O Estádio Municipal de Leiria, remodelado e ampliado para o Euro 2004, num investimento de 88 milhões de euros, custa à câmara diariamente 16.750 euros, estando ainda por pagar 48 milhões de euros de empréstimos, informou a autarquia.
“Aquilo que era expectável é que não tivesse uma derrapagem tão grande. Esse, realmente, é o pecado desta situação”, disse o presidente da Câmara Municipal de Leiria, Raul Castro, em declarações à Lusa, aludindo ao impacto nas contas do município da obra, cujo valor inicial era de 19,5 milhões de euros.
Em 2013, a autarquia pagou 4,6 milhões de euros de serviço da dívida relativos ao estádio. “Isto é uma forte condicionante à gestão [municipal], gostaríamos de ir muito mais longe, não tem sido possível”, declarou o autarca, eleito pelo PS, admitindo que o “pecado” está a “penalizar os leirienses durante anos e anos”.
Foi por isso, que, em dezembro de 2009, dois meses após ter sido eleito pela primeira vez presidente, Raul Castro admitiu vender o Estádio Municipal Magalhães Pessoa, o que tentou concretizar, dois anos depois, numa hasta pública com um preço base de 63 milhões, que ficou deserta.
“Temos de estar abertos a tudo aquilo que forem oportunidades e se elas acontecerem só temos é de ponderá-las, refletir amplamente sobre elas e, depois, os órgãos competentes decidirão qual é o melhor caminho”, respondeu, quando questionado se coloca a hipótese de realizar nova tentativa de venda do recinto.
Nessa hasta pública não entrava uma parte do topo norte, área do estádio que está, ainda, por acabar. “Não temos solução. Tentámos, por mais do que uma vez, ir junto de investidores, tentando rentabilizar o topo norte. Não tem sido fácil”, reconheceu, considerando que a “crise” tem dificultado a busca pela solução.
Mais de dez anos volvidos sobre a remodelação do estádio que, com juros, superou os 100 milhões de euros, a sua rentabilidade parece ser um dos maiores desafios do executivo municipal, que continua a “sensibilizar” grandes investidores.
Hoje, o estádio é a casa de várias associações e clubes — incluindo da União de Leiria e da Juventude Vidigalense, terceira classificada nos campeonatos nacionais da I divisão de atletismo em masculinos e femininos.
Além de provas nacionais e europeias de atletismo, este ano o estádio acolheu um jogo da seleção nacional e a final da Taça da Liga, tendo recebido, também, os concertos de Xutos & Pontapés e Silence 4.
Raul Castro destacou o “aproveitamento, sempre que possível, de grandes eventos”, apesar de “esporádicos”, considerando que, embora não permitam “grandes receitas ao património municipal”, contribuem para “alavancar a economia local”.
“Mas é difícil que se traduza em dinheiro, para minimizar os custos que temos com o estádio”, admitiu. O custo diário do município com o estádio referente a empréstimos foi, em 2013, de 12.627 euros, mais 4.123 euros de gestão corrente.
Eventos empresariais, ações de formação profissional ou festas académicas estão entre as iniciativas que o estádio recebe recorrentemente. Segundo a câmara, nestas ou noutras atividades, o estádio movimenta diariamente uma média de 300 pessoas.
O presidente do município acredita que o estádio pode ser rentável com o “fenómeno do futebol” se o clube da cidade regressar à I Liga, sublinhando, contudo, a necessidade do “apoio massivo” da população.
Notando ter havido um “divórcio” entre clube e a cidade, mas também um “distanciamento” em relação ao recinto, influenciado pelo seu custo, Raul Castro acrescenta que não gostaria de acabar o segundo mandato sem resolver o “problema” do estádio.