Um dos acusados da autoria dos incêndios do verão de 2013 na Serra do Caramulo confessou nesta terça-feira ter ateado “cinco ou seis fogueirinhas”, durante a primeira sessão do julgamento, que está a decorrer em Vouzela. Luís Patrick e Fernando Marinho estão acusados, em coautoria, de um crime de incêndio florestal, de quatro homicídios qualificados e de 13 de ofensa à integridade física qualificada. Sobre o primeiro recai também a acusação de condução sem qualificação legal.

De manhã, Luís Patrick garantiu estar inocente, negando ter andado com Fernando Marinho numa motorizada a atear focos de incêndio na serra, na noite de 20 para 21 de agosto do ano passado. À tarde, Fernando Marinho contou que, depois de ter estado com Luís Patrick e mais quatro amigos na praia fluvial a consumir bebidas alcoólicas, o colega disse que ia para casa e ele aproveitou a boleia, uma vez que viviam próximos, em Nogueira de Alcofra, no concelho de Vouzela.

No entanto, segundo Fernando Marinho, Luís Patrick não parou em casa e seguiu para a serra, por atalhos, “para não apanhar a polícia”, porque a mota não tinha seguro nem matrícula. Contou que chegaram a Castanheirinho de Alcofra e Luís Patrick parou a mota, disse que ia fazer necessidades, subiu uma rampa e depois regressou. Quando já iam de novo no veículo é que olhou para trás e viu uma coluna de fumo no local onde o amigo tinha estado. Fernando Marinho disse que depois seguiram para Lapa da Meruge, onde Luís Patrick “pegou no isqueiro e pegou fogo às ervas” da berma do estradão.

O juiz questionou-o porque não disse nada ao amigo sobre as suas atitudes, tendo o arguido respondido que tinha medo, porque ele é uma pessoa “um bocado violenta” e que até já lhe tinha batido. Mais tarde, voltaram a parar, junto às torres eólicas de Silvares, onde Fernando Marinho acendeu um cigarro e ficou com o isqueiro na mão.

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O jovem contou que Luís Patrick lhe disse “não és homem não és nada se não chegares fogo às ervas”, tendo então ele ateado “cinco ou seis fogueirinhas”, a uma distância de 10 a 12 metros umas das outras e que se vieram a juntar num só incêndio. No regresso a casa, passaram pelo local do primeiro fogo, que estava já a ser combatido pelos bombeiros, acrescentou.

O juiz questionou então se admitia ter estado envolvido nos três incêndios de que fala a acusação – Alcofra, Meruge e Silvares -, ao que o jovem assentiu. Fernando Marinho disse que se arrependeu do que fez e que até escreveu no Facebook que só lhe apetecia morrer e que tinha ódio a uma pessoa, mas não dizia quem. Referia-se a Luís Patrick. No entanto, assegurou que não foi por causa desse ódio que implicou Luís Patrick neste ato criminoso.

Para o dia de hoje tinham sido chamadas 18 testemunhas, mas apenas foi ouvida uma, José Francisco Pereira, pai da bombeira Ana Rita Pereira, que morreu a 22 de agosto quando combatia as chamas. No final, José Francisco Pereira disse aos jornalistas que o arranque deste processo lhe dá “mais força”, fazendo votos para que seja feita justiça. Além de Ana Rita, morreram três bombeiros que combateram as chamas na Serra do Caramulo e outros dez ficaram feridos. O julgamento prossegue nesta quarta-feira de manhã.