Como apresentado, neste espaço, na parte 2 e 3 da crónica “As eleições para o Parlamento Europeu e o seu significado para o futuro da União Europeia” há, não inesperadamente, pontos em comuns entre as forças contrárias à construção de uma União Europeia que se quer baseada em democracias liberais, sendo inclusiva, tolerante e cosmopolita. Estas forças (nos extremos) são o Grupo da Identidade e Democracia (GID), onde se sentarão os eurodeputados do Chega, e a Esquerda Unitária/Esquerda Nórdica Europeia (GUE/NGL) onde estão os representantes do Partido Comunista Português.

Para consumo interno, quando apresentam as suas intenções do que querem fazer, ou fazem, no Parlamento Europeu, ambos os partidos insistem num ponto: que a União Europeia quer subordinar Portugal. No site do Chega, na página sobre as áreas do programa eleitoral para as legislativas, pode-se ler que o partido quer “(d)efender o Modelo da “Europa das Nações Soberanas”, modelo da Cooperação, e repudiar o Modelo Federal, o modelo da Subordinação” (as letras capitais para início de certas palavras é um tique de escrita bizarro, mas isso é um detalhe num documento mal redigido, com gralhas e más estruturas frásicas). Já o PCP, no Comunicado do Comité Central de 15 de Abril (sic) de 2024, também escreve que o partido rejeita a “estratégia de submissão de Portugal ao processo de integração capitalista europeu, combatendo concepções federalistas que esvaziam a soberania dos Estados e subordinam os seus interesses nacionais aos das grandes potências”.

Este fetichismo com a “submissão”, a “subordinação”, o “federalismo” são chavões vazios que não refletem em nada o que é o projeto Europeu. Federalismo é algo que não está num horizonte médio ou mesmo a longo prazo (um desgosto para o autor destas crónicas, que é um convicto federalista). De facto, se estivermos, por pouco tempo que seja, na “bolha de Bruxelas”, muitos federalistas sabem que é um erro estratégico apresentar essa opção ao eleitorado Europeu. Pode-se, sem dúvida, dizer que existe uma maior integração em processos relativos a questões económicas, industriais, energia, ambiente, sociais, legais, até mesmo culturais. Porém isso não é um modelo federal de governação.

Já a subordinação é uma espécie de “diabo” (tantas vezes agora invocado no discurso político nacional) para amedrontar todos aqueles que têm receio que vão ser os Espanhóis, ou os Franceses, ou os Alemães (cada um escolhe a sua assombração favorita) que “vão mandar em nós”. De facto, e pensando num possível modelo de uma “Europa de Nações Soberanas”, isso vai querer dizer que voltaremos à “lei do mais forte” que caracterizou a Europa durante décadas e que nos levou a duas guerras mundiais. A Madame Le Pen, para dar o exemplo do maior partido dentro do GID, já fez bem claro qual a sua ideia de Europa de nações soberanas, é o fim dos apoios franceses para a União Europeia, e a priorização dos interesses da França sobre o dos outros, com o gigante alemão mesmo ao lado, que responderia de forma igual. Já o PCP (em certa parte uma ilha dentro do GUE/NGL), parece, pelas suas posições, que dariam a União Europeia a Putin se pudessem, o que nunca deixa de ser ridículo quando se observa o que se passa na Rússia a nível de centralização da riqueza e da oligarquia reinante: “o grande capital” só é nocivo, para o PCP, quando não é aquele que é controlado diretamente pelo Kremlin.

Outro argumento é que a União Europeia não tem legitimidade democrática, quando o Parlamento Europeu é eleito democraticamente, a Comissão Europeia é aprovada pelo Parlamento, e o Conselho Europeu é onde se sentam os líderes, democraticamente eleitos, de cada Estado Membro. O eleitorado português tem assim uma escolha fácil de entender. Votar nos partidos que querem promover, e melhorar o projeto Europeu. Ou votar contra os seus interesses, como cidadãos de um Estado Membro integrado na União Europeia, e dar poder aqueles que não têm qualquer intenção de proteger, ou promover, Portugal.

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