Há algo agridoce em ouvir a admiração na pergunta “isso é Português?!” quando se mostra Syndrome a alguém. Temos uma autoimagem pouco abonatória das nossas capacidades. Por norma, minimizamos o que por cá fazemos a não ser que seja perante alguém de fora, um estrangeiro. É mau que assim seja. Mas é bom, muito bom, para o alvo da questão.

Syndrome é um jogo português, desenvolvido pelo pequeno estúdio Camel 101, com apenas três elementos, em colaboração com a também portuguesa Bigmoon Entertainment. Syndrome faz levantar alguns olhares incrédulos. Tem uma elevada qualidade, mais do que aquela que, normalmente, se associa a videojogos portugueses.

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Nem sempre é necessário ser revolucionário para se produzir um produto interessante ou apelativo. Syndrome vai beber inspiração a vários jogos e ambientes e mostra-nos o seu mundo de forma inatacável. Não há nada que se possa apontar ao ambiente tenso, negro e fumarento que nos remete para jogos como Alien Isolation, System Shock ou Dead Space.

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O thriller de ficção científica, num ambiente confinado e desconhecido, onde os inimigos se revelam aos poucos e o perigo espreita por entre as frinchas das paredes. Acordados antes do tempo do nosso sono criogénico, vemos que algo vai muito mal na nave que nos transporta. A sugestão, mais do que a apresentação direta do perigo ou dos inimigos, constrói momentos de tensão crescentes e emotivos, colocando-nos na pele de alguém perto do ponto de ebulição.

Os corredores claustrofóbicos, pintados por um fabuloso jogo de luz e sombras, servem de palco à história, cativante e opressiva. A luz baila por entre grades, cabos e chapas metálicas e revela-se insuficiente para mostrar tudo.

O reino ali é das sombras, e é através delas que se ouvem gritos, gemidos e ruídos de fricção e torção metálica que compõem o ramalhete quase perfeito de imersão, onde a música assume o seu papel complementar na perfeição. Fazem-nos sentir rodeados, espiados, pequenos. E a ausência de armas no início, bem como a relativa ineficácia das que vamos encontrando acentuam essa sensação de perigo.

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Syndrome não é perfeito, tem alguns problemas que deixam a nu o facto de ser uma produção independente, que o cuidado gráfico e desenho geral do jogo disfarçam de grande produção. Alguns problemas nos menus e umas complicações iniciais tidas como habituais para jogos recentemente e que são, sobretudo, afinações e acabamentos ou ajustes no interface, salpicam um pouco o jogo, mas não chegam a manchar a pintura e a perceção de que Syndrome tem tudo para ser um grande jogo.

Até porque a equipa da Camel 101 parece apostada em recolher todo o feedback possível para ajustar e melhorar a experiência do jogo. Se isto ainda não chega para tomar a decisão de o comprar por menos de 23€ na Steam, Syndrome vai estar presente no Indie Dome, de 17 a 20 de novembro, na Lisboa Games Week, para que possam experimentá-lo.

Ricardo Mota, Rubber Chicken