Henrique Medina Carreira sempre foi conhecido pelos comentários polémicos — e provavelmente a história o recordará assim. Nas entrevistas que foi dando ao longos dos últimos anos foi muito crítico dos vários Governos, dos partidos e dos deputados, e defendeu o presidencialismo.

Outra das maiores críticas foi ao sistema escolar: considerou as escolas de hoje em dia “fábricas de analfabetos” e disse que o abandono escolar era “uma coisa boa”. Quanto à escola inclusiva? “Uma vigarice.”

Apesar de muito o olharem como o pessimista de serviço, garante ser um “tipo muito doce” e um chorão, mas não tanto quanto Jorge Sampaio.

Aqui ficam algumas das suas frases mais marcantes:

Entrevista à Visão, setembro de 2009

“Sou benfiquista. Era o sócio 15148. Mas deixei de ser sócio, depois de me aborrecer com aquelas má-criações indecorosas… mandei-os à fava!”

“Sinto hoje um Portugal tão trémulo como nos últimos dez anos do Estado Novo.”

“Fui eu — ninguém sabe, mas já agora, conto-lhe — quem propôs cadeia para a fraude fiscal. Que não havia.”

“Até hoje, ainda perco dinheiro com a política!”

Sou um pessimista sob condição. Se continuarmos com estas instituições a funcionar tal como estão, os dirigentes políticos que para aí andam e mais o seus acólitos, que vivem da política, eu sou um imenso pessimista.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A sociedade portuguesa está viciada em falar ‘ontem’ para “amanhã”. Ora, a direção que o nosso País leva não se mede entre dois centímetros, mas em dois metros. E se vir como estávamos em 2000 e como estaremos em 2010, verá. A longo prazo, ainda não errei nada!”

“Esta democracia não funciona. Os partidos fecharam-se porque não querem gente de qualidade lá dentro.”

“Costumamos dizer quer os empresários são sempre incompetentes, os advogados uns gatunos, etc… Tudo isso tem uma parcela de verdade, todos nós temos uma certa rasquice incorporada… Temos que viver com ela. ”

“Os programas eleitorais, com a dimensão que têm, são uma falcatrua. (…) Os programas são uma burla. Feitos para ninguém ler. São como as apólices de seguro: feitos para o eleitor nunca ter razão. Estão a fazer do pagode idiotas chapados.”

O abandono escolar, quando é feito por aqueles que não andam lá a aprender nada, é uma coisa boa! Nem gastam dinheiro à gente nem chateiam os outros! Esta ideia imbecil da escola inclusiva serve para depositar dentro de quatro paredes uns tipos! Para que o eng.° Sócrates e a Maria de Lurdes Rodrigues lhes passem, depois, um papelucho! Um tipo com cabeça devia perguntar, olhando para o papelucho: ‘E isto serve para limpar o quê?‘”

“Em Portugal, o Poder não quer que a justiça funcione, porque isso lhe trará dissabores.”

Entrevista ao Jornal de Negócios, outubro de 2009

“Nunca me passou pela cabeça ser ministro de coisa nenhuma. É-se ministro por acaso. Não há uma carreira de ministro.”

“O país está num afundamento sistemático, os políticos estão muito mal preparados. Alguns nem têm profissão, o que é mau sinal. (…) Anda tudo errado na política portuguesa. Naquele tempo, íamos para estes cargos com inteira liberdade. Eu tinha a minha profissão. De resto, vivia muito pior como ministro do que como advogado.”

“Hoje não temos ideias, pessoas, um país e esperança. Esse é o contraste entre 26 de Abril de 75 e Outubro de 2009.”

“Nós já estamos entre a crise financeira e a social. Não a muito longo prazo – cinco anos – vamos sentir grandes dificuldades.”

“Casei porque estava numa pensão, num quarto apertado, com as dificuldades típicas das pensões de não muito boa qualidade. Foi-me vantajoso casar.

“Se não mudarmos a economia, vamos estar numa pobreza como não conhecemos desde princípio do século passado.”

“O PSD cuida das pequenas e médias empresas para salvar a economia – o que não está mal mas está longe de ser suficiente. O PS quer salvar a economia com as grandes obras e com dinheiro emprestado. Não quer que faça um grande elogio a estes cérebros, pois não?

“Confio muito em mim, mas não confio em muita gente.”

“Eu, em qualquer circunstância, estou do lado das pessoas que, na escala social, são mais exploradas, mais enganadas. Estou sempre, espontaneamente, do lado do fraco. Quanto mais baixo, mais respeitosamente e cerimoniosamente eu trato as pessoas.”

“A única coisa que me poderia complexar era a estupidez e a ignorância. Como não sou estúpido nem ignorante, não tenho nenhum complexo.”

“Eu tenho uma qualidade: sou uma boa pessoa. Sou uma pessoa que não trafulha, que não intriga, que não se vinga, que não persegue, que não odeia.”

“O sistema educativo foi abandonado a umas loucuras e a uns loucos. Esta é a única maneira de acabar com a pobreza e a desigualdade: valorizar a cabeça. Aqui em Portugal pratica-se a desvalorização da cabeça. É uma sociedade cujo futuro está hipotecado por décadas.”

“Nunca senti necessidade de louvor. Não vivo por comparação nem de palavras. Vivo com uma grande preocupação sobre mim próprio. (…) Gosto de olhar para mim com satisfação. É o grande momento do meu dia. De resto, uns dizem bem, outros mal, outros assim-assim, outros que quero um tacho.”

Não tenho vontade de morrer, mas não é da morte que tenho medo: é da maneira de morrer. Defendo que desde a nascença devíamos ser portadores de uma ampola com cianeto de potássio. “

Entrevista ao Expresso, 24 de outubro de 2009

“Enquanto não vir gente capaz de tomar conta deste país, sou incómodo.”

As nossas escolas são fábricas de analfabetos. No meu tempo, os alunos com a quarta classe davam menos erros do que alguns ministros agora. A escola, hoje, é mais uma das falsificações do regime.”

“Pedi várias vezes ao Mário Soares para me mandar embora. Percebi que não vale a pena estar nos Executivos quando há diferenças muito radicais de pontos de vista. Naquela altura, o meu tipo de exigência já não era bem visto pelo Governo.”

Tenho este ar de zangado, mas sou bom rapaz…”

Eu defendo o presidencialismo, mesmo que seja por 15 ou 20 anos. Os partidos precisavam de sossego para se arrumarem e arranjarem gente menos ambiciosa, menos amante do dinheiro alheio.”

Portugal é o país dos achadores. Toda a gente acha. Liga-se a televisão e ouve-se toda a gente a achar.”

“Fui educado duma forma em que as mentiras, pedir coisas aos outros, discutir dinheiro eram coisas horríveis. Não discuto dinheiro.”

Tenho este trombone assim chato, mas no fundo sou um tipo muito doce, muito afetivo, muito terno… Choro menos que Jorge Sampaio, mas choro com mais facilidade do que gostaria…”

“Não gosto do Cristiano Ronaldo, porque é um grande jogador e um tipo insuportável. Mesmo um sábio, um compositor, um génio tem de ser modesto. A imodéstia é um sintoma de estupidez.”

“A ladroagem em Portugal atinge hoje uma dimensão que não tinha há 20 anos.”

Entrevista à revista Sábado, 23 de junho de 2011

O Governo foi talvez o sítio em que conheci gente mais sofisticada e mais hipócrita. As pessoas raramente dizem o que pensam.”

Nunca fui um homem de partido, desconfio do português coletivo. Quando estava no ministério e me falavam em constituir comissões, dizia sempre: se puderem fazer a comissão só com um membro, acho melhor, porque um português faz mais que dois.”

“Há quatro anos pensei candidatar-me à Presidência da República, para discutir, porque estas campanhas são um jogo de pingue-pongue manhoso. Parei por fazer este raciocínio: se quiser arranjar dez pessoas em quem confie em termos absolutos, arranjo; se precisar de cem, já há dez sobre as quais não faço juramento; e em mil há 200 a estragar a vida. Para que é que eu me ia maçar só para discutir?”

“Sou amigo dele [Pedro Passos Coelho]. Mas os governos são como os melões: depois de abrir é que vamos ver se são de Almeirim ou não. Mas valha o que venha a valer, tem gente com profissão.”

Entrevista ao Jornal de Negócios, 2012

“Temos um sistema político defeituoso de raiz.”

“O país não se apercebe que no chefe do Governo e nos seus apaniguados se concentra um poder espantoso. Isto aliado à deficiente qualidade das escolhas; porque eles querem bem comportados, não querem ter maçadas internas.”

Acho que os governos devem poder ser julgados criminalmente.”

“A maior parte dos deputados não vale nada, ou nem sequer se sabe se valem, porque ninguém os vê, ninguém sabe de onde vierem nem para onde vão. Isto é uma derrota da democracia em Portugal. Esta democracia está amarfanhada.”

“Eu faço as contas, e não tenho medo de não ter razão. Nem tenho medo que as pessoas não concordem. Não lhes devo dinheiro, não devo a ninguém coisa nenhuma, e por isso tenho a liberdade de dizer o que penso.”

“Há 15, 20 anos que andamos a viver à custa dos nossos filhos e dos nossos netos.”

“Hoje, um sujeito chega a ministro, está no topo e não quer sair de lá. Aquilo tem uma importância que não é fácil conquistar na sua profissão, na vida normal.”

“A Merkel é uma política que depende do eleitorado. E não foi a Merkel que arranjou as dívidas dos portugueses. Temos a mania de alijar culpas. Os responsáveis em Portugal? Os que dirigiram politicamente o país. Podiam ter evitado esta catástrofe.”

A prosperidade terminou com aquela feijoada do Guterres na ponte Vasco da Gama. Aquilo, a feira [Expo 98] marcou a ostentação [desse período]. Perdemos indústria, agricultura, pesca. Como não tínhamos a casa arrumada, perdemos aparelho produtivo e não conquistámos investimento.”

“Quando um Estado mantém uma clientela, essa clientela não pensa em nada: trata da sua vida. No tempo do salazarismo também havia uma clique que não queria que se mudasse nada. Essa gente domina. Se se salvar e morrer o resto, tudo está bem.”

“Conheço o Passos Coelho há um par de anos, embora com contactos longínquos e agora com nenhum contacto. É um homem frio, distante, respeitador, dialogante. Pensei que fosse capaz de atenuar isso – não é de evitar isso. Não atenuou coisa nenhuma.”

Os patrões estão agora tão falidos como os empregados.

A maior urgência é rever o sistema político. Só vejo uma maneira de libertar o sistema desta tutela dos partidos: um presidencialismo, à americana. Porque o presidente é melhor do que o chefe de governo? Não. Porque é mais independente dos partidos.”

“Temos a mania de ouvir a Christine Lagarde e o Krugman e o Stieglitz. Não é preciso ir tão longe. Na Avenida Almirante Reis pode encontrar pessoas que dizem coisas com o mesmo acerto. Eles não conhecem Portugal.”

Programa”Olhos nos Olhos” (TVI24), 17 Setembro 2012

“Não é possível em que num regime em que a gatunagem funciona predominantemente que a democracia sobreviva.”

“Uma entidade falida não tem que cumprir as obrigações.”

Nós mantemos uma máquina de investigação de investigação e de julgamento que não serve para coisa nenhuma. Hoje, qualquer pessoa que tenha a tentação de ser corrompida ou de se deixar corromper, tem 99% de probabilidades de não ser apanhada.”

Em Portugal, ser corrupto é o melhor estatuto que se pode ter.”

“Num tempo de sociedade em empobrecimento acelerado, a moralização da sociedade é um imperativo.”