Os amigos uns dos outros. Para todos aqueles que repetem como um mantra que temos de ser amigos uns dos outros e que não há nada mais bonito que a amizade relembro que Berardo era amigo de Jośe Sócrates que por sua vez era amigo de Vítor Constâncio. Amigos de alguns dos atrás referidos também eram Zeinal Bava e Henrique Granadeiro. Obviamente Ricardo Salgado era amigo de todos… Como se percebe pelo impacto que tanta amizade deixou na CGD, na Portugal Telecom e no BCP para não irmos mais longe, era bem melhor que se tivessem odiado!

Os amigos de Peniche. Em Peniche, onde estão devidamente musealizados, são contra a tortura.  Em Lisboa votam contra o pesar pelo massacre de Tiananmen. Em Peniche, eles lutam contra o esquecimento das arbitrariedades do Estado Novo. Em Lisboa fazem comunicados a apoiar o ditador Maduro. Em Peniche exaltam a luta pela liberdade, em Lisboa não sabem se a Coreia do Norte é uma ditadura.

Os amigos de Peniche politicamente falando caracterizam-se por em Peniche serem contra a ditadura que vigorou em Portugal entre Maio de 1926 e Abril de 1974 mas assim que a ditadura acontece noutro espaço ou tempo os amigos de Peniche manifestam-lhe o seu apoio por todos os meios ao seu alcance. Mais propriamente os amigos de Peniche, vulgo PCP, não são contra as ditaduras são apenas contra as ditaduras que eles ou os seus amigos não controlam.

Os amigos dos animais. Quando se pensava que os sociais-democratas não podiam ir a pior eis que o PSD veio propor três anos de prisão para a morte de um animal de companhia, como um cão ou um gato, que não esteja “assente em prática veterinária ou em qualquer outra causa de justificação, ainda que provocada sem infligir dor”. De facto com o PSD à beira de se tornar no animal doméstico do PS não há nada mais apropriado que apresentar um projecto destes que, no limite, visa salvar o PSD de, qual canário em desgraça, morrer esganado às mãos de António Costa.

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Passando para os animais propriamente ditos aquilo a que estamos assistir em nome do amor aos animais (preferencialmente de pêlo e fotogénicos) é à produção de uma legislação tenebrosamente autoritária, para os humanos (os únicos seres a quem as leis se aplicam!) Qualquer um pode ver-se transformado num criminoso simplesmente porque não custeou a hemodiálise do gato ou o tratamento oncológico do cão.

A histeria instalada nesta matéria leva a que ninguém de momento arrisque mais que uns vagos avisos quer sobre o totalitarismo subjacente a estas propostas legislativas quer sobre o impacto da que já foi aprovada: a proibição do abate nos canis está a levar à proliferação das matilhas de cães vadios e obviamente não vacinados. O regresso da raiva tornou-se uma possibilidade em Portugal  40 anos depois de ter sido dada como erradicada!

Os amigos do alheio. Como é que em seis anos uma dívida de 460 euros passa para 31 mil? Não sei nem para o caso interessa se Herculano Soldador tentou pagar, como relatou à SIC, os 460 euros que devia de portagens quando, em 2013, decidiu cancelar o contrato de Via Verde. Sei que não é moralmente aceitável criarem-se taxas, coimas, multas que multipliquem desta forma um montante em dívida.

O amigo de todos. Marcelo que diz provir da direita quer ser eleito com os votos da esquerda para refundar a direita e desse modo reequilibrar o regime. Para lá do tacticismo lúdico subjacente a este exercício Marcelo quer ser reeleito com os votos de todos numa espécie de apologia da amizade universal. Esquece Marcelo que de um PR não se espera que tenha amigos mas sim valores. Na falta deles juízo também serve.