Era outubro. Enquanto passeava como uma amiga, Grace Brown ouviu-lhe uma confissão: a história de como tinha sido violada quando era mais nova. Não foi a primeira vez que Grace ouviu uma história assim e foi com isso em mente que, no dia seguinte, decidiu fotografar a amiga com um cartaz, exibindo uma citação do seu violador. Uma semana depois, resolveu publicar a fotografia na internet. Pouco depois a imagem foi partilhada pela escritora feminista Jessica Valenti, expondo o projeto a uma nova e maior audiência. E foi assim que surgiu o Project Unbreakable.

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A primeira fotografia tirada por Grace, em outubro de 2011.

Unbreakable cresceu depressa. Apenas três meses depois da publicação da primeira fotografia, Grace já recebia centenas de emails todas as semanas, dos quatro cantos do mundo. Os emails traziam mais do que uma imagem — traziam uma história. Eram uma forma de se libertarem de um segredo.

As respostas que recebeu de todo o mundo fizeram com que se apercebesse da verdadeira dimensão do que fez. O objetivo inicial era simplesmente alertar para questões relacionadas com o abuso sexual. Grace sentia que havia pouca discussão em torno do assunto e, enquanto fotógrafa, achou que a fotografia seria uma boa maneira de iniciar a discussão. Mas depressa descobriu que as fotografias que tirava tinham uma missão muito mais importante: eram uma maneira de ajudar as vítimas a superar o trauma da sua violação e a iniciar um processo de cura.

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Quase três anos depois da sua criação em 2011, o projeto já reúne mais de três mil fotografias de vítimas, segurando cartazes com uma citação do agressor, à semelhança da primeira que colocou. As imagens são tiradas por Grace, mas também submetidas pelas vítimas através de um endereço de email e colocadas no Tumblr.

O processo de retratar uma vítima é sempre diferente. Algumas acabam por contar a sua história, mas a maioria entra e sai em silêncio. É marcado um dia e uma hora, é escrito o cartaz e Grace tira a fotografia. São apenas 15 minutos que, para muitos, podem parecer insignificantes, mas que têm um grande impacto na vida dos sobreviventes. Prova disso é a página de testemunhos do site. Nela, dezenas de participantes contam de que forma é que o Project Unbrekable mudou as suas vidas.

“Houve algo de muito intenso em estar em frente ao oceano a segurar um cartaz, basicamente a dizer ao mundo que não conseguia continuar em silêncio.” — Jessica

Mais recentemente, o projeto ganhou uma nova dimensão. Há dois anos, Grace começou a dar conferências de universidade em universidade, em conjunto com Kaelyn Siversky, diretora executiva do Project Unbreakable. Essas apresentações têm como objetivo não só divulgar o projeto, mas também discutir alguns temas relacionados com o abuso sexual. São partilhadas algumas histórias e são desmentidos alguns mitos, como o facto de apenas mulheres serem vítimas de violação.

Muito mais do que um repositório de imagens e de uma forma de consciencialização, o Project Unbreakable visa encorajar um processo de cura através da arte — da fotografia. O uso das citações tem como objetivo retirar o poder das palavras que foram um dia usadas contra as vítimas. Cada cartaz é diferente, assim como a história de quem o segura. Alguns mostram apenas uma citação, outros são mensagens de apoio e esperança. A idade e o sexo das vítimas é também variada: jovens mulheres, homens, até mulheres de idade.

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Fotografia tirada em Lausanne na Suíça.

“Não interessa que idade tens, continua a existir uma grande dor associada às palavras.”

O projeto é uma forma de humanizar as estatísticas. É uma forma de mostrar que, por detrás dos números, existem pessoas de carne e osso e de mostrar a outros sobreviventes que não estão sozinhos. Que existe alguém que passou por uma situação semelhante. É uma forma diferente de sensibilização, que não recorre a chavões estatísticos e que, por isso, é muito mais forte.