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O plano de recuperação de rendimentos de António Costa vai ter resultados?

Esta é A pergunta: a esquerda está convencida de que a resposta é afirmativa; a direita (e algumas vozes minoritárias do PS) têm muitas dúvidas e apostam na negativa.

Por partes: segundo o PS, a devolução mais rápida de salários e pensões leva ao aumento de rendimentos das famílias, que vai animar o consumo, dinamizar a economia e ajudar a criar mais emprego. É uma profissão de fé que não deixa espaço para plano B: se as coisas correrem mal e as famílias apostarem na poupança em vez de no consumo, não haverá margem no orçamento para nova tentativa.

Esta via escolhida por António Costa tem sido vista com alguma desconfiança em Bruxelas, que teme que o alívio dos cortes comprometa as contas públicas, ou seja, a progressiva correção do défice que o país vinha a fazer. Já foram dados alguns avisos e está para breve a entrega do Orçamento do Estado, que pelas novas regras, tem de ser aceite por Bruxelas. O primeiro-ministro português terá espaço para aplicar a política que pretende, mas não terá tolerância para o falhanço.

Dias antes do natal, um estudo da Comissão Europeia avisava Portugal que não tinha margem para um orçamento que aumente despesa e reduza receita. Junto dos mercados, as primeiras medidas do Governo PS arriscam-se a ser vistas como uma política expansionista, embora o próprio António Costa se esforce por garantir que a consolidação orçamental é uma prioridade. Só o Orçamento do Estado para 2016, quando for conhecido, poderá dissipar as dúvidas.

A direita aponta uma crítica óbvia: que o aumento de consumo implica sempre um desequilíbrio da balança comercial, porque vai obrigar ao aumento das importações. E isso traz riscos acrescidos para uma economia ainda instável como a portuguesa, que precisa de apresentar números limpos para continuar a merecer a confiança dos mercados e, especialmente, dos céticos parceiros europeus. Num cenário problemático, pode mesmo ter de ser a direita a resolver: um orçamento retificativo em agosto ou setembro será sempre de austeridade e só pode passar com apoio do PSD e muita diplomacia a partir de Belém.

 

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A banca portuguesa vai precisar de mais apoio?

O ano começa com a mudança das regras de resolução bancária a nível europeu, ou seja, a forma como se lida com problemas de capital em bancos. A 1 de janeiro começou a funcionar o Mecanismo Único de Resolução, que corresponde ao segundo pilar da União Bancária (o primeiro foi a supervisão e o terceiro será a garantia comum de depósitos). Mas isso não resolve os problemas sistémicos dos bancos portugueses.

O Novo Banco deverá ser vendido durante o primeiro semestre, encerrando o processo. E foi no último dia do ano que se soube que o comprador vai conservar também os créditos fiscais pelos impostos diferidos num valor próximo de mil milhões de euros. Falta saber quem comprará e o preço a que o banco vai ser vendido, já que depende do preço o nível de perdas para o sistema financeiro. Faltará também perceber o modo como BE e PCP vão reagir à venda – pistas também importantes para apurar o comportamento do elenco governativo durante o resto do ano.

O BCP está estável e tem uma boa oportunidade de aumento de quota de mercado, mas terá de enfrentar a concorrência do todo-poderoso Santander neste início de ano. A situação em Angola estará mais estabilizada com a ligação ao BPA, mas a Polónia continuará a dar dores de cabeça a Nuno Amaro – não só pela importância da operação mas porque ainda está por conhecer a solução para o problema dos créditos à habitação indexados a francos suíços que o novo governo de Varsóvia prometeu resolver.

O BPI está operacionalmente estável, mas ainda vive em processo de indefinição. Durante 2015 repetiram-se as discussões entre uma fusão com o BCP e uma tentativa de aquisição por parte do CaixaBank espanhol, dificultando a gestão por causa da indefinição em torno da estrutura acionista. O grande problema dos últimos meses foi a exposição a Angola, que era um orgulho e passou a ser uma crise graças à decisão do BCE em deixar de atribuir equivalência às instituições angolanas. O BPI já anunciou um projeto de cisão das operações africanas, mas Isabel dos Santos está contra, pelo que a instabilidade vai continuar. E a estrutura acionista vai ter de ser clarificada à força.

A Caixa Geral de Depósitos tem necessidades de capital que são conhecidas. Mas um aumento de capital por parte do Estado é difícil porque o banco já recebeu um empréstimo estatal que não devolveu ainda. As soluções serão a venda de ativos ou a reestruturação. Esta segunda solução está já em andamento, visto que está a decorrer desde o verão o Plano Horizonte. Caso seja preciso acelerar o processo de reestruturação, o governo vai ficar dividido: mesmo que o PS aceite a ideia, os apoios bloquistas e comunistas vão opor-se de forma determinada a qualquer solução que implique despedimentos.

O Montepio é uma das incógnitas de 2016. As eleições de dezembro resolveram o problema de quem manda e a redução dos prejuízos ajudou a melhorar o ciclo noticioso, mas a convicção do mercado é a de que o processo de renovação ainda não acabou. O caminho tinha sido aberto com a aprovação dos novos estatutos, em junho, como se conta neste explicador.

A outra incógnita é obviamente o Banif. Com o Santander a comer a parte viável do banco, falta saber o que se vai passar com a Naviget – o veículo que faz a gestão dos ativos a que foi aplicado um desconto de 66%. Ou seja, este veículo vai gerar mais-valias que irão ajudar a pagar o prejuízo da banca nas operações de recapitalização do Novo Banco.

Verdadeiramente decisivo para a banca em geral é a evolução da economia. O crescimento tem de se verificar e o desemprego tem de continuar a cair para que se possa dizer que os bancos colocaram, definitivamente, para trás das costas as imparidades multimilionárias que pressionaram os resultados nos últimos anos. E isto porque é certo que o ambiente de taxas de juro baixas, devido aos estímulos do BCE, vão continuar a deprimir a atividade bancária em Portugal e nos outros países da zona euro.

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Quando e onde será o próximo ataque terrorista?

No Médio Oriente o califado está a perder terreno, com grandes baixas na Síria e no Iraque. Mas isso não reduz o risco de ataques fundamentalistas como os que marcaram vários momentos no ano que passou – e que vão também marcar 2016.

O Estado Islâmico (EI) sofreu duas grandes derrotas no final de 2015. A primeira foi a queda de Ramadi e a segunda a drástica redução dos lucros provenientes do petróleo roubado. Se em 2016 cair Mosul, que é ao mesmo tempo o maior bastião de poder dos fundamentalistas e o símbolo da sua ascensão, a vitória da coligação ficará bem mais próxima.

Infelizmente, isto pouco influencia o risco de atentados na Europa e nos Estados Unidos. As células radicalizadas funcionam de forma autónoma e a ideologia está mais do que espalhada junto dos convertidos, pelo que neste momento a pergunta não é se vamos ter mais atentados mas onde e quando. A Alemanha parece estar em alta na lista de favoritos, com Berlim e Hamburgo em risco de um atentado que pode ser o mais grave até hoje no continente.

A questão de fundo, que ultrapassa fronteiras e lógicas partidárias, tem que ver com a integração das comunidades que pensam diferente na Europa e o modo como podemos evitar as ameaças ao nosso estilo de vida. Talvez não possamos, e muitos irão certamente pensar assim em 2016.

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Um referendo para partir a União Europeia?

Brexit vai ser uma das palavras do ano. David Cameron confirmou que será feito um referendo à permanência do Reino Unido na União Europeia e os resultados dessa consulta popular são imprevisíveis. O risco da saída da UE – British exit – é tremendo.

Esta consulta vai dividir a nação britânica a meio, para além de partir também o Partido Conservador. O primeiro-ministro vai defender a manutenção da relação com a UE, tentando conseguir novas concessões europeias para demonstrar aos concidadãos a boa vontade de Bruxelas, mas não parece haver grande margem negocial.

Pelo menos um terço do grupo parlamentar conservador é declaradamente anti-europeu e algumas figuras com grande destaque no partido vão alinhar pelo Brexit. Isso deixará Cameron com uma liderança fragilizada, até por causa do empenho do UKIP nesta campanha. Do outro lado estarão os setores mais progressistas da sociedade britânica, a par com os representantes dos interesses financeiros da City – que são quem tem mais a perder com uma separação entre o Reino Unido e a União Europeia. O sentimento anti-europeu tem vindo a crescer no Reino Unido e a crise dos refugiados já deixou bem à mostra a distância entre as prioridades políticas de Bruxelas e do Governo britânico. Mas o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), que beneficia os interesses britânicos e está prestes a estrear, é um argumento de peso a favor da manutenção. Outro é uma das consequência da saída: o imediato pedido de adesão da Escócia à União e o fragmentar inevitável do Reino, que deixará de ser Unido em poucos meses.

A The Economist recordou este mês que o derradeiro argumento que Cameron poderá apresentar é que uma decisão de abandonar a UE será sempre irrevogável, enquanto uma presença negociada na UE pode sempre ser reavaliada daqui a uma ou duas décadas – deixando mais opções para o futuro.

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A crise dos refugiados vai fomentar o populismo?

A Comissão Europeia já avisou para o que aí vem: podem vir bater à porta da União até três milhões de migrantes, o que vai colocar muita pressão sobre Bruxelas. É preciso lidar com a crise humanitária que continua a empurrar corpos para as ondas do mediterrâneo, é preciso criar mecanismos de acolhimento e é preciso integrar socialmente todos estes migrantes – sem pôr em causa a coesão social dos países -membros nem abrir caminho a extremismos políticos.

Quer a Frontex, entidade europeia que lida com as fronteiras e que coordena os esforços de controlo marítimo no mediterrâneo, quer a Echo, que lida com a ajuda humanitária, terão o orçamento reforçado para ações de emergência. Mas isso não é suficiente, porque o problema é logístico mas também político. Angela Merkel deu o exemplo, aceitando receber um milhão de refugiados e preparando-se para mais uma vaga em 2016 cuja fatura total passa os 17 mil milhões de euros – mas falta que as outras nações dêem passos semelhantes e aceitem os mecanismos de distribuição de refugiados que estão a ser postos em prática.

As eleições mais recentes têm mostrado que o populismo se alimenta destas crises, pelo que há um risco real de crescimento eleitoral de forças que não partilham os valores europeus. A verdade é que é importante para a Europa ter estes refugiados, mas isso não é o suficiente para acalmar os receios. Os efeitos positivos na pressão demográfica e na diversidade social estão comprovados, mas isso não ajuda a reduzir o medo que associa refugiados a atentados islâmicos e a aumento do défice público devido ao custo no esforço de acolhimento.

O facto de esta ser a segunda questão sobre o futuro da Europa neste complicador para 2016 é revelador das nuvens negras que pairam sobre Bruxelas. E isto num ano em que o poderio russo vai continuar a ameaçar a estabilidade dos vizinhos do leste europeu e em que a crise financeira ainda continua a forçar um crescimento limitado em muitas economias da zona euro.

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É Clinton que ganha?

A 8 de novembro decorre a eleição do próximo presidente dos Estados Unidos. Mas até lá muita tinta vai correr com as campanhas eleitorais, primeiro nos respetivos partidos e depois no embate entre os escolhidos.

Do lado democrata, Hillary parece ter a nomeação assegurada: está bastante à frente de Bernie Sanders nas sondagens e mostra-se cada vez mais bem preparada para a convenção de 25 de julho. Só um escândalo de grandes proporções parece capaz de afastar Hillary deste papel – e como ela é uma das figuras mais escrutinadas da América, não parece provável que se descubra agora algo novo.

Nos republicanos é o caos. Trump e Carson lideram as sondagens à vez e mostram como a política é feita de surpresas. Ainda assim, a nomeação republicana não deve ir nem para um nem para outro. A confirmar-se a queda dos populistas, o terreno fica aberto para Ted Cruz, o favorito do Tea Party que deve ganhar o Iowa. Se Marco Rubio ganhar New Hampshire, pode ser o desafiador de Cruz e abrir caminho a uma disputa surpreendente a partir de fevereiro.

Falta ver se algum deles tem capacidade para vencer Clinton. A facilidade da candidata em ceder ao discurso aparentemente mais favorável tira espontaneidade, mas garante a simpatia da maioria – o que, aliado à vantagem demográfica nos mais jovens e nas mulheres deve ser o suficiente para conquistar um terceiro mandato para os democratas. Obama também poderá ser um trunfo a jogar na campanha – desde que as sondagens confirmem a sua utilidade na captação do voto indeciso.

 

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Há vontade e capacidade para reformar Angola?

José Eduardo dos Santos já anunciou que as eleições gerais (legislativas e presidenciais) ficam para agosto de 2017, ganhando tempo para melhorar a economia e estabilizar a sociedade antes de ir a votos. Mesmo que se recandidate, o que neste momento não é certo, será já um mandato de transição do líder que fará 75 anos nesse mês.

Também por isso este ano será de grande importância: seja quem for que lidere o MPLA no momento de imprimir os boletins de voto, o país tem de estar melhor. A economia tem de se diversificar, a mobilidade social tem de existir e os serviços públicos têm de melhorar.

O orçamento para 2016 é de contenção e austeridade, muito por culpa da baixa do petróleo. Mas a crise sente-se em todos os setores. O cenário da Moody’s para o sistema financeiro angolano é assustador, com tudo a piorar: aumenta o risco dos ativos, reduz-se o lucro, o financiamento, a liquidez e o apoio governamental. E isto num ano em que é impossível prever o que se vai passar com o petróleo, que tanto pode cair para metade do preço como aumentar até 100 dólares por barril.

Um cenário de aumento do custo do petróleo serviria para salvar a economia, ainda incapaz da diversificação necessária que a livre desta dependência. Mas não resolverá os problemas de longo prazo e pode não dar folga suficiente para permitir mudanças sociais.

O maior problema de Angola é mesmo a tremenda disparidade de rendimento: uma classe média asfixiada entre uma imensa massa de pobres e um punhado de milionários que dominam o sistema político e económico, com poucas perspetivas de mobilidade social e com difíceis condições de vida. A falta de diversificação da economia angolana impede um mercado de trabalho saudável, forçando centenas de milhares de empregados a aderir à economia paralela. E com uma geração de jovens desempregados munida de redes sociais e ativismo, um cenário de protesto generalizado parecido com o das primaveras árabes não é de excluir.

No meio de tudo isto estão os 120 mil portugueses que em tempos acreditaram em Angola para fugir à crise europeia e que agora sofrem para receber – e quando isso acontece é em kwanzas e não em dólares, ficando à mercê de um mercado paralelo louco em que a moeda estrangeira custa demasiado.

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A Cimeira do Clima serviu para alguma coisa?

Aqui vai uma previsão fácil de antecipar: 2016 vai ser o ano mais quente de que há registo, ultrapassando 2015. O ano velho terminou com um clima louco que deixou o Polo Norte com temperaturas 30 graus superiores à norma e acima do ponto de fusão – tudo graças a uma tempestade estranha que empurrou ar quente para o Polo e provocou as maiores chuvas de sempre no Reino Unido.

Sob risco de catastrofismo e com a margem de incerteza associada a fenómenos climáticos, é possível antecipar algumas consequências da ação de um El Niño reforçado pelas altas temperaturas: já em janeiro, a Austrália deve enfrentar incêndios de enormes proporções e a Indonésia uma imensa seca com consequências profundas na produção agrícola. As chuvas serão ainda mais raras na África subsariana, deixando o Sudão, o Sudão do Sul e a Etiópia em crise humanitária profunda. Da América Latina vão chegar notícias de cheias que vão arrasar populações em zonas frágeis.

O primeiro semestre será mais seco do que é costume no hemisfério norte, carregando nos preços dos bens agrícolas (cuja produção vai consumir mais energia e água) e provocando estranhas tempestades dispersas. No final desse período a chuva vai finalmente chegar a áreas como a árida Califórnia, causando prováveis perturbações das áreas urbanas costeiras.

Toda esta agitação climática vai facilitar o debate sobre a necessidade de implementar as decisões da histórica Cimeira do Clima. O acordo lá conseguido tem de ser posto em prática e isso é muito mais difícil do que juntar assinaturas num papel. Vai haver mais investimento em renováveis e um aumento da litigância internacional sobre questões ambientais e climáticas, mas a economia do carvão ainda vai imperar – com as consequências que se conhecem para países como a China e a Índia.

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Vai a ciência dar mais mundos ao mundo?

Marque já no calendário: a 4 de julho a nave Juno vai chegar a Júpiter, naquela que é apenas a segunda missão dedicada a estudar o maior planeta do sistema solar. Esperam-se muitas novidades no que toca à composição da atmosfera, na existência de água à superfície e na consistência geomórfica do planeta. A NASA quer também um sucesso de marketing, pelo que teremos imagens tão espetaculares como as que se viram de Plutão em 2015.

A Agência Espacial Europeia vai responder com a primeira missão a Marte, a Exomars. Será lançada do Cazaquistão em março e seis meses depois chegará a Marte, estudando em simultâneo a atmosfera e a superfície graças a um rover (que não leva câmara incorporada).

Mas esperam-se outras novidades: dez dias antes de o ano velho terminar, já 2016 tinha começado a abrir caminho à exploração espacial. A Falcon9 da SpaceX conseguiu fazer um voo e regressar à Terra, aterrando na vertical sem problemas. O dono da empresa, Elon Musk, recebeu a chegada intacta da nave com um tweet: “Welcome back, baby”. Não é para menos: a reutilização de foguetões promete tornar a exploração espacial muito mais barata e aumentar tremendamente a frequência de missões – sejam elas de cariz científico ou comercial.

Ao mesmo tempo que empresas como a Virgin Galactic planeiam voos turísticos ao espaço a 250 mil dólares por cabeça, uma empresa da Califórnia chamada Moon Express quer explorar as riquezas minerais da Lua – onde se inclui ouro, cobalto, platina e tungsténio.

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Confirma-se o admirável mundo novo digital?

Em 2016 mais mil milhões de pessoas vão passar a ter acesso à net. Este acesso será essencialmente móvel, garantindo uma mudança por parte dos gigantes globais da web no modo como se relacionam com os clientes – que serão na imensa maioria habitantes de países em desenvolvimento e com ligações móveis na mão.

A União Europeia está a apostar decisivamente na Internet das Coisas, mas a falta de harmonia dos quadros legislativos e a disparidade na educação e no empreendedorismo limitam a coesão dos esforços – e acabam por dar aos Estados Unidos a manutenção da liderança na economia digital.

Mas o tema mais importante do ano será a insegurança digital. A adesão massiva a dispositivos móveis, a serviços de cloud e a redes sociais significa que hoje os cidadãos preservam o essencial das suas vidas online – onde estão sujeitos a violações criminosas de privacidade. No último ano demonstrou-se que nenhuma instituição está a salvo de ataques, e menos ainda estarão os cidadãos. Será fundamental investir na literacia digital para melhor preparar para os riscos e as oportunidades de uma vida digitalizada.

Há mais duas tendências digitais dignas de nota: a generalização das bitcoins e a justiça viral. Com os ganhos das bolsas a diminuir, 2016 pode também ser o ano em que a Bitcoin se torna apelativa – e entrar definitivamente no cenário dos investimentos credíveis. Para isto acontecer será necessário ultrapassar os problemas técnicos que têm dividido a plataforma e começar a chegar ao público em geral, consolidando a ainda baixa credibilidade das moedas virtuais.

A justiça popular também vai ser um problema com que entidades oficiais terão de lidar. Com a ubiquidade dos smartphones e o ativismo nas redes sociais, qualquer injustiça aparente vai tornar-se viral muito rapidamente, forçando alterações legais e mudanças de comportamentos a nível social.

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É este o ano do triunfo da economia da partilha?

São as palavras da moda na economia: empreendedorismo, economia de partilha, disrupção. Mas são também as forças que mudam a lógica da propriedade e o conceito de negócios mais globais, mais partilhados, mais tecnológicos.

A Uber continua a ser o exemplo fácil para esta economia que perturba os negócios instalados e lança novos paradigmas a que os sub-40 aderem depressa. Mas também a Airbnb se está a tornar rapidamente um fenómeno global. Ambas vão ter um ano importante: a Uber pela chegada a novos mercados e porque pode ser forçada a classificar os seus condutores como funcionários; a Airbnb por causa das crescentes críticas à segurança dos utilizadores e à insistência das autoridades locais em aplicar impostos turísticos aos operadores.

Mas há mais negócios a caminho que colocam desafios aos reguladores e a quem está instalado no mercado. Nesta área as novidades sucedem-se, provando o dinamismo da economia da partilha e do empreendedorismo de uma nova geração que aproveita o dinheiro disponível para novos negócios. Só a partir de Portugal já surgiram ideias que se estão a estabelecer internacionalmente como o aluguer de vestidos de luxo da Chic by Choice, a criação de call-centers à medida da TalkDesk ou o alojamento de universitários da Uniplaces. E também potenciais negócios inovadores em áreas como a saúde ou o secretariado.

Continuando em Portugal, a chegada da WebSummit vai colocar o empreendedorismo na boca de toda a gente – políticos, economistas e jornalistas. Mas só mesmo o dinamismo dos empreendedores, cabeças de cartaz desta nova economia, pode continuar a dinamizar a economia da partilha.

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A FIFA vai lavar a cara do futebol?

2016 tem de ser o ano da redenção, depois do ano horrível que deixou Blatter e Platini sob acusações de corrupção e efetivamente banidos do futebol. Há cinco pretendentes ao lugar de presidente da FIFA, que será escolhido a 26 de fevereiro. São eles: Ali Al Hussein, príncipe jordano com vasta experiência militar; Sheik Salman Bin Al-Khalifa, membro da família real do Barém com um currículo criticado por várias associações de direitos humanos; Jérôme Champagne, antigo diplomata francês com muita experiência na gestão futebolística; Gianni Infantino, que é o secretário-geral da UEFA; Tokyo Sexwale, ex-ministro sul-africano e empresário.

Não chega eleger caras novas, porque há muito mais trabalho para fazer: vai ser preciso cancelar ou confirmar o mundial de 2022 previsto para o Qatar e resolver os problemas de calendário que essa decisão provocou; será essencial apostar em definitivo nas tecnologias para proteger os árbitros e reforçar o espírito do jogo; vai ser preciso confirmar o investimento na promoção do futebol feminino, que tão bons sinais deu no mundial de 2015.

Mas estas são questões técnicas que uma liderança eficaz será capaz de abordar. O problema maior está na reformulação geral da estrutura da FIFA, que não está dimensionada para o negócio global que o futebol hoje representa. Essa reformulação deverá aproveitar os planos traçados por Domenico Scala, o homem que assumiu a responsabilidade pela nova configuração da FIFA. A ideia é moldar a instituição à imagem das empresas alemãs – em que um corpo governativo composto por 36 pessoas escolhe e supervisiona uma comissão executiva composta por profissionais que farão a gestão operacional e a negociação dos direitos desportivos globais.

O desafio maior será combater a entropia do sistema. Quando Scala apresentou a ideia, disse que o melhor seria que todos os atuais elementos da comissão executiva resignassem e abrissem caminho a novas personalidades sem ligação ao passado. A proposta foi recebida em silêncio e rapidamente rotulada de plano alternativo a uma transição faseada que verá a manutenção das mesmas caras durante mais um ou dois mandatos. Idealmente essa mudança estrutural poderá depois chegar às federações, que precisam de se profissionalizar também a nível nacional. Dinheiro não falta: as reservas financeiras da entidade são de 1,5 mil milhões de dólares e o próximo triénio, onde se inclui o mundial da Rússia, deve trazer lucros de mais 500 milhões de dólares.