No passado de Outubro várias greves aconteceram no sector da Saúde, protagonizadas pelos enfermeiros portugueses. Com essas greves, inúmeros incómodos foram criados aos utentes/doentes/famílias e o mais mediático, foi a não realização de muitas cirurgias e adiamento de cirurgias do âmbito oncológico.

A greve traz transtornos aos serviços e aos utentes destes serviços, que no fundo, são a razão da existência dos mesmos. Então, porque fazem greve os enfermeiros portugueses? Parece-me importante, dar a conhecer à sociedade, de entre outras razões, as seguintes, pelas quais os enfermeiros portugueses fazem greve:

  • Lutam pela dignificação e respeito pelos cuidados de saúde que prestam e exigem respeito do Serviço Nacional de Saúde, pelos políticos e pelo governo;
  • São funcionários da administração pública, licenciados e muitos com mestrado e doutoramento, com valor remuneratório de ingresso mais baixo, mal remunerado ao longo de toda a carreira, em comparação com outras classes e carreiras;
  • Não possuem uma carreira profissional digna e actual;
  • Não progridem nas suas carreiras há cerca de 14 anos (13 anos, 9 meses e muitos dias, alguns até mais);
  • A situação existente (carreira?) não contempla as categorias diferenciadas de enfermeiro especialista e enfermeiro-chefe/gestor;

Interessa dizer que os enfermeiros portugueses quando exigem o aumento do número de enfermeiros, o respeito e cumprimento das dotações seguras por serviço e maior número de enfermeiros por turno, é para poderem tratar melhor dos seus utentes/doentes/famílias.

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Não tenhamos dúvidas: quanto menor for o número de enfermeiros nos serviços e unidades, por não cumprimento das dotações seguras (por questões economicistas ou outras), pondo em risco potencial a qualidade dos cuidados de saúde prestados, pior serão tratados os utentes/doentes/famílias. Há uma consequente degradação dos cuidados e diminuição do tempo útil e possível que o enfermeiro passa junto dos seus pacientes, começando só a haver o “tratar e reabilitar” doentes, depois da doença instalada e, inequivocamente, deixando de haver prevenção.

É minha convicção, que os enfermeiros portugueses defendem o Serviço Nacional de Saúde-SNS, inquestionavelmente! Mas defendem um SNS onde a equidade seja uma realidade. Que não seja sub-orçamentado, em favor de milhões de euros injectados numa banca falida. Numa subalternização e submissão aos interesses privados na saúde.

Os enfermeiros portugueses querem unidades, hospitais e centros de saúde do SNS bem equipados, dignos e com boas condições, para melhor poderem acolher, acomodar, tratar e cuidar os seus utentes/doentes e famílias. Onde possam pôr ao serviço do cidadão todas as suas capacidades e competências profissionais, onde possam exercer a sua capacidade de gestão, de investigação e de parceria com o seu conhecimento e evidência científica, no seio das equipas multidisciplinares.

Os enfermeiros portugueses querem atender, tratar e cuidar melhor os cidadãos, querem trabalhar ainda mais na prevenção, querem desenvolver mais intervenções e educação para a saúde nas escolas, na sociedade e na comunidade. Querem mais investimento na modernização dos equipamentos e instalações postas ao serviço dos cidadãos. Querem as mesmas oportunidades de tratamento e reabilitação para os cidadãos, sejam eles do norte ou do sul, do litoral ou do interior, ou áreas metropolitanas.

Os enfermeiros portugueses têm uma profissão que acompanha a pessoa, em todos os momentos do ciclo vital, desde o nascimento até à morte. Querer ter melhores condições de carreira e remunerações para esta classe profissional, é também investir em profissionais motivados. E isso é querer e desejar atender, tratar, cuidar e reabilitar melhor. Estamos ao serviço da vida! E queremos melhor saúde para todos.

Enfermeiro Especialista em Saúde Comunitária