A sociedade estimula-te a querer tudo para ontem, a satisfazer os teus desejos sem demora nem paralelo, a obter resultados rápidos e sobretudo fáceis. Isto é, dir-se-ia, benchmark do que está à tua e minha volta. Mas é esta também, queira-se ou não, a lógica da gratificação imediata, que se baseia na ideia de que o prazer é o principal objetivo da vida, e que deve ser alcançado sem esforço, sem espera, sem sacrifício. Já. Agora. Na realidade, sem nada fazer senão acreditar numa bela utopia ou numa reles distopia.

Aplica-se ao trabalho? Podes esperar ter sucesso profissional sem investir tempo, energia, dedicação? Podes colher os frutos sem encontrar um espaço para plantar as sementes?

A resposta é não. Não mesmo.

A gratificação imediata no trabalho é uma ilusão. Mais uma. Traz mais frustração que satisfação, mais problemas que soluções, mais desmotivação que realização.

Os prós da gratificação imediata existem? Sim, claro:

Pode aumentar – pode mas não é seguro – a autoestima e a confiança, ao proporcionar uma sensação de recompensa e de reconhecimento;
Pode estimular – pode mas não é seguro – a criatividade e a inovação, ao incentivar a experimentação e a exploração de novas ideias e oportunidades;
Pode melhorar – pode mas não é seguro – o humor e o bem-estar, ao reduzir o stress e a ansiedade, e ao gerar emoções positivas.
Mas a verdade é que tem inúmeros contras. E são contraindicações fortíssimas. Se quiseres muito gratificação imediata vais ter disto ad nauseam:

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Pode diminuir – e diminui – a qualidade e a eficiência, ao comprometer a atenção, a concentração, a precisão e a produtividade;
Pode prejudicar – e prejudica – a aprendizagem e o desenvolvimento, ao limitar a reflexão, a revisão, a correção e a melhoria contínua;
Pode gerar – e gera – dependência e insatisfação, ao criar uma necessidade constante de estímulos e de reforços, e ao diminuir – e diminui drasticamente – a capacidade de tolerar a frustração e a incerteza.
Portanto, a gratificação imediata no trabalho não é sequer uma boa teoria, pois conduz  a uma visão superficial, imediatista e egoísta do trabalho, que ignora os seus desafios, os seus processos e o seu propósito.

Em vez disso, deves cultivar a gratificação diferida, que se baseia na ideia de que o prazer é um dos resultados que pode estar presente na vida, mas que deve ser conquistado com esforço, com espera, com sacrifício.

A gratificação diferida no trabalho implica teres mais tempo para esperar por resultados, mas também teres mais tempo para dar o melhor de ti, para contribuir para um bem maior para os outros e a organização, e para fazer a diferença.

Com isto aumentas a responsabilidade e o compromisso. Desenvolves persistência e resiliência. Geras satisfação e orgulho alheio e és mais facilmente alvo de reconhecimento.

Em suma, a gratificação diferida no trabalho é uma boa prática, pois conduz a uma visão profunda, duradoura e altruísta desse mesmo trabalho, que valoriza os seus desafios, os seus processos e o seu propósito.

Por isso, não te deixes enganar pela ilusão da gratificação imediata no trabalho. Ou na vida. Lembra-te: o trabalho é uma jornada, não um destino.

Como se diz no Alentejo, a título de adágio popular, “cadelas apressadas parem cães cegos”.