Quotas, para que vos queremos? Tem sido tema de muitas discussões e de tantas opiniões. Permitam-me que resuma o problema a pura campanha política.

Estamos cansados de preocupações que se transformam em instrumentos e estandartes políticos. Encantado vai o povo com medidas que ilusoriamente promovem a igualdade quando na verdade apenas a estão a prejudicar. E o mais grave é que o fazem mesmo por baixo das nossas barbas. Até porque defender as quotas fica sempre bem na fotografia, não é? Os bons da fita que defendem as quotas são os mesmos que estão a alimentar cada vez mais um problema que existe e que precisa de soluções.

“Corrigir a falta de diversidade no espaço público”, que é aquilo que o PS se quer propor a fazer, não se resolve com quotas raciais. Resolve-se com reformas estruturais e eficazes que promovam o acesso a uma educação de qualidade, que promovam o emprego e a sustentação económica. A segregação social não se resolve com a implementação da discriminação positiva mas sim com reformas públicas eficazes que diminuam os riscos de pobreza. Porque o que está em cima da mesa é um tema chamado Pobreza. E as quotas não são a solução milagrosa para um problema que muitos tentam ignorar. A pobreza afecta brancos, negros, ciganos, homens e mulheres e este problema está a ser convenientemente camuflado.

É fantástico como em Portugal há o eterno dom de se tentar solucionar um problema gerando sempre outros problemas. Foge-se às responsabilidades e não se cuida da raiz da questão. Anda-se às voltas a tentar perceber o que é que dá menos trabalho e o que é que dá mais votos.

A implementação de quotas – não só para o acesso ao ensino superior, mas para outras finalidades – seria nada mais nada menos que a oficialização do racismo em Portugal. Pois, são tão coitadinhos que até precisam de medidas especiais para chegarem a determinados lugares, não é? E assim, tão facilmente, se faz do racismo algo tolerável e aceitável.

O verdadeiro racismo reside em aceitar que determinada etnia possa precisar de medidas especiais para chegar a determinados lugares. Se há constrangimentos a este nível – porque os há! – não serão as quotas que os vêm diminuir nem possibilitar um acesso justo e igual.

Não me passa pela cabeça achar que há quem valha mais e quem valha menos. Existe, sim, quem valha. Que seja branco, preto, cigano, o que quisermos. O homem é um sem fim de possibilidades e a diversidade é a nossa natureza. Não acredito numa sociedade que beneficie em função da cor, não acredito na política que promove a segregação social, mas acredito, profundamente, numa sociedade que, independentemente da cor ou do género, se faz valer pelas suas conquistas.

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