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Quer ser empreendedor em 2015? Conheça os conselhos dos investidores

Três dos maiores investidores de capital de risco português explicaram ao Observador quais são as tendências e dificuldades do ecossistema no próximo ano. Já começou a procurar um cientista de dados?

Investir, criar, transformar. Empreender. E contribuir para uma economia cada vez mais global. Sabe como e onde lançar um negócio no próximo ano? Ou conseguir capital para fazê-lo crescer? O Observador dá-lhe uma ajuda. Parece que o futuro das empresas está na tecnologia. Financeira, móvel, ou ligada à saúde. Pelo menos é o que dizem dois dos investidores contactados pelo Observador, Stephan Morais, administrador executivo da Caixa Capital, e Alexandre Barbosa, diretor da Faber Ventures – são ambas capitais de risco tecnológicas. Teresa Fernandes, administradora da Portugal Ventures, é mais prudente: “Acreditamos que existem boas oportunidades de investimento, desde que estejam assegurados um conjunto de ingredientes”, revela.

Ingredientes para esta receita: o caráter inovador do produto ou serviço – “valorizado pelo mercado” -, a capacidade de a empresa atuar em mercados com dimensão significativa, ambição e, acima de tudo, aquilo que a responsável chama de “empreendedores talentosos”. Ou seja, “a quem não falte a vontade e a resiliência para implementar os projetos a que se propõem, quer atuem nas áreas mais tecnológicas ou nos setores tradicionais”, revela.

“Softwares dotados de inteligência artificial, que aprendem com a utilização do programa, serão a norma”
Stephan Morais, administrador da Caixa Capital

O líder da sociedade que gere os fundos de capital de risco do Grupo Caixa Geral de Depósitos (CGD), Stephan Morais, não hesita em apontar aquilo que considera serem as “mega tendências” do próximo ano, apesar da “diversidade de progresso tecnológico atual ser avassaladora”, revela. Contudo, aponta três direções, com base nos investimentos que as capitais de risco têm estado a fazer. O destino da primeira são as empresas de software. Quais? Aquelas que pensam primeiro em soluções móveis (antes do desktop), que têm os seus produtos na nuvem, vulgarmente conhecida por cloud, que vendem o software como um serviço em si e que geram grande quantidade de dados –  big data – que podem, depois, ser utilizados internamente ou vendidos a terceiros.

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E não se fica por aqui. Para o líder da Caixa Capital, a inteligência artificial é um dos conceitos que os investidores e empreendedores vão querer reter no próximo ano. “Softwares dotados de inteligência artificial, que aprendem com a utilização do programa, serão a norma”, revela.

Alexandre Barbosa concorda. “Uma área que nos interessa muito, porque é uma linha da frente da inovação é o machine learning e inteligência artificial dentro do software. Tem a ver com a utilização de algoritmos inteligentes que vão aprendendo por si próprios a tomar decisões. É algo que existe há anos, mas que os desenvolvimentos recentes estão a permitir que sejam cada vez mais utilizados”, refere. E constata o seguinte: se há três anos não havia nenhuma startup que não tivesse um engenheiro e um designer, hoje começa a ser raro encontrar uma startup que não tenha ou não precise de um cientista de dados.

alexandre barbosa

Para Alexandre Barbosa, o “machine learning” é a linha da frente da inovação

“Hoje, isso é tão importante na construção de software digital, que o próprio segmento começa a ser uma indústria por si própria”, revela. O líder da capital de risco avança que já estão a nascer startups que oferecem o machine learning como um serviço, ou seja, disponibilizam competências de desenvolvimento de algoritmos e análise de dados, para que outras startups possam utilizá-los nos seus produtos ou serviços. “Isto quer dizer que há toda uma fileira de negócios que está a surgir, que não existia, e que vai ser crescente”, revela.

Stephan Morais chama ainda a atenção para outro segmento, que vai captar a atenção dos investidores em 2015. É aquele a que chama internet of everything – produtos ligados à internet via sensores, ou seja, produtos pessoais, domésticos, veículos e serviços que visam responder às necessidades e comodidade dos consumidores recorrendo à internet.

Por último, destaca aquela que considera ser uma “mega tendência” em “franca ascensão”: as tecnologias ligadas à saúde. E não é o único. Alexandre Barbosa, da Faber Ventures, também. Para o líder da Caixa Capital, o número de terapias, medicamentos, dispositivos médicos e diagnósticos que utilizam métodos e ciência inovadora está a transformar as perspetivas de longevidade e qualidade de vida das pessoas. “Existe um enorme investimento nesta área, o que trará mudanças sociais e culturais muito profundas nas próximas décadas”, revela.

"A área da saúde, do ponto de vista tecnológico, é uma área onde faz sentido estar atento do ponto de vista do investimento"
Alexandre Barbosa, diretor da Faber Ventures

Alexandre Barbosa, da Faber Ventures, acrescenta que o mundo tem vindo a assistir a uma “espécie de democratização do acesso à informação na saúde”. “Hoje, quando vamos ao médico, vamos muito mais informados”, revela, acrescentando que um dos próximos passos da indústria será o de relacionar as novas app ligadas ao universo da saúde às seguradoras ou aos prestadores de cuidados de saúde. “Ainda não vamos assistir a isto em 2015, mas acho que é para aí que podemos vir a caminhar. A área da saúde, do ponto de vista tecnológico, é uma área onde faz sentido estar atendo do ponto de vista do investimento”, diz.

À saúde acrescenta as finanças. A inovação tecnológica tem feito furor na área financeira, com Londres a dominar o ecossistema empreendedor Fintech (tecnologia financeira). “O que as novas tecnologias estão a permitir é um desmantelamento da cadeia de valor financeiro, eliminando taxas sobre transações, que existiam há décadas e que agora estão a ser desmaterializadas. Em vários mercados financeiros, existem negócios que estão a pôr em causa os próprios bancos”, revela Alexandre Barbosa. Para o líder da Faber Ventures, a área financeira e da saúde são as duas indústrias centrais na vida dos seres humanos. E a inovação tecnológica tem vindo a acelerar uma “transformação muito grande” nessas indústrias”, diz.

Em 2015, é preciso saber competir com os investidores internacionais

Para 2015, vários desafios. O primeiro passa pela inovação disruptiva, aquela que detém potencial para transformar uma indústria global, avança Stephen Morais. É possível distingui-la entre as milhares de opções de investimento disponíveis? “A melhor forma de se alcançar uma maior probabilidade de acertar nos investimentos certos é ter uma industria de capital de risco profissional, capacitada e com grande capacidade de investimento, o que não é o caso atualmente”, adianta o líder da Caixa Capital, para quem a especialização dos investidores é “fundamental”.

Alexandre Barbosa acrescenta que o acesso dos empreendedores ao investimento é cada vez mais global, o que faz com que seja um desafio para os investidores nacionais conseguirem colaborar ou competir com os internacionais. “Um bom empreendedor é capaz de levantar dinheiro dentro ou fora de Portugal”, revela, acrescentando que se assiste, cada vez mais, a visitas de investidores internacionais que procuram, em Portugal, boas oportunidades de negócio. “Em 2015, isso vai ser crescente, o que são boas notícias para os empreendedores”, adianta.

"Não basta passar um cheque. Não se trata apenas de dinheiro. É preciso acrescentar valor e trabalhar ao lado dos fundadores das empresas"
Alexandre Barbosa, diretor da Faber Ventures

O problema está na dimensão – ou falta dela – dos fundos de capital de risco portugueses. “Nós não temos fundo com capacidade de follow-up [seguimento das empresas] a nível internacional. Falta-nos dimensão. Temos alguns fundos portugueses, com alguma capacidade de investimento, mas acabam por se focar mais em empresas que ficam em Portugal”, diz o líder da Faber Ventures. Mas, para Alexandre Barbosa, este não é o único desafio que os investidores terão de aprender a ultrapassar. É preciso que ganhem competências técnicas.

“Não basta passar um cheque. Não se trata apenas de dinheiro. É preciso acrescentar valor e trabalhar ao lado dos fundadores das empresas, ajudá-los a lançar e a desenvolver os seus negócios. Vai ser cada vez mais importante trabalhar lado a lado. Isso vai ser um desafio”, revela. E não é o único.

O financiamento dos fundos é outras das preocupações de Alexandre Barbosa, que não hesita em dizer que em Portugal não existe uma estratégia “clara” de fundos de fundos, ao contrário do que acontece noutros países, como Inglaterra ou Espanha. E as sociedades de capital de risco precisam deles para poderem investir. “Em Portugal, apesar de haver fundos de fundos e políticas de apoio a investidores, são iniciativas um bocadinho pontuais. Não há, até à data, uma estratégia e oferta clara”, diz. Se existisse, seria mais fácil para os fundos portugueses competirem com os internacionais”, revela.

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Para Teresa Fernandes, é preciso liquidez

Teresa Fernandes, da Portugal Ventures, concorda. Um dos grandes desafios dos investidores de capital de risco é a liquidez necessária para continuarem a investir. “É fundamental ter uma indústria sustentável, isto é, capaz de gerar retorno para os investidores, para que se mantenha o interesse de continuar em investir em ativos de risco”, diz. Por isso, lembra que é “determinante” que as startups se tornem apelativas a investidores internacionais e consigam mobilizar os volumes de recursos necessários para crescerem. Mais: é essencial que também promovam saídas capazes de gerar liquidez para reinvestimento, revela.

E quais são os mercados que os investidores vão manter debaixo de olho? A administradora da Portugal Ventures adianta que compete aos empreendedores avaliar as oportunidades de crescimento, tendo em conta aquelas que são as suas vantagens competitivas. Mas não deixa de lembrar que são os mercados de maior dimensão, crescimento e rapidez de decisão que mais atraem os investidores.

Teresa Fernandes acrescenta que é preciso ter em conta que o tempo de decisão é uma variável fundamental da equação. “A pior situação que um empreendedor se poderá confrontar é perspetivar um conjunto de oportunidades vasto, mas que, dada a lentidão do processo decisório do mercado, a geração de receitas se torne incipiente para manter as necessidades de financiamento da empresa”, revela.

Para Stephan Morais, é “incontornável” que as empresas de alta tecnologia tenham uma presença nos Estados Unidos e no Norte da Europa

Alexandre Barbosa vai mais além e refere que esta é uma questão “um bocadinho bipolar para os empreendedores”. Se, por um lado, devem procurar clientes e capital naqueles que são os mercados grandes e sofisticados, como Inglaterra e Estados Unidos da América, por outro, é nos emergentes que o crescimento é mais veloz. É nos países da Europa de Leste ou da América Latina que é possível ganhar volume. A receita passa pelo equilíbrio.

Numa coisa, Stephan Morais não tem dúvidas: é “incontornável” que as empresas de alta tecnologia tenham uma presença nos Estados Unidos e no Norte da Europa. Já as aplicações direcionadas aos consumidores devem expandir-se para mercados onde os “grandes competidores americanos” ainda não tenham entrado. E à pergunta sobre se existe algum setor sobrecarregado ou com pouca margem para crescer, como o das app, responde que têm vindo a ser feitos investimentos “aparentemente acima do que seria razoável” nalguns setores de tecnologia, sobretudo nos EUA, mas que não lhe parece que esteja a acontecer algo semelhante ao que aconteceu em 2000, com a bolha da internet. “Não me parece comparável ao que aconteceu no período das ‘dot com’, mas, em todo o caso, é de esperar que haja uma redução dos fluxos de financiamento e das avaliações em áreas mais digitais, a médio prazo”, diz.

“Os mercados são cíclicos. Eu acho que não estamos a viver uma bolha na economia das app. Acho que os mercados estão quentes, a apontar para valorizações muito altas, mas não acho que estejamos aos níveis de 2000”
Alexandre Barbosa, diretor da Faber Ventures

Para Teresa Fernandes, é determinante avaliar com cuidado as áreas onde o desenvolvimento tecnológico tem sido muito dinâmico e rápido. E Alexandre Barbosa concorda com Stephan Morais: apesar de haver indícios de que é possível caminhar para uma bolha, não é comparável ao que aconteceu em 2000. “Os mercados são cíclicos. Eu acho que não estamos a viver uma bolha na economia das app. Acho que os mercados estão quentes, a apontar para valorizações muito altas, mas não acho que estejamos aos níveis de 2000”, refere. O líder da Faber Ventures considera que ainda há espaço para crescer na tecnologia, porque o setor não está saturado. “As app de hoje não são iguais às de há três anos e os serviços são cada vez mais estruturantes. O caso da Uber, por exemplo, é muito paradigmático. Está a mudar uma indústria inteira”, revela.

 “Nos últimos dois anos, Portugal teve o mérito de criar um ecossistema”

Lançar empresas em Portugal está mais fácil. Mas ainda é preciso mostrar que os produtos crescem e têm tração de mercado. “Nos últimos dois anos, Portugal teve o mérito de criar um ecossistema. Hoje em dia, qualquer empreendedor tem imensa facilidade em lançar qualquer coisa. Há estruturas de apoio, como incubadoras e aceleradoras, e em três meses consegue-se lançar uma app”, diz Alexandre Barbosa. Contudo, o líder da Faber Ventures adianta que os empreendedores têm uma série de apoios para dar o primeiro passo, mas que isso não significa que tenham uma empresa de sucesso no futuro. “É natural que muitos falhem e isso não tem nada de mal. Faz parte do processo e nós temos de mudar a nossa atitude face ao falhanço”, acrescenta.

Stephan Morais acrescenta que os empreendedores ainda têm dificuldade em levantar fundos para permitir a expansão e afirmação da empresa. “Ou seja, hoje em dia, a dificuldade não está em começar, há dinheiro e recursos, mas a dificuldade está em escalar e crescer”, revela. Contudo, adianta que, em 2014, houve grandes progressos no ecossistema português: mais capital para começar, algumas empresas conseguiram entrar em mercados internacionais, levantar e concorrer “de igual para igual” com empresas estrangeiras. “Em Portugal, começa a haver uma massa crítica considerável de empreendedores, tecnologia e ciência aplicada à inovação”, revela.

"Foi importante algumas startups começarem a ganhar notoriedade em meios de grande reputação internacional"
Teresa Fernandes, administradora da Portugal Ventures

Teresa Fernandes concorda. Para a administradora da Portugal Ventures, 2014 foi um ano importante para começar a dar visibilidade internacional ao ecossistema português. “Foi importante algumas startups começarem a ganhar notoriedade em meios de grande reputação internacional”, refere, dando o exemplo da portuguesa Codacy, que venceu a categoria de melhor pitch no Web Summit, em Dublin, uma das maiores conferências de tecnologia do mundo. E não se fica por aqui. Fala da Veniam, que conseguiu levantou cerca de cinco milhões de dólares, junto de investidores internacionais, da FiberSensing e da AnubisNetworks, que foram adquiridas por uma empresa alemã e a por uma norte-americana. “Estas aquisições são o reconhecimento internacional do talento português e das excelentes oportunidades de investimento que existem em Portugal”, revela.

É por isso que Alexandre Barbosa não hesita para dizer que uma das grandes dificuldades de 2015 tem, precisamente, a ver com talento. Como reter as boas ideias e as boas equipas em Portugal? “Se os nossos engenheiros são tão bons como os melhores, tal como os nossos gestores e designers, então têm de ser pagos como os melhores. Tem de haver capacidade de reter as pessoas não só em termos de salários, como de benefícios”, revela. Pode o dinheiro andar de mãos dadas com o talento?

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