As primeiras cooperativas de habitação em Portugal surgiram entre os finais da década de 70 e início de 80 para dar resposta às necessidades de habitação das famílias de classe média baixa, sem possibilidades de comprar uma casa. Simplificando ao máximo, trata-se de um modelo de acesso à habitação a custos controlados, pois são casas construídas com o apoio financeiro do Estado.

Com a crise de acesso à habitação que voltamos a viver hoje, as cooperativas estão a ganhar espaço na agenda como uma solução que pode ajudar a aumentar a disponibilidade de imóveis e reduzir os custos. Pode ser uma opção muito atrativa, especialmente para as faixas da população com maiores dificuldades em aceder a uma casa. E o facto é que estas faixas são cada vez mais alargadas, com uma equação complicada de resolver, a não ser por via do aumento da oferta.

As contas são fáceis de fazer: à boleia do baixo nível de produção de novas casas na última década, os preços aumentaram, mesmo em condições de pressão económica e até durante a pandemia. Olhando para o Índice de Preços da Confidencial Imobiliário, de 2015 a 2023, os preços cresceram a uma média de 11% ao ano. Já os salários médios (brutos) aumentaram, no mesmo período, menos de 3,0% ao ano, em termos médios. Chegamos a 2023 com um salário médio bruto em Portugal na ordem dos 1.500€, segundo dados do INE. A esta equação junte-se a inflação dos dois últimos anos, que reduziu poder de compra às famílias, e o aumento intenso dos juros, que fez disparar a prestação da casa ao banco em mais de 50%. Passamos de uma prestação média de 258€ em 2021, para 396€ em 2023, com juros médios no crédito à habitação de 0,8% para 3,6%. Mais um ingrediente para a receita é o facto de a habitação representar cerca de 39% das despesas médias das famílias.

Resumindo, os salários aumentaram muito pouco nos últimos anos e continuam muito baixos face ao custo de uma habitação, num mercado em que a subida de preços é, sobretudo, resultado do desequilíbrio entre a oferta e a procura. Num cenário mais desafiante, de crescimento rápido e acentuado das taxas de juro, as famílias ficaram mais sobrecarregadas em termos de custos de habitação. Embora fosse importante também repensar os salários, a resposta a este desequilíbrio está no aumento da oferta que tenderá a amenizar o preço das casas.

Para os jovens, a situação é mais complicada. Ter a primeira casa – seja pela compra, seja pelo arrendamento – é uma tarefa que se tem tornado cada vez mais difícil. Lidam com a mesma realidade de preço, mas estão a entrar no mercado – não têm uma anterior casa para a troca – e têm menor capacidade salarial, o que limita bastante o acesso ao crédito, especialmente com a necessidade de ter 10% a 15% de capitais próprios. Dados do INE mostram que se o salário médio (bruto) dos 35 aos 44 anos era de 1.510€, para os jovens dos 25 aos 34 anos era de 1.263€, ou seja, menos 16%.

Este artigo de opinião foi publicado no âmbito do projeto Rota Imobiliária, uma parceria entre a JLL e o Observador Lab. Saiba mais aqui.

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