No dia 24 de agosto, Will Pooley, um enfermeiro britânico de 29 anos regressou a Londres depois de ter contraído o vírus do ébola enquanto tratava doentes na Serra Leoa. Nessa altura, a doença já tinha provocado a morte a 1400 pessoas. Atualmente, estima-se que o número ultrapasse os 4500 mortos. Pooley foi tratado no Royal Free Hospital em Londres com um medicamento experimental, o ZMapp, e recuperou totalmente.

Agora, voltou à Serra Leoa. O enfermeiro britânico deve aterrar em Freetown na noite deste domingo e regressar ao trabalho na unidade de isolamento para doentes contagiados pelo vírus já na segunda-feira. Will Pooley decidiu regressar, apesar das preocupações da família e amigos, porque diz não conseguir assistir parado e com indiferença à morte de mais pessoas. “Da primeira vez escolhi ir porque era a atitude correta na altura. Continua a ser a atitude correta agora”, disse ao Guardian.

Apesar de se presumir que a mesma pessoa não pode contrair ébola duas vezes, não há dados científicos que o provem. Antes de partir, Pooley foi avisado de que continua a correr riscos. “Disseram-me que muito provavelmente estarei imune, pelo menos no futuro mais próximo e para esta estirpe do ébola. Mas também me disseram que é possível que isto não aconteça e que devo agir como se pudesse ser novamente contagiado”, disse ao jornal britânico.

Pooley vai fazer parte de uma equipa de dez pessoas liderada pelo médico Oliver Johnson, que está na Serra Leoa desde 2013. Quando em maio o ébola chegou ao país, Johnson tentou conter a epidemia, que rapidamente se descontrolou. Nessa altura, o médico trabalhou com o Governo para criar um centro de comando contra o ébola em Freetown, como escreve o Guardian. “Ainda bem que o Will decidiu juntar-se à nossa pequena equipa. A situação em Freetown piora todos os dias. A dedicação de Will será fundamental”, disse Johnson ao jornal britânico.

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Depois de a Organização Mundial de Saúde (OMS) ter admitido um falhanço na resposta inicial ao vírus do ébola, Pooley pensa que apesar das declarações públicas, as atitudes no terreno não mudam. “Não vejo que algo mude. Pode acontecer que nos empenhemos para travar o ébola, mas depois de a epidemia terminar, tudo vai voltar ao normal”, disse Pooley ao Guardian, comparando esta situação à forma como são encaradas outras doenças no continente africano. “Olhemos para a malária, por exemplo. Há centenas de milhares de pessoas a morrer de malária em África todos os anos. Se isso acontecesse aqui [no Reino Unido] seria um escândalo. Mas acontece lá. Ninguém quer saber. Penso que isto é terrível, mas é a realidade”, continuou.

E com o regresso ao continente africano, Pooley espera desviar as atenções que têm caído sobre ele desde que se tornou o primeiro britânico a contrair a doença. O enfermeiro tem sido presença constante nos meios de comunicação e em conferências sobre o ébola, testemunhando sobre o que viu na Serra Leoa.

Pooley pediu aos meios de comunicação para fazerem reportagem nos países mais afetados pelo ébola, divulgando fotografias que mostrem ao público aquilo que realmente está acontecer e “quão má está a situação”. Talvez assim os Governos se sintam pressionados a aumentar a presença no terreno, espera. O enfermeiro fez ainda um apelo aos seus colegas, profissionais de saúde, uma vez que são necessários cerca de 2000 médicos e enfermeiros nos hospitais africanos.

Antes de regressar à Serra Leoa, Will Pooley doou 1,2 litros de plasma para ajudar a OMS na pesquisa de uma terapia que use o plasma convalescente. Antes, o enfermeiro britânico esteve nos EUA onde deu três litros de sangue para os mesmos fins. Pooley cedeu também glóbulos brancos.