O secretário de estado das Pescas, José Apolinário, disse esta segunda-feira, no Porto, que os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre a redução da quantidade do peixe capturado pela frota nacional em 2016 refletem “o estado dos recursos”.

“Refletem a diminuição de recursos do atum nas regiões autónomas e o facto de estarmos numa monitorização do recurso sardinha, que tem capturas a um nível limitado devido à necessidade de recuperar a espécie”, disse.

José Apolinário comentava, em declarações à Lusa, os dados do INE divulgados na passada quarta-feira que revelaram que a quantidade de peixe capturado pela frota nacional em 2016 (124,264 toneladas) foi a segunda mais baixa em 48 anos, mas que o preço unitário alcançou valores inéditos.

O secretário de Estado das Pescas, que falava à margem do da 7.ª edição B2S/Fórum do Mar, a decorrer até terça-feira, na Alfandega do Porto, referiu que se está “num plano de gestão com o setor”, sublinhando que “se se contabilizar aquilo que foram as pescas de embarcações nacionais em pesqueiros externos, as capturas são 1% acima do ano anterior”.

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“Há uma diminuição nos pesqueiros na nossa Zona Económica Exclusiva (ZEE), mas houve um ligeiro aumento nos pesqueiros externos. Os dados do INE só se reportam em relação a capturas desenvolvidas e desembarcadas na nossa ZEE”, afirmou.

Segundo José Apolinário, “o grande desafio” que a estatística do INE coloca é “a necessidade de desenvolver mecanismos de cogestão com os pescadores, no sentido de se produzir a recuperação dos stocks de uma forma sustentável com aconselhamento científico, mas também com a participação das organizações de produtores”.

“Para que a pesca seja atrativa tem de haver remuneração aos pescadores. Há este balanço que é preciso assegurar entre melhorar a remuneração dos pescadores e garantir um preço acessível aos consumidores”, afirmou.

Nas declarações que prestou à Lusa, o secretário de Estado considerou que “hoje a oferta é tão diversificada que se vai assistir à valorização de espécies com um valor económico mais baixo”.

“Estou a lembrar-me da cavala, mas também do carapau, que no passado não eram espécies muito apreciadas e que tenderá a aumentar o seu consumo. Basta ir a um mercado para perceber que as bancas têm hoje uma diversidade de oferta para todas as bolsas nessa vertente. Quer em fresco, quer em conserva, essa influência vai-se notar”, disse.

Em seu entender, também o desenvolvimento da aquicultura é “crucial e estratégico”, estando por isso o Governo a apostar na “simplificação dos processos de licenciamento e na definição de áreas” para a atividade.

Frisou a sua convicção de que “espécies que até agora não eram tão valorizadas pelos consumidores vão ser progressivamente mais consumidas, como é o caso do carapau, da faneca, da cavala ou da tainha”.

No dia nacional do pescador, o Instituto Nacional de Estatística (INE) informou que o pescado recolhido em 2016 diminuiu 11,8% em relação a 2015, enquanto houve uma subida de 15,9% no preço médio e o valor unitário “ascendeu a 2,10 euros por quilograma, o maior desde que existem registos estatísticos disponíveis”.

As receitas na lota subiram 3,3%, acrescentou o INE, que refere que o défice da balança comercial dos produtos da pesca se agravou em 69 milhões de euros, totalizando 787,4 milhões de euros, o que correspondeu a um aumento de 9,7% face a 2015.

A diminuição da quantidade de pescado resultou de uma diminuição de capturas no continente e nos Açores, sobretudo de peixes marinhos como a cavala (-39,7%) e atuns (-25,9%).

Quanto à subida do preço médio, o INE avançou como explicações a “valorização significativa de espécies habitualmente mais capturadas” e o “reforço na estrutura do pescado descarregado de espécies com maior valor comercial”.