Uma tecnologia implantada no cérebro permitiu a um homem tetraplégico há oito anos poder voltar a mexer as mãos e os braços através do poder do pensamento, conta o The Guardian. O projeto, desenvolvido por investigadores da Universidade Case Western Reserve, em Ohio, foi o primeiro do mundo a conseguir que tal acontecesse.

Bill Kochevar levou implantes elétricos no córtex cerebral e sensores nos seus braços, de forma a permitir uma estimulação dos músculos para dar resposta aos sinais provenientes do cérebro, descodificados através de um computador. Depois de oito anos com uma paralisia quase total, Kochevar conseguiu finalmente comer e beber sozinho.

Penso naquilo que quero fazer e o sistema faz por mim. Não é preciso pensar muito. Quando quero muito uma coisa, o meu cérebro fá-lo”, revelou o homem de 53 anos.

Com o objetivo primordial de poderem vir a ser registados resultados positivos, Kochevar foi submetido a uma cirurgia no cérebro para implantar os sensores. Passou por quatro meses de experiências e treinos, o tempo necessário para que a tecnologia conseguisse reconhecer os sinais corporais necessários a partir do córtex. Primeiro, o homem contou com 36 elétrodos de estimulação no braço, incluindo quatro que o auxiliaram nos movimentos do cotovelo e do ombro.

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A partir daí, fez-se uma estimulação dos músculos durante 18 semanas – oito horas por semana – para melhorar os movimentos, a resistência e a fadiga muscular. Depois disso, a tecnologia foi interligada ao cérebro para que os sinais transmitidos por ele fossem traduzidos através de impulsos elétricos e provocassem o movimento dos músculos e nervos do braço.

Veja abaixo o vídeo para ficar a conhecer melhor o caso de Bill Kochevar e todo o processo.

Apesar de ser ainda um projeto experimental, os cientistas têm esperança que este novo conceito possa vir a transformar-se num tratamento comum para pessoas com paralisia. No futuro, acreditam também que o sistema será invisível: aplicado debaixo da pele e sem fios.

A nossa investigação ainda está muito no início, mas acreditamos que este tratamento poderia oferecer a possibilidade de recuperar as funções dos braços e das mãos aos indivíduos com paralisia para conseguirem realizar as tarefas do dia a dia, oferecendo-lhes uma maior independência. Até agora, ainda só ajudou um homem tetraplégico a agarrar as coisas, para se alimentar e conseguir beber. Com mais desenvolvimento, acreditamos que a tecnologia poderia possibilitar um controlo mais preciso, permitindo uma variedade de ações que transformariam certamente a vida das pessoas com paralisia “, admitiu Bolu Ajiboye, médico e um dos responsáveis pelo estudo.

Como a tecnologia conecta o cérebro aos movimentos do corpo

Bill Kochevar ficou tetraplégico num acidente de bicicleta, depois de ter sido abalroado por um camião. A tetraplegia é uma paralisia que que atinge os quatro membros do corpo, superiores e inferiores. Ocorre quando as vias motoras e sensitivas que percorrem a medula espinal são interrompidas no nível da coluna cervical, provocando, consequentemente, lesões na mesma. Este quadro clínico desencadeia-se, maioritariamente, por acidentes de automóvel ou por acidentes vasculares cerebrais.