. Há um SCRUM half de cada lado ou equipa a orientar a sua formação.

Em todas as circunstâncias e situações o SCRUM master tem um papel decisivo de liderança e de facilitação ou mentoria.

Em cada grupo deve haver, igualmente, um product owner que, no fundo, deve fazer o melhor possível para satisfazer todos os stakeholders – na empresa o que tem olhos no mercado, na organização interna e no acionista; na aula o professor, que pode coincidir com o SCRUM master, com olhos no gestor/diretor do programa, no diretor da universidade/escola/faculdade, no mercado de trabalho e, bem assim, em cada um dos  membros da sua equipa, i.e., alunos e suas famílias, mantendo a reputação global; finalmente, no rugby, o SCRUM half (ou médio formação) deve ter os olhos postos nos colegas de equipa, na ligação defesa ataque, nos fãs e no clube, para além de procurar, em primeira instância, pugnar por viver os valores da própria modalidade.

Além do SCRUM master e do Product Owner existem outros elementos na aproximação SCRUM:

  • A equipa de desenvolvimento é a equipa alocada ao projeto, na empresa; os alunos/participantes, na aula; os jogadores de equipa, no rugby.
  • O Product Backlog integra tudo o que há a fazer, na empresa, para se conseguir um produto, um serviço, um projeto; numa aula (ou mais ainda do que na aula, numa cadeira e programa) jogam os seus métodos e processos; finalmente, no rugby, as regras (e valores) do próprio jogo.
  • O Sprint Planning é uma decisão que respeita ao que fazer no atual período/fase. Como numa aula ou conjunto de aulas. Como num determinado jogo, jogos ou mesmo parte deles.
  • O Daily SCRUM é a reunião diária para distribuição de tarefas. Ou para explicar o que se vai passar na aula ou aulas. Ou como se pretende que a formação trabalhe e a equipa se organize – rugby.
  • O Sprint Review, onde a equipa trabalha o coletivo para conseguir adaptar-se ao que é pedido – product backlog.
  • finalmente, o Sprint Retrospective onde a equipa trabalha o que está correto, o que não está e o que deve ser melhorado.

Tudo isto para chegar a apenas uma conclusão: a formação SCRUM é praticada e conhecida ancestralmente pelos professores. Não talvez com este nome mas são formações bem conhecidas. Dizer-se que o professor é ágil, ou deve ser, é o mínimo para ter consigo a turma. Deve, assim, saber ao que vai em cada fase e quantas devem ser as fases, deve instigar a compromissos sobre o que fazer, deve distribuir tarefas e jogo, deve rever o que foi conseguido e o que há a conseguir, deve promover o trabalho coletivo para atingir os objetivos propostos, deve adaptar-se ao contexto e protagonistas (alunos/participantes) e deve fazer retrospetivas rápidas com vista a melhorar.

Ser professor é nada mais, nada menos, que ser ágil. Ser professor é ser SCRUM master. Ser professor é, há anos, décadas, séculos e milénios, praticar agilidade.

Venham pois as empresas mostrar evidencias do que é SCRUM. E os professores poderão partilhar os seus sucessos e insucessos como SCRUM masters. E são certamente muitos, muitíssimos. Talvez não fosse mau, numa era de agilidade, as empresas olharem para as universidades e escolas como formas apuradas de agilidade com SCRUM masters treinados e proficientes.

Se, pessoalmente, fizer uma retrospetiva rápida (até em SPRINT) sobre quantos SPRINTS foram feitos posso rapidamente chegar a conclusões interessantes, ou não. No total terei orientado, por ano, várias equipas, turmas, com totais de membros de 500 a 1.000 alunos/participantes divididos por várias turmas. Se a isto multiplicar por quase 30 anos de atividade terei facilmente entre 15.000 a 30.000 alunos (pelas minhas contas vou em mais de 40.000 impactados). Se isto não é de uma responsabilidade gigantesca, o que será? Influenciar e formar 40.000 alunos/participantes numa vida é, pelo menos, a minha responsabilidade mais fundamental. Será bom que estude formas de tornar o processo de aprendizagem e inserção no mercado de trabalho (ouvindo o mercado) – ou em contextos de empresa e trabalho – em boas experiências e, sobretudo, em membros de equipa preparados para serem bem melhores que quem ousou ser seu SCRUM master. O Professor deve ser, à priori, o SCRUM master mais elementar de toda uma lógica de agilidade.

Professor Catedrático – ISCTE – IUL; Presidente INDEG – ISCTE Executive Education