Foi na mesma sala de jantar onde disse “que se lixem as eleições” e onde prenunciou que o diabo vinha em setembro, mas desta vez Pedro Passos Coelho optou por não falar das eleições autárquicas que já agitam o partido, e procurou desmistificar o famoso prenúncio do diabo que fizera, à porta fechada, no jantar da bancada parlamentar antes das férias do verão. Se na altura o líder do PSD se despediu dos deputados pedindo-lhes que gozassem bem as férias porque em setembro seria “o diabo”, agora Passos Coelho optou por dizer alto e bom som, “para a comunicação social” ouvir, que espera a visita dos reis magos em janeiro. E com “boas novas”.

“Desta vez, para a comunicação social, gostava de fazer outra predição: desejo-lhes um bom Natal e que nos possamos reencontrar logo em janeiro esperando que possamos ser visitados pelos três reis magos. Julgo que Baltazar, Belchior e Gaspar nos virão visitar em janeiro, para as janeiras, e para nos darem a boa nova. Que a boa nova pudesse ser diferente para o país era o meu mais sincero desejo mas isso não depende só de nós”, disse Passos Coelho esta quinta-feira no final do discurso que fez no jantar de natal da bancada parlamentar do PSD, no Parlamento.

A história da antecipação do diabo ficou célebre no final de julho, quando, num jantar de final de sessão legislativa, Passos Coelho se despediu dos deputados avisando-os que em setembro, quando se voltassem a ver, viria o diabo. A expressão pegou, sendo sempre associada ao pessimismo do líder do PSD e usada pelo PS e partidos que apoiam o Governo para caracterizar o presidente social-democrata como alguém que antecipa a chegada do diabo mesmo quando os indicadores económicos são positivos. A ideia agora é desmistificar a imagem de pessimista e inverter a marcha, dizendo que “quando as coisas correm bem, tanto melhor”. E o PSD é o primeiro a reconhecer que “uma boa ideia vale por si só”, independentemente de quem seja o seu promotor.

“Os nossos princípios não estão no mercado das sondagens”

Numa altura em que as atenções se começam a concentrar nas eleições autárquicas do ano que vem, e numa altura em que o seu nome começa até a ser falado nos corredores da oposição interna como a única candidatura ganhadora possível para Lisboa, Passos Coelho optou por não dizer uma palavra sobre o assunto. Mas não se poupou nos recados internos. Lembrando os deputados que nunca se pode “agradar a toda a gente”, Passos sublinhou que quando o PSD esteve no governo “não governou a olhar para as sondagens”, da mesma maneira que hoje não faz oposição a olhar para as sondagens. A “ética” e os “princípios” foram uma constante no discurso do social-democrata.

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“Os nossos princípios não estão no mercado das sondagens”, disse. O PSD tem estado em queda nas últimas sondagens, e o nome de Rui Rio, quando apareceu como possível candidato a líder do PSD em 2018, apareceu como preferido face a Passos Coelho nos barómetros entretanto divulgados. Tudo questões secundárias para o líder do PSD, que insiste que o partido “não está disponível para melhorar a sua performance parlamentar consoante o que dá mais jeito ao governo”. “Já Sá Carneiro dizia que a política sem risco não vale a pena, é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha”, acrescentou.

Antes já o líder parlamentar Luís Montenegro tinha admitido a dificuldade que é o PSD, enquanto partido da oposição, querer “centrar o debate” no “fraco crescimento da economia” ou nos “problemas dos serviços públicos” quando os restantes cinco partidos (PAN incluído) usam do tempo disponível para “desviar as atenções para o que não interessa” e para centrar o debate no PSD e “no passado”.

Para Pedro Passos Coelho, o Governo e o PS tem “ações de piromania” quando “insiste em temas como a renegociação da dívida em tempos em que os mercados andam agitados e onde a volatilidade é muito maior”. “Quando o Governo aceita pronunciar-se sobre estas matérias comporta-se como um pirómano e está a lançar fogo para tudo o que está à sua volta”, disse, dando também o exemplo da Caixa Geral de Depósitos, onde “o Governo se recusa a responder às perguntas que são feitas mas depois usa a comunicação social para fazer do banco público uma arma de arremesso político”.

Criticando a postura do Governo e dos partidos que o apoiam já há mais de um ano — e que, segundo Montenegro, ainda não “despiram o fato de partidos da oposição” ao centrarem o seu ataque no anterior governo do PSD — Passos Coelho acusou-os de atuarem em função de “preconceitos políticos” e não de resultados concretos das medidas implementadas.

“Muitas das coisas que foram decididas pelo Governo e pela maioria que o suporta resultaram de entendimentos entre os partidos” apenas por “preconceito político” e não por uma decisão tomada tendo em conta a análise “de resultados” da governação anterior, defendeu, sublinhando que uma postura como esta “é o que se espera numa sociedade madura, evoluída”.

Para Passos, uma ideia é uma ideia, boa ou má independentemente da sua origem política, e, de resto, “ninguém fica preso eternamente a uma determinada política”. “Se são boas [políticas], há que as prosseguir, se não são boas, são para corrigir”, disse, garantindo que era isso que faria se estivesse atualmente no Governo.