A medição de valor em saúde é uma temática de capital importância, desde logo pela necessidade de centrar os cuidados de saúde no doente. O conceito de value based healthcare (VBH) constitui um modelo inovador. Sobrevém da relação entre os resultados em saúde significativos para a qualidade de vida do doente e os custos decorrentes do tratamento, indispensáveis para alcançar esses resultados. Este princípio permite, também, adequar a aposta em inovação em saúde e quantificar a aplicação de recursos em comparação com os resultados. Tem em consideração indicadores reportados pelo doente, indicadores clínicos, indicadores de processo e custos. Permite, assim, colocar o foco em boas práticas de gestão clínica.

No sistema convencional, os prestadores geralmente recebem tendo como base os serviços que oferecem ou o tempo e os recursos que investem para realizar uma determinada atividade. O foco é melhorar a saúde das pessoas, mas independentemente de ser alcançado ou não esse resultado, esse aspeto não é avaliado nesse modelo.

Os custos em saúde têm aumentado exponencialmente devido a uma multiplicidade de fatores, nomeadamente o padrão de morbilidade da população, com uma prevalência superior de doenças crónicas, o aumento da esperança média de vida, a integração de novas tecnologias em saúde, procedimentos gradualmente mais complexos e dispendiosos, novas terapêuticas farmacológicas, entre outros.

O conceito de valor em saúde proporciona um superior comprometimento e responsabilização de todos os participantes, contribuindo sinergicamente para melhorar a saúde dos cidadãos, possibilitando mais eficiência, sustentabilidade e aprimorando o sistema de saúde. Permite melhorar indicadores, outcomes e a satisfação dos utentes.

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Contribui também para uma maior coesão social. Permite estabelecer a relação entre melhores resultados, que interessam aos doentes, e o custo certo para atingir esses resultados. Uma parte significativa dos custos, cerca de 20 a 30%, estão associados a desperdício. A falta de integração de dados dos doentes é uma das causas de desperdício no setor. Valor em saúde é tentar conseguir os melhores resultados para os doentes a um custo adequado. Não ao menor custo mas, sim, a um custo adequado. O custo que é preciso para ter o resultado que queremos alcançar. Este modelo está, por exemplo, integrado no sistema de saúde dos Países Baixos e da Noruega.

Este novo paradigma é centrado nos resultados obtidos e não no volume. O foco é o aumento do valor agregado para os doentes e o alcance de níveis de excelência de eficiência, em função de uma alocação mais racional dos recursos, ao garantir diagnósticos mais corretos, evitando procedimentos e tratamentos desnecessários. O Valor em Saúde é medido através de resultados, custos e impacto socioeconómico da prestação de cuidados de saúde a cada cidadão.

É fundamental que o doente seja tratado de uma forma compreensiva e integrada. O utente deve ser instruído e incluído na tomada de decisão, numa lógica de partilha. A aposta na literacia em saúde é um ponto importante. Os cuidados ao doente exigem uma conceção conectada de todas as partes da cadeia de prestação de cuidados. Os cuidados devem ser integrados e coordenados, apostando num funcionamento dinâmico e articulado para criar valor para os doentes. A definição de métricas de qualidade de vida atendendo à satisfação do doente é fundamental.

A existência de sistemas de registo e informação adequados e precisos é determinante, nomeadamente um sistema único de plataforma de registo clínico, codificação clínica, indicadores clínicos de qualidade, bases de dados, entre outros. A colaboração entre entidades é fulcral. É necessário a partilha de dados, obedecendo naturalmente à legislação. A transformação digital é crucial na colheita e análise de dados que possibilitam a medição do valor em saúde. Os Sistemas de dados devem ser conectados e compartilhados para rastrear e avaliar os resultados e os custos. O custo-efetividade e resultados em valor/função são fundamentais. É necessário gerar ganhos em saúde.

É crucial perceber o potencial do VBH para a melhoria da prestação de cuidados de saúde, incluí-lo na definição estratégica da saúde em Portugal e integrá-lo como um pilar de um sistema diferenciado. É fundamental a criação de um Conselho Clínico, constituído por médicos que são referência nas suas áreas de especialidade e de diferenciação. Deverão ser estabelecidos e examinados os indicadores relevantes, quer dos resultados quer dos custos, assinaladas oportunidades de aperfeiçoamento e aplicadas soluções. A abordagem deve incluir não apenas o tratamento mas a prevenção das complicações, a educação e a promoção de comportamentos saudáveis. E envolver os vários profissionais de saúde, trabalhando de forma multidisciplinar. Devem ser implementados protocolos clínicos que reproduzam a melhor prática assistencial, que incluem exames de diagnóstico, procedimentos e tratamentos no tempo correto. Os doentes passam a estar no centro de tudo. O custo por um acompanhamento regular, uma vigilância maior do utente, um maior número de profissionais envolvidos, pode ser maior numa fase inicial, mas o resultado em saúde tendo em consideração o total do ciclo de cuidados no percurso clínico é superior para o doente e para o sistema.

Em resumo e como descreve Porter é essencial a: organização em unidades práticas integradas de cuidados de saúde; medição de resultados e custos para cada doente; instituição do pagamento para ciclos de cuidados; integração dos cuidados entre os diversos serviços de saúde; expansão do acesso a serviços de excelência; edificação de capacidade tecnológica que atue como facilitadora do processo.