Um homem de 33 anos de idade, cuja casa, no concelho de Figueiró dos Vinhos, ficou “totalmente destruída” pelo fogo, no sábado, salvou-se a si e à família fugindo das chamas numa carrinha. A viagem foi angustiante e ainda agora, que está a salvo, não sabe explicar como conseguiu escapar. Outras 12 pessoas, na aldeia de Nodeirinho, passaram a noite mergulhadas num tanque de água e essa foi a única maneira de se salvarem. Eis algumas das histórias de como os sobreviventes escaparam ao avanço das chamas.

“As labaredas batiam muito forte na carrinha, ainda fui contra um pinheiro e andei por valetas”, disse Hugo Manuel Almeida Santos à agência Lusa, no Hospital de Avelar, no concelho de Ansião (distrito de Leiria), onde o pai, de 57 anos de idade e com “muito pouca mobilidade”, está internado, por não ter onde ficar. “A minha casa ardeu toda, ficou tudo queimado, fiquei sem nada”, relatou Hugo Santos, que hoje voltou ao local onde residia, em Figueira, “mesmo junto ao IC8” [itinerário complementar 8], na freguesia da Graça, no concelho de Pedrógão Grande, e onde “está tudo, mesmo tudo, desfeito em cinza e carvão.

“Ninguém sabe explicar” como Hugo Santos se conseguiu salvar a si, ao pai, à mulher e à filha, de 11 anos de idade.

“Temi pela vida de nós todos, pensei que ficávamos lá todos”, repetiu, recordando que as chamas “bateram” de forma insistente na viatura, cujo controlo, “por várias vezes”, sentiu que podia perder.

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Hugo Santos também não consegue encontrar palavras para contar como se salvou, nem como tudo aconteceu – “nunca, por nunca, vi uma coisa comparável a esta”, assegurou, referindo-se ao modo como o incêndio deflagrou e à intensidade com que alastrou.

O pai de Hugo Santos é o único dos cerca de 30 feridos que está internado na Unidade de Cuidados Continuados/Hospital da Fundação Nossa Senhora da Guia, onde no sábado e hoje foram assistidos por terem sido vitimados pelo fogo de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, no norte interior do distrito de Leiria. O internamento mantém-se por “motivos sociais” e não tanto por razões de saúde, disse à agência Lusa um responsável pelo estabelecimento.

“Uma jovem tinha os braços a arder e a filha a morrer lá em cima”

A história de Maria Céu Silva e de mais 11 pessoas é outra. São da aldeia de Nodeirinho e só sobreviveram à noite passada porque se refugiaram num tanque com água.

“O meu marido dizia para pôr a minha mãe na carrinha, mas como ela não conseguia subir, porque anda de andarilho, ela disse-nos para a deixarmos no chão a morrer”, conta Maria Céu Silva ao Jornal de Notícias. Maria Céu Silva acabaria por conseguir, com a ajuda do filho, socorrer a mãe idosa. “Metemo-la no tanque. A temperatura era de tal ordem que nos enfiamos todos no tanque, um moço já tinha os braços a ardem e nós punhamos água, água, para cima uns dos outros”, conta.

Era, conta, “11 ou 12” no tanque e por lá ficaram toda a tarde e noite até cerca das 4h da manhã. “Se não fosse o tanque morríamos todos. O vento era de tal ordem, só ouvíamos estrondos por causa das chapas das coberturas que iam pelos ares”, relata.

Uma das pessoas que estava no tanque era “uma jovem de 39 anos, que estava queimada nos braços e só dizia que tinha a filha a morrer lá em cima”. “Parecia um filme de terror”.