Ainda antes de começar, um aviso de interesse público. Tem havido constrangimentos no acesso ao Portal das Matrículas, do Ministério da Educação. Há problemas com a inscrição  dos alunos para o próximo ano lectivo e, na verdade, só há garantias de a questão estar resolvida a 6 de julho. “Como assim, 6 de julho? Se o prazo para as matrículas acaba já no próximo sábado”, perguntará um leitor mais atento. E, sejamos sinceros, picuinhas.

Avanço dia 6 de julho como data para a resolução deste problema, pois acabei de ver o anúncio da Autoridade Nacional para a Segurança Rodoviária segundo o qual, nessa data, passarão a funcionar 25 novos radares, que se juntam aos 98 já existentes. Ou seja, a 6 de julho operar-se-á um pequeno milagre que extinguirá qualquer limitação ao registo de matrículas. Em julho os radares entram em funcionamento e vão ver que, num instante, entra a gosto do Estado, nos seus cofres, o nosso dinheirinho.

Bom, mas em que medida estão estes dois temas relacionados? Na medida em que me deram um jeitão para arrancar com a crónica. Que é a melhor serventia a que um tema pode aspirar, convenhamos.

Onde também houve novidades foi no alargado (em caso de processo judicial invocarei gralha: queria dizer “alegado”, como qualquer pessoa de boa-fé perceberá) caso das cunhas para o tratamento das meninas gémeas no Hospital de Santa Maria. A primeira novidade foi que, sobre este tema, o ex-secretário de Estado da Saúde, Lacerda Sales, tem menos vontade de falar do que um paciente à saída do dentista após extrair um canino incluso alojado no céu da boca. Corrijo. Ambos os caninos inclusos, aninhados há décadas no céu-da-boca.

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Ou melhor, Lacerda Sales falou. E muito. O discurso foi farto. Foi é pouco variado. Como aqueles buffets de restaurante “japonês” em que o Japão é o único país asiático do qual nada no estabelecimento é oriundo, dos ingredientes aos funcionários, com destaque para as chamuças. O ex-governante repetiu algumas 50 vezes (não é força de expressão. Segundo o Observador foram 49) que invocava o direito ao silêncio para não responder aos deputados. Quer dizer, acho que foi isso. Acabei por não perceber muito bem. Precisava que Lacerda Sales tivesse repetido só mais 27 vezes.

Mas o grande problema nem foi Lacerda Sales. O grande problema foi mesmo o atraso desta comissão parlamentar de inquérito. Nem foi um atraso significativo. Não foi uma demora como, por exemplo, a da Justiça para julgar José Sócrates. Para terem uma ideia, já passou tanto tempo desde que Sócrates foi detido à saída daquele avião, como passou do voo inicial dos irmãos Wright até ao instante em que Sócrates foi detido à saída daquele avião. Mais dia, menos década.

Desta vez, o atraso foi só de, para aí, duas semanas. De qualquer modo foi comprometedor. Se estas audições têm acontecido antes de 13 de junho, talvez os Casamento de Santo António tivessem arranjado um espacinho para encaixar no tradicional evento a culpa no caso das gémeas. Sendo assim, e sem grande surpresa, está visto que a culpa vai morrer solteira. Nem com uma longevidade combinada de um Fernando Pessa e um Manoel de Oliveira se arranja quem espose a culpa neste caso. Mesmo com tantos e tão ilustres candidatos.

A propósito de ilustres candidatos, continua a saga de António Costa rumo à eventual presidência do Conselho Europeu. Segundo li, o mandato fraquinho do ex-presidente, Charles Michel, e a hipótese do próximo durar apenas dois anos e meio e não os habituais cinco, já baixaram muito a fasquia para Costa. Mas, portugueses, calma. Mantenhamos a esperança. A julgar pela golpaça de 2015 que deu em geringonça, se há alguém capaz de actuar de forma bem rasteirinha é António Costa.