Muitos de nós crescemos com a série de animação Transformers. Apesar de sabermos que a par de muitos outros cartoons da década de 1980 a grande motivação da sua existência era ser uma espécie de anúncios glorificados de vinte minutos a brinquedos da Hasbro/Takara, a realidade é que o que resultou daí foi uma série de grande qualidade que sobreviveu à passagem do tempo. Podem acreditar que revimos Transformers G1 várias vezes nos últimos anos.

Não é preciso ser um fã dos famosos robots para sentir como uma verdadeira afronta o que Michael Bay fez no cinema. Ainda por pouco que se esperasse do autor, a alteração visual e de construção dos personagens tornou-as bem menos reais do que no desenho animado. A transfiguração que Optimus Prime, Megatron e restantes Autobots e Decepticons tiveram foi coisa para fazer estremecer qualquer fã.

Mas voltando à série original, cujos designs de personagens foram tão marcantes que ainda hoje muitos de nós guardamos os nossos Transformers intactos numa caixa. Já muitos jogos foram feitos em torno da franquia e da grande potencialidade que o seu elenco possui, mas infelizmente grande parte destas produções têm o universo cinematográfico de Bay como inspiração e não a série de há trinta anos atrás.

aqui escrevemos sobre o nosso entusiasmo à volta de Transformers: Devastation, o mais recente jogo da PlatinumGames que nos leva de regresso ao universo original da série original da Hasbro/Takara Tomy. Quando vimos o primeiro screenshot do mítico Optimus Prime com o seu design original, poligonal, com um vermelho vivo e uma postura de verdadeiro líder (que em nada se comparava com a sanguinária representação do cinema) percebemos que finalmente temos em mãos um jogo feito por verdadeiros fãs da série, daqueles que se levantavam cedo ao fim de semana para ver Transformers G1 e que se regozijavam logo nos primeiros segundos quando as guitarradas hard rock do genérico tocavam. Basta ouvir a versão ligeiramente diferente dos Lion e criada para o filme de 1986 para nos remetermos automaticamente para a nossa infância.

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https://www.youtube.com/watch?v=GOhnKIVLzOw

Transformers: Devastation, lançado dia 9 de outubro para quase todas as plataformas atuais tinha muito pouca margem para errar. O estúdio encarregue do jogo tem sido dos mais sólidos produtores de jogos de ação, tendo no seu portefólio jogos brilhantes e que elevaram o género onde estão inseridos como Bayonetta, Wonderful 101 e futuramente Star Fox Zero (que já tivemos a possibilidade de jogar, ainda que venha a ser lançado apenas no próximo ano). O segundo fator que serviu de quase garantia de sucesso foi a utilização do material original de Transformers G1, que tem sem dúvida maior “pano para mangas” do que os reboots da Sétima Arte da década passada.

A jogabilidade é a usual dos hack ‘n slash produzidos pela PlatinumGames: ação frenética que depende muito dos timings de pressão dos botões e que, se bem executados, dão origem a uma série de ataques especiais que envolvem os nossos Autobots transformarem-se em veículos e atacarem os seus inimigos. E digo Autobots porque apenas os “bons” Transformers estão disponíveis de forma jogável neste TF: Devastation, o que deixa um pequeno sabor agridoce para os fãs do lado negro da força de Cybertron, os Decepticons.

Um dos grandes pontos fracos deste excelente jogo de acção é mesmo a sua duração. O modo de história pode ser completado em cerca de cinco horas, o que poderá não justificar o preço actual do jogo (39,99€). O enredo bebe muito mais do cartoon do que dos elementos pseudo-reais/pseudo-sérios dos filmes de Bay, e demonstram os planos exagerados de Megatron em conquistar a Terra, destruir os Autobots e dominar o universo. Em Transformers: Devastation a narrativa é mesmo essa, tal qual num episódio clássico da série de animação, com todos os exageros, irrealismos e frustrações dos planos megalómanos de Megatron que são invariavelmente logrados por Optimus Prime.

O visual em cel-shading é um sonho tornado realidade para os fãs da série original, que veem os seus personagens favoritos ganharem vida como uma versão tridimensional do cartoon, e lutarem entre si por entre prédios e arranha-céus. As vozes originais estão de regresso para compor o embrulho de uma das melhores prendas que a gerações que vibraram com os anos 1980 poderiam receber do mercado dos videojogos.

Transformers: Devastation deixa uma pequena ironia no ar. Observando a aceitação que os media e os jogadores têm mostrado perante este jogo, o primeiro em muito tempo a ter a Generation 1 como inspiração, dir-se-ia que os fãs estão a repudiar as alterações e liberdades que Michael Bay fez e que criou uma visão distorcida da série para as novas gerações. Poderão estar abertas as portas a que um novo realizador pegue na franquia pelo tubo de escape, e adapte condignamente Transformers G1 ao cinema?

Ricardo Correia, Rubber Chicken