O ministro da Economia, António Pires de Lima, envolveu-se esta terça-feira numa troca de acusações acesa com o deputado socialista Paulo Campos, ex-secretário de Estado das Obras Públicas do governo de José Sócrates, durante uma audição na comissão parlamentar de Economia. Em causa estavam as declarações polémicas sobre a PT feitas pelo ministro ao Expresso no último fim de semana.

“O PS não tem condições éticas para dar lições de moral a este Governo na gestão de empresas privadas”, atirou o ministro visivelmente exaltado, acusando o governo de José Sócrates de ter interferido nas administrações públicas e de ter estado na origem da assinatura do acordo de fusão da PT com a brasileira Oi. Paulo Campos exaltou-se de seguida, dizendo tratar-se de “acusações factualmente falsas“, nomeadamente no que diz respeito à data do acordo de fusão que, diz o socialista, foi celebrado em outubro de 2013, já durante o governo de Pedro Passos Coelho.

“Se houve político que criticou a situação da PT, ele tem um nome: o meu nome”, disse Pires de Lima, lembrando que “denunciou” a situação no início de agosto e que, no dia seguinte, Henrique Granadeiro apresentava a demissão como consequência direta do escândalo do investimento de 847 milhões de euros da PT em papel comercial do Grupo Espírito Santo.

Por isso, diz Pires de Lima, “não venha o PS dar-me lições de moral a mim, que fui o único a falar”.

A troca de acusações foi intensa, ao ponto de o presidente da Comissão, Pedro Pinto, ter lembrado mais do que uma vez que “estamos no Parlamento e não numa feira”. Questionado sobre qual a posição do Governo depois das suas recentes declarações sobre a situação da Portugal Telecom, que vive um período de incerteza depois da saída de Zeinal Bava da Oi e perante a proposta dos franceses da Altice com vista à compra da operadora nacional, o ministro quis relativizar a polémica.

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“Limitei-me a manifestar a minha preocupação relativamente à PT, e não foi este fim de semana, foi ainda antes de estar no Governo, assim como o manifestei depois de estar no Governo”, disse o ministro, afirmando não perceber como é que “as demonstrações de preocupação possam fazer mal a uma empresa”.

“O que o Governo não vai fazer é o que fez o governo do PS quando se tratava de interferir em administrações públicas”, disse Pires de Lima, acusando o anterior governo socialista de ter “participado” na transferência da administração de um “banco público”, a Caixa Geral de Depósitos, para “o maior banco privado”, referindo-se ao BCP. “Lembram-se com certeza das reações do governo anterior quando foi a transferência do dr. Santos Ferreira e do dr. Armando Vara da CGD para o BCP“, disse, sublinhando que “isso este Governo não faz”.

A discussão ficou mais feia quando o ministro disse que “a decisão da entrada da PT na Oi foi uma contrapartida pela compra da Vivo” e que o “acordo de fusão foi feito nos tempos do anterior governo socialista”. Nesse momento Pires de Lima foi interrompido pelo deputado socialista Paulo Campos, que o interpelou em jeito de desafio: “Quando foi feita a fusão? Quando? Está enganado, mais uma vez mente senhor ministro”. Para o ex-governante socialista, durante o governo do PS “não havia qualquer subordinação da PT ao mercado brasileiro”. “Foi este Governo que o fez, e essa decisão foi tomada a 2 de outubro de 2013, ao contrário daquilo que acabou de dizer”, atirou Paulo Campos.

Pires de Lima disse ainda que, apesar do passado da PT e das “situações que fizeram [a operadora] chegar à situação atual”, “é tempo de virar a página”. “A PT tem hoje um novo presidente, Armando Almeida, que veio de fora do sistema, e que tem um currículo invejável”, disse o ministro, para quem esse é o “maior sinal de mudança e de esperança que podemos ter relativamente ao futuro da PT”. O ministro da Economia mostrou-se mesmo disponível para receber e reunir com a comissão de trabalhadores da operadora, numa tentativa de mostrar que pretende continuar a atuar como parceiro da PT em investimento no mercado português. Mas “sem interferências abusivas do Estado”, atirou, sublinhando o recado para o PS.