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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Carpool Autárquicas com Ilda Figueiredo: "Rui Moreira deve um pedido de desculpa à CDU”

Ilda Figueiredo, candidata da CDU ao Porto, aceitou a boleia do Observador e falou de tudo: da "falta de transparência" de Rui Moreira, da crise de identidade de Pizarro e da inexperiência do Bloco.

São 10 horas em ponto. Pela primeira vez em dias, o Porto acordou cinzento. Sem chuva, mas cinzento. “A cidade do Porto é muito bonita com sol. Sem sol, fica muito triste“, desabafa Ilda Figueiredo, já a bordo do pequeno Smart para mais de uma hora de entrevista em andamento, pelas ruas da cidade. O Observador encontrou a candidata da CDU à Câmara do Porto na sede do PCP. A comunista vem com pressa. Dali a duas horas há manifestação dos trabalhadores da PT, junto à sede da empresa. Cumpridas as saudações da praxe, brevíssimas, Ilda Figueiredo entra no carro, põe o cinto e está pronta para a viagem. Tudo isto sem dizer uma única palavra. Não deu sequer tempo para colocar o microfone. A candidata tem de retirar o cinto, sair do carro, colocar o micro, entrar no carro e pôr o cinto. No final, Ilda Figueiredo chegaria bem a tempo da manifestação.

A candidata comunista parte para estas eleições com um objetivo claro: manter o vereador que a CDU elegeu há quatro anos. Idealmente, a coligação quer reforçar essa posição, cenário pouco provável à luz das mais recentes sondagens. Embora nunca o admita, a escolha de Ilda Figueiredo, uma militante reconhecida pelas bases do partido, foi interpretada pelos adversários como uma forma de agarrar e manter o eleitorado fiel à CDU no Porto. Mais: terá sido uma forma que os comunistas encontraram para anular à nascença uma eventual fuga de votos para o Bloco de Esquerda. Resta saber se resultará.

Ilda Figueiredo nem quer ouvir falar disso. “Isto não foi uma resposta a ninguém“, garante. Ainda se irrita quando o Observador a confronta com as declarações de João Teixeira Lopes, o candidato do BE ao Porto, que disse que os bloquistas são a única força à esquerda em que vale a pena votar. “O Bloco pode dizer o que quiser“, atira. Mais à frente, não consegue conter o riso, lembrando que o PCP tem provas dadas na Câmara do Porto — ao contrário do Bloco de Esquerda, que nunca elegeu qualquer vereador. Mais uma prova de que a velha rivalidade entre os dois partidos — tão velha quanto a origem do Bloco — está bem viva.

Mas o alvo nestas eleições não é o Bloco de Esquerda. Pelo menos, não o mais direto. O objetivo dos comunistas é evitar uma eventual maioria absoluta de Rui Moreira, de quem Ilda Figueiredo diz esperar ainda “um pedido de desculpa” a propósito do caso Selminho. “Ninguém pode ser beneficiado porque é membro da autarquia“, afirma.

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De fora da equação parece estar uma eventual “geringonça” à moda do Porto. Ainda que nunca a exclua totalmente, Ilda Figueiredo marca as diferenças: se, no plano nacional, a esquerda se juntou para derrubar e afastar a direita do poder, no Porto Manuel Pizarro governou ao lado de Rui Moreira e do PSD. “Não são situações comparáveis“, remata a comunista.

A sombra do Bloco: “Eles podem dizer o que quiserem”

Ilda Figueiredo, com 68 anos, foi vereadora em Vila Nova de Gaia entre 1983 e 1990, cargo que foi acumulando praticamente em simultâneo com o de deputada à Assembleia da República (1979-1991). Mais tarde, em 1994 e depois em 1997, foi eleita e reeleita vereadora na Câmara do Porto. Entrou nas eleições para o Parlamento Europeu em 1999, 2004 e 2009, até voltar a Portugal para ser cabeça de lista da CDU a Viana do Castelo. Agora, regressa ao Porto para ser o rosto dos comunistas nestas eleições autárquicas.

A escolha de Ilda Figueiredo, em detrimento de Pedro Carvalho, atual vereador, ou mesmo de Rui Sá, anterior vereador, não deixa de causar estranheza — o regresso da comunista não era a solução mais óbvia. Ilda Figueiredo desvaloriza: Rui Sá corre como cabeça de lista à Assembleia Municipal do Porto e Pedro Carvalho não avançou por “questões pessoais”. E é precisamente por aí que começa a entrevista com o Observador.

Estamos aqui junto à sede do PCP. Pergunto-lhe: foi deputada, eurodeputada, foi vereadora na Câmara de Gaia, de Viana do Castelo...
E do Porto!

E do Porto, já lá ia. Agora, o Porto novamente. O que é que a fez aceitar este convite?
Exatamente. Porque fui vereadora no Porto, antes de ir para o Parlamento Europeu — interrompi por causa disso. O Porto é uma cidade espantosa, que está, no entanto, a sofrer alterações que podem pôr em causa a sua identidade e as gentes do Porto. Essa questão preocupa-me. Elas hoje estão a ser pressionadas para abandonar o centro histórico. Ainda ontem estive na zona de Miragaia…

Vamos passar por lá.
… e ouvi mais casos de assédio aos moradores, de pressão, de chantagem e de empurrar sempre dali para fora de diferentes formas e feitios.

"O Bloco pode dizer o que quiser. É livre para o fazer. A realidade é esta: a única força que fez a diferença foi a CDU"

É esse o grande problema da cidade do Porto neste momento?
É um dos grandes problemas da cidade do Porto. Não é apenas no centro histórico. O Porto continua a perder a sua população, as suas gentes que lhe deram a sua identidade. Muitos jovens foram para os municípios vizinhos por falta de condições de habitação no Porto. Daí a necessidade de melhorar as condições de habitação, de habitabilidade, mas de melhorar também as condições de vida, a qualidade de vida na cidade do Porto. São, neste momento, desafios fundamentais que me levaram a aceitar este convite. E aqui estou nesse combate.

Voltando à sua candidatura. Não faria mais sentido, por exemplo, que fosse Rui Sá, anterior vereador, ou Pedro Carvalho, atual vereador, a encabeçarem esta lista?
Mas o Rui Sá encabeça a lista para a Assembleia Municipal. Por isso, é uma equipa que está aqui para dar voz a estes problemas e continuar todo este trabalho.

A questão que se tem colocado muito para quem acompanha a política do Porto é que o PCP, na iminência de o Bloco de Esquerda repetir um resultado como aquele que teve a nível nacional e crescer também na cidade do Porto, procurou fidelizar os eleitores que já tem, apostando num nome muito forte, como é o seu. Foi essa a estratégia do partido?
Repare: o PCP sempre teve no Porto uma votação que permitiu manter vereadores na câmara. E tem um grande respeito pelas pessoas da cidade. Apostou, num momento decisivo como este para a defesa da identidade do Porto, numa equipa forte, com provas dadas, que conhece bem a cidade, que tem esta relação de grande proximidade com as pessoas e que conhece todos os seus problemas. Esta é uma prova de respeito pelos moradores do Porto e de respeito pela cidade do Porto. E não uma qualquer resposta a quem quer que seja. Esse é o objetivo central e não outro.

Ainda assim, o Bloco de Esquerda parte para estas eleições, e João Teixeira Lopes afirmou-o em entrevista do Observador, dizendo que é a única força à esquerda em que vale a pena votar. Como é que reage o PCP?
O Bloco pode dizer o que quiser. É livre para o fazer. A realidade é esta: a única força que fez a diferença durante o atual mandato, como em anteriores, na gestão municipal do Porto, e a população sabe isso, foi a a CDU. Nós temos essa experiência com provas dadas há muitos anos e não de agora.

É esse exercício que quer fazer? O Bloco nunca elegeu nenhum vereador no Porto, como tal, não tem provas dadas?
Cabe à população da cidade decidir. A CDU tem esta força, estas provas dadas, esta capacidade de resposta, este conhecimento e esta relação de proximidade. Os moradores sabem que aqui têm quem responde aos seus problemas e depois quem vem todas as semanas ao terreno.

Bairro do Aleixo: “As pessoas estão abandonadas à sua sorte”

Aproximamo-nos do Aleixo. Cada incursão pelo bairro, e foram várias ao longo da semana, surpreende ainda mais. Há consumo de droga a céu aberto. Há carcaças ferrugentas de carros abandonados a rodearem as duas torres apagadas de tinta que ainda resistem — chegaram a ser quatro, até à ordem de implosão dada por Rui Rio. E há olhares presos ao carro do Observador.

Esta é uma das graves situações do Porto“, nota Ilda Figueiredo, à medida que vai apontado para o pavimento — até a estrada esburacada parece marcar uma barreira invisível entre o Bairro do Aleixo e o resto da cidade. A candidata comunista aponta três responsáveis diretos pelo “abandono” a que diz ter sido votado este bairro social: Rui Rio, Rui Moreira e Manuel Pizarro, que entregaram esta zona da cidade aos “interesses especulativos”.

Estamos a chegar ao bairro do Aleixo, um dos bairros mais problemáticos da cidade do Porto. Que avaliação faz da gestão do atual executivo em relação a este e a outros bairros sociais?
Este é um dos piores problemas da cidade. Olhando à nossa volta, é esta situação de abandono e degradação em que estão estas duas torres depois de Rui Rio ter feito implodir as duas outras torres. Tudo isto para servir interesses especulativos de uma empresa imobiliária que quer construir habitação de luxo.

"Os moradores do Bairro do Aleixo continuam nesta degradação porque entretanto não avançou coisa nenhuma. As pessoas aqui estão abandonadas à sua sorte"

O que deveria ter sido feito?
O grande problema é que no atual mandato esse fundo imobiliário
[Rioforte, do universo do antigo BES] teve dificuldades decorrentes dos graves problemas do sistema financeiro em Portugal. Rui Rio e Manuel Pizarro poderiam ter…

Rui Moreira…
Sim. Rui Moreira, com Manuel Pizarro, poderia ter aproveitado esse momento para acabar com esse negócio que Rui Rio tinha feito e reverter para a Câmara a possibilidade de ali construir habitação social para alojar as pessoas que ainda ali estão e todas as outras que tiveram de ser realojadas. Isso não foi feito. Pelo contrário. Rui Moreira e Manuel Pizarro, com apoio do PSD, renegociaram o fundo com outras entidades, mantendo o
mesmo modelo de negócio e cedendo mais terreno e maior acesso para mais construção de luxo.

A Câmara deveria ter tomado para si o processo?
Claro. Os moradores continuam nesta degradação porque entretanto não avançou coisa nenhuma. As pessoas aqui estão abandonadas à sua sorte. Esta é uma das graves situações da cidade do Porto. Mas há outras. Construção de fundo significativa não houve, nem foram resolvidos os problemas essenciais. Pelo contrário, agravaram-se.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Caso Selminho: “Rui Moreira deve um pedido de desculpa à CDU”

A Rua do Aleixo estende-se à nossa frente e desagua diretamente na Rua do Ouro. À direita, o rio que separa a cidade do Porto de Vila Nova de Gaia. À esquerda, os famosos terrenos na encosta da Arrábida que estão na origem do diferendo entre a empresa Selminho, da família de Rui Moreira, e a Câmara Municipal do Porto, tema inevitável desta pré-campanha eleitoral.

Foi a CDU que deu o primeiro passo neste processo, ao apresentar queixa-crime junto do Ministério Público. A queixa acabaria por ser arquivada, ainda que o Ministério Público tenha deixado alguns avisos à gestão de Rui Moreira. O presidente da Câmara do Porto deu o caso como encerrado e exigiu um pedido de desculpa aos comunistas. Ilda Figueiredo tem outros planos: quem deve um pedido de desculpa à CDU e à cidade do Porto é Rui Moreira.

Estamos a chegar à Rua do Ouro. À nossa esquerda temos os tais terrenos que estão na origem do caso Selminho, um caso pelo qual a CDU se bateu muito. Entretanto, a queixa foi arquivada e Rui Moreira exigiu um pedido de desculpa. A CDU pretende fazê-lo?
Se ler a resposta do tribunal, o tribunal critica o presidente Rui Moreira em pontos que nós consideramos fundamentais e que também criticamos. O tribunal dá razão à CDU. Rui Moreira fez o que não devia e que legalmente não podia, que foi passar uma procuração em nome da Câmara para negociar com a Selminho uma resposta ao problema da empresa.

A CDU não vai fazê-lo, portanto?
Se alguém tem que pedir desculpa é Rui Moreira à CDU, porque disse que a CDU estava a fazer afirmações que não eram corretas e o tribunal considerou que eram corretas. O que considerou é que não tinha beneficiado até ao momento dos atos que praticou e que não devia ter praticado e, por isso, não lhe retirava o mandato. Mas admite que isso possa acontecer no futuro se alguma vez vier a beneficiar dos atos que praticou e que não devia ter praticado.

Acha que os eleitores do Porto o vão penalizar?
Não sei o que é que os eleitores do Porto vão fazer. De qualquer forma, essa não é a questão central.

Vão levar o caso para a campanha?
A questão que colocamos é a questão da transparência e da defesa dos direitos das populações. Ninguém pode ser beneficiado por ser membro da autarquia.

"No caso Selminho, Rui Moreira fez o que não devia e que legalmente não podia"

Geringonça à moda do Porto? Não, obrigado

À medida que a candidata e o Observador avançam em direção à Sé do Porto, a zona de Miragaia projeta-se à nossa esquerda. Ilda Figueiredo aproveita a deixa para denunciar a falta de intervenção da Câmara Municipal do Porto no encerramento do Centro Social da Paróquia de Miragaia (CSPM), uma IPSS fundada em 1961 e que emprega, atualmente, 25 trabalhadores que prestam serviço a cerca de 200 utentes em diversos domínios, como creche, pré-escolar, ocupação de tempos livres, centro de dia e apoio domiciliário.

“Toda esta zona está a ser pressionada para uma saída da população — estas pessoas recebem todos os dias propostas, assédio, ordens de despejo ou propostas de aumento exagerado de rendas que não podem pagar. A câmara, que fez alguma recuperação, tem dezenas de casas para alugar, outras alugou por preços elevados, outras vendeu, ou seja, contribuindo para o processo especulativo na zona em vez de ajudar a resolvê-lo”, denuncia a candidata comunista: “O abandono das populações é uma realidade.

As críticas de Ilda Figueiredo levam a outro tema: tendo sido Manuel Pizarro vereador com a pasta da habitação social não lhe devem ser assacadas responsabilidades? A comunista responde sem hesitar: “Naturalmente”. Rui Moreira, Manuel Pizarro e também o PSD devem ser responsabilizados. A CDU foi a única voz diferente que se opôs a tudo isto, que sempre lutou contra esta e outras situações. Como a privatização dos lixos, com o aumento das rendas nos bairros camarários, como a privatização da gestão do Pavilhão Rosa Mota, que ficou ao abandono”, enumera Ilda Figueiredo.

Traçado o diagnóstico sobre a intervenção de Pizarro na gestão da Câmara, outra questão: é possível imaginar uma “geringonça” à moda do Porto? Ilda Figueiredo não excluiu a hipótese, mas torce muito o nariz.

Se Manuel Pizarro vencesse as eleições e precisasse da CDU para governar, aceitaria participar numa solução dessa natureza?
Não faço especulação em termos de “se’s”. São os eleitores da cidade que vão decidir o que é que vai acontecer a seguir. Estamos nesta luta para, com um projeto alternativo, como a única força que fez e faz a diferença na gestão municipal, conseguir o melhor resultado possível. Depois do dia 1 de outubro, decidiremos o que fazer.

Não acha que seria benéfico para a cidade reeditar uma solução como a que existe no Parlamento?
Temos uma solução, no plano nacional, que é, de facto, diferente. Que surgiu por razões muito claras: evitar que o PSD e o CDS continuassem a governar o país, com cortes de direitos e rendimentos. Foi para pôr fim a isso e começar a inverter essa situação. No Porto, não há nenhum paralelo com isto. Aqui, tivemos uma coligação entre a direita toda e o PS. Não são situações comparáveis. O que hoje se passa na cidade é da responsabilidade de Rui Moreira e de Manuel Pizarro, do CDS, do PS e também do PSD. O que acontecer depois do dia 1 de outubro vai depender do que a população quiser.

"O que hoje se passa na cidade é da responsabilidade de Rui Moreira e de Manuel Pizarro, do CDS, do PS e também do PSD"

“O turismo na zona do centro histórico do Porto está a ser excessivo”

Com o Cais da Ribeira nas nossas costas, o carro do Observador aproxima-se agora da Sé Porto, escondida por entre o magote de turistas que pinta a cidade do Porto. A pressão que o turismo está a trazer à cidade — um diagnóstico partilhado por todos os representantes políticos no Porto — é um tema importante para Ilda Figueiredo: “O turismo na zona do centro histórico do Porto está a ser excessivo“.

Para gerir este fenómeno, os comunistas propõem uma intervenção em quatro planos: limitar o licenciamento de novos alojamentos turísticos; criar um novo roteiro para turistas, alargando-o a outras zonas da cidade; regular o trânsito no centro histórico; e avançar para um programa de reabilitação urbana que permita combater a pressão imobiliária que se faz sentir na cidade do Porto.

Passámos agora uma zona muito frequentada por turistas, a Sé do Porto. Que propostas tem o PCP pra a relação entre a cidade e o turismo?
O turismo na zona do centro histórico do Porto está a ser excessivo. Não foi regulado. E isso está a criar problemas de todo tipo: seja a pressão imobiliária especulativa para saída dos moradores, seja no campo da mobilidade, com a permanente pressão dos veículos de turismo em zonas de difícil mobilidade, seja na limpeza urbana, seja no ruído. Não há regras.

Como se equilibra esse fenómeno?
Bom, com regras. E com uma tentativa de distribuição também deste fluxo para outras zonas da cidade e nisso a Câmara pode e deve ter um papel fundamental.

Como é que se consegue fazer isso?
Como? Desde logo, a Câmara tem de estabelecer outras regras para construção e exploração de estruturas turísticas. Avaliar, estudar o assunto e fazê-lo de forma equilibrada. Em segundo lugar, também criando outros roteiros turísticos, procurando que os agentes turísticos utilizem outras zonas da cidades. Em terceiro lugar, também regulando o trânsito. Não vai poder continuar a existir este fluxo de trânsito turístico sob pena de destruirmos o que hoje é uma fonte e um chamariz para o turismo.

Além disso, o PCP tem alguns projetos de lei e de resolução que são fundamentais para a cidade. Desde logo, a reabilitação das ilhas do Porto, mais de 900 ilhas onde vivem cerca de 5 mil famílias, é único. A câmara deve reabilitar as ilhas que são públicas. E estamos a exigir que o Governo crie um programa próprio e uma entidade, que envolva também a câmara, para renegociar com os proprietários a reabilitação destas ilhas. Sempre com o compromisso de manter os moradores com as rendas sociais que eles pagam.

"O que se vive hoje é uma situação de maior degradação e abandono, mesmo sendo na zona histórica"

Manuel Pizarro tem falado muito do trabalho que tem feito na reabilitação das ilhas.
Não fez, só iniciou o trabalho numa ilha e mesmo aí não o acabou e fê-lo em condições que considero que não são recomendáveis. Não construiu o que prometeu de equipamentos sociais e coletivos de apoio à população. A exemplo do que fez nos bairros municipais. Alguma reabilitação destes bairros não incluiu os equipamentos coletivos, dos parques, dos rinques de patinagem, dos parques infantis, dos centros de convívio e lazer. Tudo isso foi ignorado, como se os moradores com carências económicas e financeiras não tivessem direito à prática da cultura, do desporto, do convívio, de espaços verdes dignos.

O que pergunto é por medidas concretas da CDU para resolver esses problemas.
As obras que são necessárias fazer.

Qual o investimento necessário?
A Câmara tem um saldo positivo de 66 milhões de euros, mais dois milhões que resultaram da extinção da fundação do centro histórico, portanto 68 milhões de euros que é lamentável que não tenham sido utilizados para tudo isto.

Porque é que isso aconteceu?
Certamente por incapacidade, incompetência e falta de objetivos claros de melhoria de condições de vida das populações. Deixar andar e logo se vê.

Também concorda com a crítica a Rui Moreira e Manuel Pizarro de terem tentado criar um Porto turístico que não corresponde ao verdadeiro?
O Porto turístico que aqui está não foi obra da câmara mas é consequência da inoperância da câmara a falta de regras e a pressão para que a população da cidade abandone ou seja obrigada a abandonar o centro histórico. Mesmo em equipamentos desta zona histórica, como sanitários ou balneários, tudo isso está encerrado ou em péssimas condições. Os próprios mercados, o de São Sebastião, na Sé, ou o mercado do Bulhão, ainda não iniciaram as obras e, durante este mandato, degradaram-se mais. As obras foram prometidas há quatro ambos mas não avançou nenhuma. E o que se vive hoje é uma situação de maior degradação e abandono, mesmo sendo na zona histórica.

Rui Moreira vs. Manuel Pizarro: “Houve uma zanga de compadres para medir forças”

As críticas à gestão de Rui Moreira e Manuel Pizarro conduzem a conversa novamente para o plano mais político. Para Ilda Figueiredo, de resto, os dois, até maio aliados estratégicos, continuam indistinguíveis. Na verdade, o divórcio entre os dois, acredita a comunista, resumiu-se a uma luta para ver quem tem mais poder na cidade do Porto. No final do dia, que é como quem diz no final das eleições autárquicas, os dois vão reeditar a aliança, prevê.

A propósito da coligação entre Rui Moreira e Manuel Pizarro, Ilda Figueiredo chega mesmo a sugerir que o socialista não tem credibilidade. “Se durante a campanha eleitoral de há quatro anos disse uma coisa e a seguir fez o que Rui Moreira/CDS quiseram, quem é que me garante agora que a seguir às eleições vai ser diferente?”, questiona a comunista.

Rui Moreira é um presidente sem obra?
Até ao momento é um presidente sem obra. É um presidente de muitas promessa, de alguns lançamentos de concursos nesta fase final, como o do Bulhão, ou o do Matadouro, ou o do Pavilhão Rosa Mota, mas para serem geridos, à exceção do Bulhão, por entidades privadas com prejuízo da cidade.

Rui Moreira defende-se dessas críticas dizendo que os mesmo que o acusam de não ter feito nada são os mesmos que durante os últimos anos governaram o Porto. Tendo participado o PCP numa solução governativa com Rui Rio, não tem também responsabilidades?
Participou quatro anos e aí, se for aos bairros e a outras zonas, vai ouvir os moradores dizerem que foi a única época em que se fizeram algumas obras de reabilitação com perspetiva inclusiva. Porque, depois disso, acabou. Mesmo alguma obra de reabilitação feita, não teve a perspetiva inclusiva. E também tive durante o meu mandato como vereadora, durante a primeira parte do ano, um pelouro de Saúde, com Fernando Gomes. Não suportou mais do que um ano essa participação.

Não foi fácil essa convivência?
A convivência foi sempre fácil, o que não foi fácil foi aceitarem que a CDU mantenha o seu projeto e só vote favoravelmente aquilo com que concorda. Essa é a diferença da posição da CDU em relação, pelo exemplo, ao acordo de gestão que Rui Moreira/CDS fez com Manuel Pizarro. O PS prescindiu da sua proposta, ou então era igual. Nunca percebi bem se escreveram uma coisa na campanha eleitoral mas afinal não era nisso que estavam a pensar.

Hoje, quando olha para os dois, já consegue ver diferenças?
Não, não consigo e nem é fácil qualquer pessoa aceitar que aquilo que está a ser dito agora de diferente relativamente ao que se passou durante quatro anos tenha alguma credibilidade.

Acha que Manuel Pizarro não tem credibilidade?
Se durante a campanha eleitoral de há quatro anos disse uma coisa e a seguir fez o que Rui Moreira/CDS quiseram, quem é que me garante agora que a seguir às eleições vai ser diferente? O que aqui houve foi uma zanga de compadres para medir forças, para ver quem tem mais votos na cidade e, depois, fazerem o rearranjo de acordo com os votos que tiverem. Espero para ver. Confio muito nos moradores e população do Porto, eles é que têm de decidir, avaliando todo este processo.

O que seria um bom resultado para si?
O reforço da votação na CDU. É o grande desafio que está aqui para os moradores do Porto defenderem a cidade, a identidade do Porto, para fazer a diferença na gestão municipal. Uma gestão transparente que dê prioridade às pessoas e resolução dos problemas.

"O que aqui houve foi uma zanga de compadres para medir forças, para ver quem tem mais votos na cidade e, depois, fazerem o rearranjo de acordo com os votos que tiverem"

“Há falta de transparência na Câmara do Porto”

Ilda Figueiredo vai repetindo a acusação sistematicamente, à medida que o carro do Observador cruza as ruas da cidade do Porto e se aproxima do seu destino final, que foi também ponto de partida — a sede do PCP. Para a candidata comunista, a Câmara Municipal do Porto tem apostado erradamente no caminho da privatização dos serviços básicos da autarquia, como a recolha do lixo ou a gestão do estacionamento, por exemplo. Ilda Figueiredo fala mesmo em “negociatas”, “falta de transparência” e “multiplicação de poderes”.

Há um problema de estacionamento na cidade do Porto?
Mais uma vez entregaram a gestão a uma empresa privada. Incluindo de zonas onde era proibido estacionar e onde agora já se pode estacionar desde que se pague à tal empresa. Com todas as consequências que isso teve para as zonas onde não há os parquímetros e que ficaram sujeitas a uma pressão acrescida. Como a zona mais antiga da cidade não tem garagens individuais, os moradores viram as as suas vidas infernizadas.

Qual é a solução do PCP?
Acabar com esta gestão privada do estacionamento na cidade. Com a situação dos parquímetros nas zonas residenciais e com os preços abusivos que estão as ser pagos mesmo em zonas centrais. Por outro lado, toda a questão da limpeza urbana. Rui Rio privatizou, com voto contra da CDU, 50% da recolha do lixo na cidade.

Foi um erro?
Foi, como está provado. Já se pagou mais de 27 milhões de euros do que aquilo que tinham dito que ia custar essa recolha, essa privatização. Mas agora a coligação Rui Moreira/CDS/Manuel Pizarro, com apoio do PSD, decidiram privatizar os outros 50%. Está lá na Câmara para ser entregue uma proposta à mesma empresa a quem entregaram a privatização dos lixos em Matosinhos. Com todo o agravamento de falta de resposta que hoje já se vive lá e ainda por cima ligada àquela pessoa que já foi objeto de problemas por causa de negócios obscuros…

Está a falar de quem?
Estou a falar daquele antigo deputado [João Sá, ex-deputado do PSD]… Isso veio nos jornais. A CDU sempre se opôs a estas negociatas, que prejudicaram profundamente os moradores, os trabalhadores municipais. A privatização e a multiplicação de empresas municipais continua a ser uma aposta do atual presidente da Câmara, com tudo o que isto implica de multiplicar pequenos poderes na câmara e transformar o Porto na cidade com maior numero de empresas municipais, não só com a entrega de serviços ao setor privado mas também com a multiplicação de pequenos poderes no interior da câmara.

Acha que há um problema de falta de transparecia na câmara do Porto?
Sim, com o agravamento da falta de transparência, com o agravamento da multiplicação de pequenos poderes, com o agravamento dos problemas que os próprios trabalhadores técnicos enfrentam na câmara. A gestão municipal tem de ser completamente diferente, transparente, com pelouros que deem resposta a questões centrais, para que associações e coletividades não tenham que andar a correr uma via sacra para resolverem os seus problemas.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR


A passagem pela zona do Campo Alegre precipita a mudança de tema. A concretização da linha de metro do Campo Alegre ligaria a cidade à zona ocidental do Porto e a Matosinhos. A Metro do Porto, que conta com a participação da Câmara Municipal do Porto, acabou por decidir avançar com a ligação entre a Casa da Música e São Bento, admitindo, tal como Rui Moreira, que o apoio financeiro disponível não permitia ir mais longe e que era a solução possível. Para a candidata a comunista, a autarquia e o Governo socialista deveriam ter feito muito mais.

Mas o atual governo conta com o apoio da CDU.
Não para todas as coisas. O PCP esteve contra e já lhe vou responder o que é que fez. Portanto, nós discordamos dessa linha que termina na Casa da Música. Nos dissemo-lo e apresentámos recentemente na Assembleia da República um projeto de recomendação ao Governo para a linha não ir para a Casa da Música, mas sim continuar da Praça da Galiza para o Campo Alegre, Massarelos até a Foz e seguir para Matosinhos. Essa proposta de recomendação foi aprovada em julho, com abstenção do PSD e do PS, portanto esperamos que o Governo tenha agora isso em conta. Quando discordamos, apresentamos alternativa e lutamos por ela. Tal como fez em relação ao alojamento local, às ilhas, às esquadras (fecharam cinco esquadras no atual mandato e até agora não abriram nenhuma).

Há um problema de segurança na cidade do Porto?
Há um problema de necessidade de policiamento de proximidade, e o encerramento de cinco esquadras contribuiu para isso. É verdade que estavam em más condições, mas não terem encontrado nenhuma alternativa de reforço do policiamento de proximidade é algo que criticamos e que estamos a bater-nos para que seja revisto o quanto antes.

O tema da segurança (ou a falta dela) na cidade do Porto tem sido um dos temas levados com alguma insistência por Álvaro Almeida, candidato do PSD, para esta pré-campanha eleitoral. Com a viagem a aproximar-se do fim, a deixa serve para dois últimos desafios: o que pensa Ilda Figueiredo de Álvaro Almeida e de João Teixeira Lopes, candidato do Bloco de Esquerda; e o que acontecerá no Parlamento se o PCP tiver um resultado desastroso nestas eleições autárquicas.

A propósito desta última pergunta, a comunista deixa uma nota: “Será possível avançar muito mais rapidamente no plano nacional se a CDU tiver um grande reforço nas eleições autárquicas de 1 de outubro”. Está feito o aviso.

Que avaliação faz da prestação de Álvaro Almeida, candidato do PSD?
Não conheço pessoalmente o candidato do PSD, mas sei que não é fácil para ele distanciar-se de uma gestão que o PSD, através dos seus vereadores e dos seus eleitos na Assembleia Municipal do Porto apoiaram permanentemente, votando todas as grandes decisões, inclusive as mais polémicas e que têm resultados negativos para a população do Porto. Por isso, sei que será difícil apresentar um projeto e as criticas aos seus próprios companheiros — eu sei que ele não é membro do PSD, mas está a dar corpo a essa candidatura, não pode recusar as responsabilidades que o PSD teve na situação que estamos a viver na cidade do Porto.

E João Teixeira Lopes?
É uma pessoa que conhecemos, eu própria tenho uma relação com ele de há muitos anos, tem uma visão de esquerda, sem dúvida, mas não é um homem que esteja na rua diariamente como estão os candidatos da CDU, na resposta aos problemas das populações e nesse conhecimento de proximidade. Mas o meu problema principal é a candidatura daqueles que são os responsáveis pelos malefícios da cidade do Porto.

Um eventual mau resultado da CDU nas autárquicas pode complicar a solução governativa que existe no parlamento?
A minha convicção é que a população vai dar um bom resultado à CDU, a resposta aos problemas da populações passa pelo reforço da CDU. Seja nas autarquia onde tem maioria, e tem em 32 municípios, seja nas muitas em que participa, incluindo juntas e assembleias municipais, a CDU é hoje uma grande força política no poder local democrático, e mesmo em termos de candidaturas municipais tem mais do que o próprio PS nestas autárquicas de 2017.

A minha convicção profunda é de que a CDU vai sair reforçada destas eleições. Porque isso é bom no plano local, onde as pessoas reconhecem que estamos numa posição de constante diálogo, proximidade, atenção e denúncia dos seus problemas, e luta pela solução, como no plano nacional, onde a intervenção e o reforço da CDU foi fundamental para inverter a política de cortes de rendimentos e direitos que o PSD e CDS estavam a fazer, sendo certo no entanto que se está a caminhar muito devagar na reposição desses direitos e rendimentos. E que será possível avançar muito mais rapidamente se a CDU tiver um grande reforço nas eleições autárquicas de 1 de outubro.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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