O presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, reiterou o desejo de ver o Capitão de Abril no Panteão Nacional. As declarações foram feitas ao Observador na sede da Associação em Lisboa, esta terça-feira, véspera da transladação de Sophia de Mello Breyner para o Panteão. E explicou que esta vontade não vai necessariamente contra o desejo expresso por Salgueiro Maia no seu testamento.

“Eu acho que para se estar no Panteão não é necessário estarem lá os restos mortais, como acontece com outros que também lá estão”, disse Vasco Lourenço ao Observador, após a apresentação do livro Capitão de Abril, de e sobre Salgueiro Maia. Vasco Lourenço referia-se à vontade expressa no testamento de Salgueiro Maia de que os seus restos mortais ficassem na sua terra natal, Castelo de Vide, em “campa rasa” e no “caixão mais barato do mercado”.

“Simbolicamente, acho que Salgueiro Maia representa bem o 25 de Abril e os militares de Abril, e isso pode-se conjugar com a vontade dele e da família de os restos mortais estarem em Castelo de Vide”, explicou. Para o presidente da Associação 25 de Abril, o que é necessário é que o poder político assuma esse desejo. “Podem arranjar subterfúgios para dizer que não há condições e que a família não quer. O que a família não quer é que os restos mortais saiam de Castelo de Vide, e muito bem, porque é para cumprir a vontade de Salgueiro Maia. Não percebo porque é que levantam problemas a que ele esteja lá”, disse.

A proposta de trasladar Salgueiro Maia para o Panteão foi lançada a 21 de janeiro deste ano pelo socialista Manuel Alegre, no âmbito do 40.º aniversário do 25 de Abril. A trasladação seria a “homenagem nunca prestada” ao “herói e símbolo do 25 de Abril Salgueiro Maia”, disse Manuel Alegre, durante um discurso em Coimbra. Salgueiro Maia encontra-se sepultado no cemitério de Castelo de Vide desde a sua morte, em 1992, por cancro. A escritora Sophia de Mello Breyner Andresen será transladada na quarta-feira e o próximo poderá ser o jogador de futebol Eusébio, que faleceu em janeiro.

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Natércia Salgueiro Maia, viúva do Capitão de Abril, também presente no lançamento do livro, explicou ao Observador que “apesar do que muitas pessoas pensam, a vontade dele já foi feita”. “Enquanto eu for viva, talvez seja egoísmo meu, mas gostava muito que os restos mortais continuassem em Castelo de Vide”, afirmou. Deixando tudo como está, o marido “continua a ser um símbolo de Abril e ali as pessoas também o podem homenagear”.

“Ele pediu para ser sepultado em Castelo de Vide e acho que devo cumprir. E eu também acho que ele gostaria de lá continuar. Daquilo que eu conheço, ele gostaria de lá estar, em campa rasa. Ele era assim.”, disse Natércia Salgueiro Maia.

Museu com espólio de Salgueiro Maia ainda não existe

O segundo pedido que consta do testamento de Salgueiro Maia é o estabelecimento de um museu com os bens que a mulher e os filhos não quisessem guardar para si. 22 anos após a morte do capitão a sua vontade ainda não foi cumprida, mas não está esquecida. “O edifício para o museu já foi adquirido e o projeto já existe”, explicou o presidente da Câmara de Castelo de Vide ao Observador. De acordo com António Pita, nas comemorações dos 40 anos do 25 de Abril a Câmara assinou um protocolo com a Direção Geral de Cultura do Alentejo e com o Turismo do Alentejo “no sentido de se procurar um esforço tripartido caso falhe a responsabilidade do governo”.

Para António Pita, o que está a impedir o avanço do museu é a “assunção de responsabilidades por parte da administração central”. Isto porque o objetivo é criar um museu de dimensão nacional, sobre o 25 de Abril e não apenas um museu municipal sobre Salgueiro Maia. “Queremos o museu integrado na Rede Portuguesa de Museus”, adiantou.