Na Federação Espanhola de Futebol não há espaço para o troféu conquistado pela seleção espanhola porque foi ocupado pela arrogância de Luis Rubiales. É tudo o que se tem falado nos últimos dias. Graças às suas ações e à sua falta de capacidade de reflexão, fala-se da sua falta de civismo e bom senso e não da grande vitória da equipa espanhola.

É chocante a quantidade de pessoas que defende a ação de Rubiales. E por muito que alguns digam que o mundo online é um mundo paralelo e que isso não é representativo na nossa sociedade, enganam-se. As opiniões na esfera online são apenas uma manifestação em forma digital de pessoas físicas.

Em 2017, quando surgiu o movimento Me Too muitos criticaram as sobreviventes, acusando-as de fabricarem histórias ou de oportunismo. Agora, em 2023, passados seis anos, observamos um momento de assédio captado durante o ato, e nem assim esta prova parece ser suficiente para inúmeras pessoas levarem a sério esta falta de respeito para com Jenni Hermoso. Um elevado número de pessoas defende Rubiales dizendo que foi um ato no calor do momento, até mesmo um verdadeiro momento de euforia. Qual a mensagem que passa? Que as vítimas de assédio ficam sempre a perder: quer recontem os acontecimentos, quer tenham provas fotográficas, as vítimas nunca são encaradas com seriedade.

“A melhor das intenções” nem sempre tem boas intenções. Pense-se no seguinte exemplo: um marido bate na mulher porque não gosta de como ela age em público. Tenta assim, através da violência, educá-la. Age deste modo pois afirma ter boas intenções, mas existe um grande fosso entre uma boa intenção e uma boa ação. Estas não são sinónimas ou equivalentes. Se alguém durante uma discussão, no calor do momento, der uma chapada à pessoa com quem está a discutir, independentemente de ter sido no calor do momento, essa ação é ilegal. Então, porque é que o calor do momento neste caso é a justificação de tantas pessoas para defender a ação de Luis Rubiales? Porque vivemos em sociedades em que muitos dão valor à espontaneidade sexual, como que um fetiche, e validam-se como românticas e genuínas tais ações. Enquanto a violência é automaticamente associada a algo negativo, beijar é associado a ações amorosas e por isso é-lhe atribuído um significado positivo, criando uma resistência a que se consiga ver no ato de beijar alguém com más intenções. Beijar é sempre visto como uma boa intenção. Contudo, como sabemos, de boas intenções está o inferno cheio.

Mesmo após ter sido chamado à razão Luis Rubiales continua a recusar reconhecer a sua falta de civismo. Se o seu ato para com Jenni Hermoso mostrou o seu lado feio, a sua falta de responsabilidade, não só enquanto indivíduo, mas também como profissional, grita a bom som a falta de maturidade deste homem. O seu discurso no qual diz que não vai apresentar a sua demissão comprova ainda mais a sua mentalidade machista e a sua arrogância. A grande questão mantém-se: como é que beijar alguém com quem não se tem nenhuma relação de intimidade faz sentido?

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