Dia 19 de Novembro foi celebrado o primeiro dia Mundial dos Pobres, proclamado pelo Papa Francisco.

A minha primeira reflexão é que este dia é também o dia de todos nós que não temos fome nem frio, mas porque somos pobres a Amar. Na realidade todos nós convivemos lado a lado com a pobreza extrema que existe nos países fustigados pela guerra mas também debaixo de uma ponte ou num recanto da nossa cidade, e ao fim do dia dormimos quentinhos e descansados. Somos (eu pelo menos sou) pobres a Amar e o Santo Padre veio acordar as nossas consciências dizendo-nos:

Não pensemos nos pobres apenas como destinatários duma boa obra de voluntariado, que se pratica uma vez por semana, ou, menos ainda, de gestos improvisados de boa vontade para pôr a consciência em paz. Estas experiências, embora válidas e úteis a fim de sensibilizar para as necessidades de tantos irmãos e para as injustiças que frequentemente são a sua causa, deveriam abrir a um verdadeiro encontro com os pobres e dar lugar a uma partilha que se torne estilo de vida.

Ajudar os pobres começa por parecer uma tarefa vaga: os pobres! Quem são os pobres que podemos ajudar? E como são os pobres?

Os pobres são uns do sexo feminino e outros do sexo masculino, porque os pobres não têm tempo a perder, nem dinheiro para gastar com as directivas da ideologia de género. Os pobres gostariam que o dinheiro gasto a retirar das prateleiras das livrarias livros, azuis para rapazes e cor-de-rosa para meninas, fosse gasto a socorrê-los.

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Os pobres gostariam que as cidades onde vivem dessem prioridade a encontrar soluções para eles antes de investirem em parques caninos que resolvem o problema dos cães que precisam de brincar porque os seus donos, que têm emprego, não brincam com eles durante o dia.

Os pobres gostaram da Web Summit, mas não porque apareceu lá uma robot a sorrir. Gostaram porque durante esses dias havia mais comida nos caixotes do lixo da cidade.

Os pobres são o Joaquim, a Maria, a Adelina, o José, a família Santos… Têm, como todos nós, sonhos, para si e para os seus filhos. Querem respostas para a família que sejam positivas e integradoras. Não querem que lhes digam que não tenham filhos porque são pobres.

Os pobres desesperam na velhice mas anseiam por ser acolhidos em vez de lhes ser oferecida a possibilidade de morrerem mais cedo.

Os pobres são a vergonha das nossas caras. A pobreza extrema num país evoluído revela o egoísmo da sociedade.

No dia Mundial da Pobreza a Caritas organizou uma caminhada nas ruas de Lisboa para assinalar o dia e abanar as nossas consciências. Se alguém ainda julgava que o PCP e o BE eram os partidos amigos dos pobres, estranhou não os ver ao lado da Caritas a lutar pelos pobres.

Também, que eu saiba, não estava representado o Governo. Infelizmente o nosso Governo vai vivendo cheio de preocupações sobre onde devem acontecer os eventos mediáticos que tenham um jantar no programa, sobre as revindicações dos professores que querem apagar das suas vidas os efeitos da troika, antes de ser apagada da vida daqueles que ficaram sem o que comer ou que perderam a trabalho que lhes confere a sua dignidade.

Sabemos, portanto, quem são os pobres e onde estão os pobres e o Papa vem instigar-nos que lhes demos a mão, sem desculpas, integrando-os na nossa realidade.

É sempre a partir da realidade que podemos fazer o ponto de partida para mudar. Como nos disse o Papa “Benditas as mãos que se abrem sem pedir nada em troca, sem «se» nem «mas», nem «talvez»”.

Temos que mudar! Não me dirijo aos partidos, ao Governo, ao Estado mas sim a cada pessoa. Para mudarmos precisamos apenas da nossa consciência. Estou certa que consciências disponíveis para mudar existem no Governo, no Parlamento, em todos os partidos, na sociedade em geral, por isso sou grata ao Papa por esta iniciativa e espero o melhor, não das instituições mas de cada pessoa!