Não, não vais ser Batman nem Homem-aranha. Também não vais ser Tintim, Asterix ou Michel Vaillant, recuando aos meus tempos de juventude. Nem tão pouco Lucky Luck, desafiando a rapidez da tua própria sombra. Nada disso.

Porém, todos reconhecem algumas características interessantes a estes personagens: força, inteligência, habilidade de combater o mal, destreza, capacidade para enfrentar perigos, calma perante o desconhecido, racionalidade na hora da decisão. Tantas e tantas características que lhes associamos. Boas características.

Serve esta nota de início de ano apenas para um e um só propósito. Em vez de pensares muito nos objetivos e nas metas a atingir para 2024 – e nas listas de resoluções para o novo ano – que tal pensares e isolares os teus superpoderes a trabalhar e ampliar em 2024?

És bom ouvinte? Pois ouve ainda mais.

És bom a decidir debaixo de pressão? Pois não deixes de decidir nestes contextos.

Ficas calmo quando o circo arde à tua volta? Pois continua calmo quando tal acontece.

És bom agregador de pessoas e conciliador? Agrega e concilia os outros.

És bom a liderar? Pois lidera. Primeiro lidera-te a ti e depois lidera outros.

E é precisamente aqui que queria deter-me. Neste superpoder que é saber liderar nos tempos que correm. Em tempos de incerteza, é certo, mas não de caos ou de nevoeiro adensado como os de pandemia. Piores? Melhores? Na pandemia não havia incerteza. Havia medo, havia desconhecimento, havia apreensão, havia mesmo pânico e, ainda assim, muitos foram capazes de agir e mudar mais que nunca. Talvez por causa disso mesmo. Porque era uma época do tudo ou nada. Se agora só há incerteza – o que parece bastante menor que o grau de caos antecipado e de desconhecimento que se viveu na pandemia – pois aproveita para agir e continuar a mudar. Apesar de tudo, parecem tempos mais simples que os da pandemia. Mas não são.

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É preciso saber liderar em tempos pós-pandemia. Sem qualquer definição, é preciso saber apontar o caminho, orientar outros, galvanizar, respeitar, mobilizar, acolher, partilhar e, no final do dia, conseguir que todos em conjunto cheguem a resultados – estejam em remoto, distantes, com uma cultura empresarial enfraquecida, com digital, com inteligência artificial, com tudo o que hoje temos de diferente e… sem a desculpa de que se falhares havia uma pandemia. E isto é radicalmente diferente.

É, claro, uma liderança em incerteza.

É, igualmente, uma liderança muitas vezes em remoto.

É, também, uma liderança que procura uma nova “ordem” para a cultura empresarial.

É, paralelamente, uma liderança que vive em digital.

É, adicionalmente, uma liderança que respeita e acolhe.

É, concomitantemente, uma liderança que ouve e tem os outros em atenção.

É, identicamente, uma liderança autêntica, humana, genuína.

É, justamente, uma liderança que inclui, que acolhe a diversidade, que consegue a equidade. Mas é também uma liderança que deixa entrar a inovação, a IA, e a usa para a sua organização.

E nem por isso é uma liderança que possa colocar em perigo quaisquer resultados. Precisam-se resultados, muitos e bons resultados tal como está o mundo e tal como é exigida à liderança por todos os stakeholders e pela boa segurança psicológica dos liderados.

Com isto, é bom saber que precisamos de formar líderes – e essa é uma oportunidade gigante – porque eles não existem com estas características. E, se existem, é hora de os identificar e de os conseguir colocar a liderar o que têm a liderar. Nas empresas, na política e em tudo o resto.

O ano será um ano chave, crucial, em muitos aspetos. Porque será o ano em que se terão que descobrir e trabalhar superpoderes para colocar ao serviço dos outros. Mas, sobretudo, será o ano em que se procurarão pessoas, seres humanos, capazes de liderar com tudo isto ou também com isto. Liderança como grande superpoder. E esse será o maior desafio de todos: liderar para resultados sendo capaz de encapsular tudo o que deixei acima como características de liderança nos tempos que correm. Uma coisa é certa: quase ninguém estará à altura. Ou ninguém. E é aqui que a formação e a educação em liderança (e não só), seguindo novos paradigmas, se torna mais crucial que nunca.