Nigel Farage, o líder do partido UKIP, tinha avisado que a sua intenção para as eleições europeias era provocar um “terramoto”. Os políticos do Reino Unido acordaram esta segunda-feira e perceberam que Farage conseguiu o que pretendia. O Partido da Independência do Reino Unido venceu as eleições com 27,4% dos votos, de acordo com os resultados mais recentes, publicados pelo Telegraph, deixando em segundo lugar os trabalhistas (25,4%) e em terceiro os conservadores (23,9%).

Foi a primeira vez desde 1910 que a vitória numas eleições não foi nem para os conservadores nem para os trabalhistas e os efeitos deste choque eleitoral já se fizeram sentir por todo o espectro político britânico. Entre os Liberais Democratas (partido que faz parte da coligação com os conservadores) já se pede a demissão do líder Nick Clegg. O Partido Nacional Britânico perdeu a representação no PE e o antigo primeiro-ministro Tony Blair expressou preocupação pela vitória de Farage.

O líder do UKIP  disse que quer aproveitar a vitória nas europeias e preparar uma ameaça séria nas eleições de 2015. “Partimos no próximo ano para as eleições gerais com uma estratégia bem definida e prometo-vos isto: ainda não ouviram tudo sobre o UKIP”, disse Farage. Imaginando um cenário em que nenhum dos principais partidos consegue maioria absoluta, Farage admitiu ao Telegraph que a fragilidade das forças políticas pode colocá-lo numa posição em que detém o equilíbrio de poder.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, avisou o líder do UKIP que o sucesso nestas eleições é de curta-duração e que estes resultados não se repetirão em eleições gerais. Cameron rejeitou a hipótese de os conservadores e o UKIP se unirem num pacto e acusou Farage de querer destruir os tories: “Pelo que li nos jornais de domingo, Nigel Farage quer destruir o Partido Conservador e não trabalhar com ele, por isso acho que anda por aí um grande mito quando se diz que estamos prestes a fazer um pacto.”

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David Cameron acusou Farage de não ser apenas “um tipo normal que frequenta bares”, mas um “político consumado” e “extremamente tático”, atacando assim a imagem de homem do povo cultivada pelo líder do UKIP. O primeiro-ministro britânico lembrou as despesas de Farage em Bruxelas (o líder do UKIP foi questionado durante a campanha sobre o destino dado ao dinheiro que recebeu da UE e que devia ter sido utilizado para custos administrativos e por ter incluído a mulher na lista de pagamentos do PE).

O vice primeiro-ministro Nick Clegg afastou a hipótese da demissão, depois de uma carta com mais de 200 assinaturas – incluindo de candidatos liberais democratas às europeias – pedir o afastamento do líder. Em 2009, o Partido Liberal Democrata conseguiu eleger 11 deputados, mas depois de domingo fica reduzido a apenas um lugar. Numa entrevista à televisão Sky News, Clegg, perturbado e de olhos vermelhos, disse que o desempenho do seu partido é “de partir o coração” e “amargamente decepcionante”, mas que demitir-se neste momento seria ainda mais perturbador.

A noite de domingo foi particularmente dura para Nick Griffin, líder do Partido Nacional Britânico (PNB), que perdeu o lugar no Parlamento Europeu, foi insultado e atacado por manifestantes que lhe gritaram: “Escumalha nazi fora das ruas” e “Nick Griffin tem de sair”. Segundo o Independent, a humilhação continuou quando Griffin foi atingido na cabeça por uma lanterna utilizada pela BBC durante a emissão eleitoral. O partido de extrema-direita, que defende políticas anti-imigração, se opõe ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e se pronuncia publicamente contra o que considera a “islamificação” do Reino Unido, conseguiu apenas 1,87% dos votos, uma forte queda relativamente a 2009 quando o PNB conseguiu 6,13%.

O líder dos nacionalistas britânicos admitiu a derrota e disse que os apoiantes do PNB preferiram votar a favor das “políticas racistas do UKIP”. Griffin disse que “perdeu a conta”ao número de pessoas que lhe disseram que gostam muito do PNB mas que queriam votar no UKIP para garantir o fim da imigração e o regresso dos imigrantes a casa.

As declarações do mayor de Londres, Boris Johnson, também surpreenderam quando este descreveu aqueles que votaram no UKIP como “camponeses revoltosos” e disse visualizar um cenário de “populistas com forcas, bêbedos, cantando slogans nacionalistas e preparados para dar um chuto na máquina federal com os seus tamancos autênticos e folclóricos”.

O antigo primeiro-ministro britânico Tony Blair disse que seria insensato se os principais partidos britânicos não estivessem preocupados com a vitória do UKIP: “Quando o mundo muda com tanta rapidez ter um debate dominado pelo sentimento anti-imigração e o desejo de que o Reino Unido saia da Europa… isto não são soluções para o século XXI.” Segundo Blair a importância dada a estes temas durante a campanha eleitoral pode ser vista como uma “expressão de raiva relativamente ao que se passa no mundo, mas não é a resposta ao que se passa no mundo”.