Os dados sobre a queda do avião da EgyptAir, que fazia a ligação entre Paris e Cairo, ainda estão a ser recolhidos, mas a tese de atentado terrorista tem ganho terreno. Dois especialistas em aviação civil contactados pelo Observador falam dos motivos que podem levar um avião a fazer um movimento brusco no ar e descer a pique e alertam para a importância da informação que estará nas caixas negras — mas também não deixam de parte a tese de terrorismo.

“Se for válida a informação que existe sobre os últimos instantes, o comportamento do avião foi muito anormal”, afirma Jaime Prieto, que lembra, no entanto, que uma guinada de 90 graus “pode fazer parte do início do procedimento de descida de emergência”. Ainda que isso deva acontecer de forma “controlada”, diz o piloto e ex-presidente do sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, coisa que não terá acontecido, de acordo com as informações já divulgadas pelas autoridades gregas.

O ministro da Defesa grego Panos Kammenos descreveu, durante a manhã desta quinta-feira, que o avião fez “guinadas abruptas” antes de descer vertiginosamente. “Ao que tudo indica, o avião fez uma queda vertiginosa, a uma velocidade superior à que se regista em descidas de emergência, nem aí se atinge aquela velocidade vertical”, afirma Jaime Prieto, que logo a seguir deixa tudo em aberto outra vez: “Mas o avião pode ter perdido capacidade aerodinâmica”. Aliás, o piloto fala em “situações muito semelhantes com o avião da Metrojet que caiu no Egipto” em outubro passado e que depois se verificou ter sido alvo de um atentado terrorista, reivindicado pelo Estado Islâmico.

António Reis, presidente da Associação de Pilotos Portugueses de Linha Aérea, explica que “se o avião estava com problemas técnicos de controlo tem de fazer movimentos mais abruptos”. Uma descida de emergência tem de ter na origem uma “falha estrutural”, adianta ainda Jaime Prieto, que dá como exemplos uma despressurização, fumos ou um incêndio a bordo. Nesses casos, a primeira abordagem dos pilotos é uma “volta a 90 graus em relação à rota”, depois inicia-se a tal descida controlada. “Há que perceber se essa volta foi iniciada pelo piloto”, explica Prieto.

A informação pode só ser revelada com acesso às caixas negras e aí os dois especialistas alinham. “Enquanto não se tiverem esses dados não se pode excluir nada”, diz António Reis ao Observador quando confrontado com a tese de atentado terrorista que as autoridades egípcias estão a colocar como uma possibilidade forte. O piloto ainda explica que o avião “emite um sinal após a queda que se mantém por uns dias” e que vai ajudar na localização, assim que for apanhado pelos satélites.

Os dados que existem sobre os 66 ocupantes do avião da EgyptAir dão conta da existência de três seguranças, o que, para Jaime Prieto, pode mostrar as precauções que a companhia estava a ter com as questões de segurança. Um dado que acaba por descartar uma das hipóteses inicialmente avançada: o eventual desvio do voo que se dirigia ao Cairo. “Os três seguranças teriam reagido”, diz o piloto. Mas há outros ataques possíveis no ar, com Jaime Prieto a sublinhar que “com a avaliação dos destroços já será possível ter uma ideia, como por exemplo a forma como a fuselagem for encontrada”. “Pode perceber-se aí se houve uma bomba, por exemplo”.

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