Já se sabia que a Convenção do Bloco de Esquerda ia ser disputada, depois de Pedro Filipe Soares, atual líder parlamentar bloquista, ter desafiado a liderança de João Semedo e Catarina Martins com a apresentação de uma moção política concorrente. O que não se sabia é que fosse tanto. A eleição de delegados à IX Convenção do BE, que decorreu entre sábado e domingo em Lisboa, deu uma vantagem de seis delegados à moção desafiadora: 262 delegados eleitos pela ala de Pedro Filipe Soares, contra 256 delegados eleitos pela ala dos atuais coordenadores. Por um voto se ganha, por um voto se perde, mas a menos de uma semana do veredicto é agora que começa verdadeiramente a contagem de espingardas.

É que na equação entram ainda outras três moções e duas plataformas políticas locais. Mas se as primeiras não devem dar votos nem à moção da atual direção, nem à moção de Pedro Filipe Soares – votando nos seus próprios projetos -, o mesmo não se pode dizer das plataformas locais, que não apresentaram formalmente uma moção de orientação política e por isso têm de direcionar os votos. Ou seja, serão estes nove delegados – dois eleitos pela plataforma da Moita, e sete pela de Famalicão – que podem fazer a diferença.

Dirigentes do Bloco contactados pelo Observador admitem mesmo a hipótese de um empate técnico. Concordando que seis delegados não chegam para garantir vantagem, a ideia que reina é de que “tudo está em aberto”. A verdade é que, se a eleição de delegados fosse estanque, a vitória da lista de Pedro Filipe Soares seria quase certa, ainda que à tangente. Mas há um conjunto de fatores a ter em conta na contagem das cabeças:

  • primeiro, os debates que vão ocorrer no seio da convenção vão ser precisamente para ‘convencer’ os delegados bloquistas e, por isso, pode haver uma pequena percentagem de delegados que mude o sentido de voto;
  • depois, o voto é secreto, o que ajuda a essa mudança de ideias;
  • os ausentes, ou faltosos, também vão ser importantes, já que há sempre um ou outro caso de delegados eleitos que acabam por não poder comparecer. E nesse sentido, a moção (das duas maioritárias) que registar maior número de comparências, ganha pontos.

As restantes moções políticas que vão estar a concorrer para os órgãos de direção do Bloco elegeram um total de 87 delegados: a moção B, “Refundar o Bloco na luta contra a austeridade” elegeu 44, a moção R, “Reinventar o Bloco”, 38, e a moção A, “Uma resposta de esquerda”, elegeu oito. Poderiam estar aqui potenciais desviantes para uma das duas moções maioritárias, ou até alianças entre moções para favorecer uma das duas candidatas à vitória, mas esse não é um cenário provável, dizem fontes contactadas pelo Observador.

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À agência Lusa, o representante da moção B recusou a ideia de fazer acordos que favoreçam a vitória de uma das duas listas maioritárias na disputa pela liderança do partido. João Madeira reiterou que a moção B vai apresentar uma lista própria à Mesa Nacional e que, por isso, os votos vão para este projeto político. Admitindo que a eleição dos delegados antecipa uma “grande divisão” na IX Convenção do BE, o dirigente bloquista acredita, no entanto, que isso não é “necessariamente negativo”, uma vez que tem de forçar entendimentos pós-Convenção, onde as “minorias” também terão de estar representadas.

Mas isso ainda está em aberto. O que fazer depois de eleita a moção vencedora? Qualquer que seja a lista que vença terá, certamente, uma vitória à tangente, o que reforça a ideia defendida por muitos dirigentes de que tem de haver proporcionalidade na representação das várias listas na Mesa Nacional. Mas também isso está em aberto, já que foi feita uma proposta de alteração estatutária para introduzir a proporcionalidade obrigatória, que também será votada na Convenção.

De uma maneira ou de outra, com ou sem proporcionalidade na representação das várias alas na futura direção bloquista, vai ser importante perceber em que estado de (in)governabilidade fica o partido no cenário pós-convenção e de preparação para as legislativas de 2015. Se mais em… bloco, se cada vez mais separado.