Num momento em que socialistas, bloquistas e comunistas ainda fecham os últimos detalhes do Orçamento do Estado para 2017, os avanços e recuos nas negociações continuam. Esta quinta-feira, em entrevista à SIC, Catarina Martins defendeu um aumento extraordinário de dez euros para as pensões até 845 euros, uma evolução face à proposta original dos bloquistas — que inicialmente defendiam uma atualização da mesma natureza, mas só para pensões até aos 628 euros. O PCP registou a evolução. “Sucessivamente está-se a tentar corrigir o tiro“, sublinhou João Ferreira, eurodeputado comunista.

Nos estúdios da SIC, Catarina Martins reconheceu que o tema das pensões ainda não estava fechado e admitiu que a fórmula de atualização das pensões “é muito diminuta face ao poder de compra que os pensionistas perderam”. O objetivo do Bloco de Esquerda é, por isso, que “as pensões até 845 euros sejam aumentadas em 10 euros e que todas as outras pensões sejam atualizadas em função da inflação”.”Mas o Governo tem uma posição diferente”, lamentou logo a seguir Catarina Martins.

Num primeiro momento, no entanto, a proposta do Bloco de Esquerda era ligeiramente diferente. Quando o PCP insistia num aumento extraordinário de dez euros euros para a grande maioria das pensões — ficaria de fora o escalão mais alto –, Catarina Martins veio clarificar a posição do partido: “Nós não tratamos pensões altas da mesma forma como tratamos pensões mais baixas. É uma questão de justiça e achamos do ponto de vista das pensões até aos 600 e poucos euros que precisam de ter um aumento real e 10 euros parece-nos um valor adequado“.

O PCP mostrou-se insatisfeito com a fórmula encontrada pelo Bloco de Esquerda. Horas antes da entrevista de Catarina Martins, Jerónimo de Sousa não poupou críticas à proposta bloquista e pressionou o Governo de António Costa. “Que critério de justiça preside aos que agora vêm defender, como o PS ou o Bloco de Esquerda, um aumento de dez euros só para as reformas até 600 euros? Então e os reformados que recebem 700, 800 ou mesmo 900 euros são considerados ‘ricos’? Não há critério de justiça nesta proposta, antes o fomentar da divisão entre reformados e continuar a criar a ideia de que se combatem as baixas pensões através do bloqueamento do seu aumento real”, questionou Jerónimo de Sousa.

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Os bloquistas, apurou o Observador, garantem que os valores nunca estiveram fechados e que as negociações com o Governo socialista prosseguem.

Quem não deixou de notar a evolução da proposta bloquista foi João Ferreira, eurodeputado do PCP. Poucos minutos depois da entrevista de Catarina Martins, o comunista ia à SIC Notícias registar as tentativas sucessivas do Bloco de Esquerda de “tentar corrigir o tiro“.

Essa limitação dos 628 euros era errada. Sucessivamente está-se a tentar corrigir o tiro, mas, ainda assim, creio que há injustiças. É justo que se faça da valorização das pensões um objetivo primordial”, afirmou João Ferreira. “Não posso deixar de lembrar que há pouco vinha para aqui [estúdios da SIC Notícias] e vi um cartaz do Bloco de Esquerda”, continuou o comunista, em que o Bloco defendia que era preciso valorizar as pensões. Ora, com a proposta do Bloco de Esquerda, argumentou o eurodeputado, muitos milhares de reformados “não veriam as suas pensões valorizadas”.

Em entrevista ao DN/TSF, Jerónimo de Sousa garantiu que Vieira da Silva, ministro da Segurança Social, estava a “considerar a proposta” comunista. Mas António Costa, até ver, só admitiu um “aumento justo” das pensões.